A Trilogia Atlas Shrugged

Assisti nos últimos dois dias à Atlas Shrugged Trilogy — a primeira tentativa séria de colocar o livro Atlas Shrugged (A Revolta de Atlas), de Ayn Rand, em filme. A série saiu aos pedaços, gravados em momentos diferentes (2010-2011, 2012 e 2014), e, o que é pior, com atores diferentes em cada Parte — sem qualquer repetição no elenco. Esse fato em si já teria sido suficiente para que eu não gostasse da Trilogia.

É verdade que o livro é dividido em três partes claramente marcadas (cada uma delas com dez capítulos) e isso sugere que uma série em três partes seria razoável. Para cada uma das três partes haveria um título, que corresponderia aos três princípios básicos — às vezes chamados de as três leis — da Lógica: “Não-Contradição” (“Non-Contradiction”), “Ou Um, Ou Outro” (“Either-Or“), e “A é A” (“A is A“). [O título de cada parte é, na realidade, Atlas Shrugged (A Rebelião de Atlas), The Strike (A Greve) e Who is John Galt? (Quem é John Galt?), respectivamente].

Voltando aos três princípios básicos da Lógica, eles podem ser nomeados e descritos de forma mais inteligível da seguinte forma, que os descreve quando aplicados à Espistemologia (Teoria do Conhecimento):

  • Nenhum enunciado pode ser verdadeiro e falso simultaneamente [Princípio da Não-Contradição];
  • Todo enunciado ou é verdadeiro ou é falso, não existindo uma terceira alternativa [Princípio do Terceiro Excluído];
  • Um enunciado verdadeiro será sempre verdadeiro, e um enunciado falso será sempre falso [Princípio da Identidade].

Os princípios em questão podem, quando aplicados à Metafísica / Ontologia (Teoria da Realidade / do Ser), ter uma redação um pouco diferente:

  • Nenhuma entidade pode ser e não ser ao mesmo tempo [Princípio da Não-Contradição];
  • Toda entidade ou é ou não é, não existindo uma terceira alternativa [Princípio do Terceiro Excluído];
  • Uma entidade é o que é, e não uma outra coisa [Princípio da Identidade].

No entanto, a Trilogia não faz menção a esses três princípios, enquanto tais, mas suas três Partes de certo modo representam os três princípios.

Na Primeira Parte, Dagny Taggart é confrontada com duas visões de mundo: a visão de um mundo alicerçada na liberdade individual e a visão do mundo focada na coletividade dirigista. Fica-lhe evidente, na Primeira Parte, que essas duas visões de mundo não podem conviver, e, que, mais cedo ou mais tarde, uma delas vai prevalecer e a outra desaparecer.

Na Segunda Parte, Dagny Taggart tenta encontrar uma “Terceira Via” que lhe permita, sem abrir mão de seus princípios, acomodar-se a um mundo que adota a visão do mundo alternativa, convicta de que será capaz de alcançar a vitória, se as pessoas apenas forem racionais… Não dá certo.

Na Terceira Parte, Dagny Taggart se convence de que é preciso abandonar o mundo à sua própria sorte e remover dele sua presença, sua competência, e sua atividade — mas ainda tenta uma última cartada… Não dá certo. O mundo que em que ela nasceu e viveu até ali desmorona. Uma coisa é o que é, não uma outra coisa. Não dá para transformar o mundo aos poucos, de forma gradualista, piecemeal

Quem leu A Revolta de Atlas antes de ver o filme é capaz de perceber isso. Eu que já li e ouvi o livro uma dezena de vezes, no mínimo, vi isso claramente. Mas duvido que uma audiência composta de não adeptos de Rand consiga ver.

Faço um parêntese acerca da situação do Brasil de hoje…

Liberalismo ou Socialismo… Não dá para ter uma sociedade que é parte liberal e parte socialista, nem dá para criar uma sociedade que endossa um Socialismo Liberal ou um Liberalismo Social. Imaginar que é possível ser um pouco das duas coisas, pegar o melhor das duas, em convivência pacífica, é pensar utopicamente. De certo modo liberais radicais e socialistas radicais concordam. São os que não querem ser radicais ou extremistas que, de certo modo, atrapalham as coisas e retardam as medidas que precisam ser realizadas, pregando tolerância…

A solução criativa de Ayn Rand não é deixar que as duas visões mundo entrem em guerra civil e que ganhe a que for mais forte. Ela sugere que os liberais, no exercício do que resta de sua liberdade, façam greve — tirem o time de campo — e deixem os socialistas ir para o brejo. “Vamos ver quem se dana quando quem faz greve”, é o dito que ela emprega. Os liberais representam o Atlas que segura o mundo nas costas. Na hora em que eles derem de ombro, saindo de campo, o mundo socialista se autodestruirá numa antropofagia nunca vista.

Voltando aos aspectos técnicos do filme.

Usar três conjuntos de atores para representar os personagens principais (Dagny Taggart,  Hank Rearden, Francisco d’Anconia, e John Galt, no lado “do bem”, e James Taggart, Lillian Rearden, Wesley Mouch, e Mr. Thompson, no lado “do mal”) foi uma decisão desastrada.

Por que isso foi feito?

O livro The History of the Atlas Shrugged Movie Trilogy, de Joan Carter explica:

“A seleção dos atores foi um dos maiores desafios. Na maior parte das trilogias (Star Wars e Lord of the Rings, por exemplo), a sequência inteira, envolvendo as três partes, é filmada de uma só vez e as partes vão sendo distribuídas para os cinemas com certo intervalo. Esse fato permite que o conjunto dos atores permaneça constante. No caso de Atlas Shrugged, o cronograma de filmagem e os recursos disponíveis não permitiram que contratação dos atores para a primeira parte da Trilogia se desse também para as outras duas partes. Depois de gravada a Primeira Parte, os produtores não conseguiram contratar os mesmos atores para as outras duas partes. Eles já tinham assumido compromissos com outras filmagens e os produtores não acharam viável retardar a filmagem para conseguir ter a participação dos mesmos atores.” (Loc 493-499, Kindle)

Além desse problema, os atores escolhidos para a Primeira Parte (e também para as demais) estiveram longe de ser os mais adequados. John e Mr. Thomson, o Presidente dos EUA, só aparecem de fato na Terceira Parte. Mas Dagny, Hank, Francisco, para não mencionar Ragnar Danneskjöld, são inadequados em todas as partes em que aparecem. Galt, especialmente, que deveria ser o grande herói do filme, é uma total decepção. E do outro lado, também, o lado dos maus, há sérios desajustes. Na terceira parte, Francisco e John, quem deveriam ter a mesma idade parecem pai (Francisco, representado por um ator português) e filho (John). E assim vai.

Mais um problema. O livro foi escrito no final dos anos 40 e nos primeiros seis ou sete anos dos anos 50. [O livro The Journals of Ayn Rand, editado por David Harriman, afirma que Ayn Rand começou pesquisar para Atlas Shrugged em 1 de Janeiro de 1945, e começou a escrever o livro a sério, e de forma metódica, em Abril de 1946. Vide pp.389-390]. O livro foi concluído dia 20 de Março de 1957 e foi oficialmente lançado no dia 10 de Outubro de 1957 [Vide http://aynrandlexicon.com/about-ayn-rand/timeline.html%5D. Rand situa os acontecimentos “em um futuro próximo” (1957 sendo o ano base — o ano em que ela publicou o livro). Contudo na resposta a uma carta de uma fã, que lhe perguntou sobre a data dos eventos da história, Rand respondeu: “Para ser precisa, a ação de Atlas Shrugged tem lugar em um futuro próximo, digamos que cerca de dez anos na frente do momento em que a pessoa estiver lendo o livro…” [Apud Atlas Shrugged: The Novel, The Films, The Philosophy, David Kelley Editor [The Atlas Society, 2014, Kindle Edition]. Não ajudou muito, não é? Mas a dica dada é útil: as ações do livro estarão sempre no futuro em relação ao momento em que o leitor está lendo.

Ligando os dois últimos parágrafos. O ator que representou Francisco d’Anconia na Terceira Parte da Trilogia parece pai do ator que o representou na Primeira Parte. No entanto, como veremos adiante, a trama inteira leva apenas três anos e meio. Seria impossível que um ator envelhecesse tanto ao longo desse relativamente curto período.

Na Primeira Parte da Trilogia (mas não no livro) é fornecida uma data absoluta: 2017. Uma data assim absoluta, que, por exemplo, hoje já é passada, não parece corresponder ao que Ayn Rand imaginou.

A Segunda Parte da Trilogia já adota uma estratégia diferente. Informa-se a quem está assistindo o filme que a ação se passa “num futuro próximo” (usando a expressão de Rand), imagina-se que em relação ao momento em que a pessoa está vendo o filme. Mas, na Segunda Parte, logo depois de se referir ao “futuro próximo”, a ação recua nove meses, isto é, aparentemente volta para o passado — mas havendo um momento em que mais uma vez passa para o futuro. E a Terceira Parte não é situada, a não ser pelo fato de que parece ser uma sequência imediata da Segunda Parte. Mas é complicado entender as coordenadas temporais.

David Kelley, o editor e organizador do livro Atlas Shrugged: The Novel, The Films, The Philosophy, já mencionado, tenta fazer uma Linha do Temp das ações do livro, com base a várias referências colocadas por Ayn Rand no texto — para ajudar o leitor a se situar na história. Mas os tempos são só relativos, nenhum deles sendo absoluto. Vou resumir os achados de David Kelley, que foi discípulo de Ayn Rand e hoje é um conceituado Professor Universitário e empresário:

  • A ação começa num dia 2 de Setembro — de algum ano. Mesmo sem ter uma referência absoluta quanto ao ano, o dia 2 de Setembro é mencionado várias vezes, dando uma ideia da duração dos acontecimentos.
  • James Taggart, o irmão de Dagny Taggart, se casa no dia 2 de Setembro dois anos depois.
  • Em 2 de Setembro do ano seguinte fracassa a tentativa de nacionalizar a empresa principal de Francisco D’Anconia. O evento marca o terceiro aniversário do início dos acontecimentos.
  • A ação termina cerca de cinco ou seis meses depois — logo, em Fevereiro ou Março do Ano 4.

Assim sendo, a ação descrita no livro dura cerca de três anos e meio. 

Fico grato a David Kelley por ter se dado o trabalho de fazer esse cálculo porque ele nos ajuda a dimensionar o andamento da trama.

Último problema: as três partes não podem ser assistidas independentemente. Quem for assistir uma parte sem ter assistido a(s) anterior(es), fica perdido. E quem assistir as partes iniciais sem ver a(s) seguinte(s) fica com a nítida sensação de que saiu no meio do meio do filme, sem ficar sabendo como a ação terminou. Isso é frustrante.

Um Post Scriptum: O estilo dos letreiros muda de filme para filme, dando a impressão de que não foram sequer filmados pela mesma companhia… E uma coisa simplesmente ridícula, que teria feito Ayn Rand subir as paredes. Eddie Willers, o secretário de Dagny Taggart, que, no livro, é descrito como louro (vide p.624 da edição de capa dura em Inglês), no filme é representado por negros retintos).

É uma Trilogia que decepciona. Mas os fãs de Ayn Rand devem ver o filme, apesar disso. É sempre bom relembrar o enredo daquele que é, para mim, o maior romance realista jamais escrito.

Dados, retirados do site IMDB.com:

Parte I – Atlas Shrugged (A Rebelião de Atlas) – Lançado em 15/4/2011, com gravação iniciada no ano anterior, 97 min
Dagny Taggart – Taylor Schilling
Hank Rearden – Grant Bowler
James Taggart – Matthew Marsden
Francisco d’Antonia – Jsu Garcia

Parte II – The Strike (A Greve) – Lançado em 12/10/2012, 111 min
John Galt – D. B. Sweeney
Dagny Taggart – Samantha Mathis
Hank Rearden – Jason Beghe
James Taggart – Patrick Fabian
Francisco d’Antonia – Esai Morales

Parte III – Who is John Galt? (Quem é John Galt?) – Lançado em 12/9/2014, 99 min
John Galt – Kristoffer Polaha
Dagny Taggart – Laura Regan
Hank Rearden – Rob Morrow
James Taggart – Greg Germann
Francisco d’Anconia – Joaquim de Almeida

Em Salto, 8 de Janeiro de 2019. Transcrito do meu blog Chaves.Space (https://chaves.space). Revisado nos dias 9-10 de Janeiro de 2019.

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Ayn Rand e a Atividade Mental do Ser Humano (A “Mente”)

O humano ao nascer é um ser (ou uma entidade) material que tem vida – um ser material vivo.

Um ser é um ente (ens, entis, em Latim), ou seja, qualquer coisa que é, qualquer coisa que existe, qualquer coisa que faz parte da realidade.

Para materialistas, falar em “ser material” é redundância, pois faz parte da filosofia materialista a tese de que todo ser é material. Mesmo não materialistas, porém, admitem que o ser humano é uma entidade material – mesmo que, em seu âmago, seja uma entidade, digamos, espiritual.

Como material, o ser humano tem tamanho, peso e outras características (forma, cor, etc.), da mesma forma que outros seres materiais, vivos ou não. Ele é, como o diria Descartes, uma coisa extensa (res extensa), algo capaz de ocupar lugar no espaço.

Como material e vivo, o ser humano é capaz de respirar, movimentar a cabeça, os membros e até o tronco, alimentar-se (ou, no caso do ser humano, inicialmente ser alimentado), excretar a parte não aproveitada dos alimentos que ingere, exalar cheiros, sentir dor e prazer, ouvir e emitir sons (neste caso, chorar, por exemplo), ver o que se passa ao seu redor, etc. Oportunamente, ele poderá reproduzir-se. E o ser humano pode, a qualquer momento, perder a vida, isto é, morrer. Alguns, infelizmente, já nascem mortos – isto é, morrem mesmo antes de nascer.

As características do ser humano como ser vivo se assemelham bem mais às características de seres animais do que às características de seres vivos não animais, como as plantas.

Plantas nascem, respiram, movimentam-se, alimentam-se, excretam substâncias, exalam cheiros, reproduzem-se, e, naturalmente, também morrem. Pelo menos isso. Mas, tanto quanto sabemos, plantas não emitem sons (embora haja quem admita que ouvem sons), nem veem o que se passa ao seu redor, embora reajam ao tipo de ambiente que encontram. Se ainda não há, vai aparecer quem admita que as plantas possam realmente observar ou pelo menos sentir o que se passa em torno delas.

Animais, por sua vez, fazem tudo isso mas, pelo menos no caso dos animais de estrutura mais sofisticada, os ditos superiores, também são dotados de órgãos dos sentidos que lhes permitem, sem qualquer dúvida, ver, ouvir, cheirar, sentir gostos, apalpar e sentir. E, sem dúvida, são capazes de emitir sons. E sem dúvida alguma sentem (e sabem manifestar) dor e prazer – e outros sentimentos, como, por exemplo, indiferença e irritação.

Por essas e por outras é que o ser humano tem sido sempre classificado como um ser material vivo animal, tendo sido colocado (por humanos, naturalmente) sempre no topo da categoria dos animais (a subcategoria dos animais vertebrados mamíferos superiores).

Mas, desde os primórdios da filosofia, tem se admitido (por humanos, naturalmente) que o ser humano tem características especiais que o colocam à parte, numa categoria própria, dos demais seres materiais vivos animais. A razão para isso está no fato de que ele tem capacidades ou faculdades que lhe permitem realizar atividades que, tanto quanto sabemos, outros animais, mesmo bastante sofisticados em sua estrutura e em suas características, não são capazes de realizar.

Os animais de estrutura e características mais sofisticadas (os chamados superiores) podem perceber o mundo que os cerca e podem sentir. Mas, tanto quanto sabemos, esses animais não são capazes de integrar e organizar o material que percebem pelos sentidos (percepta, perceitos) e, com base nas similaridades que porventura existirem entre eles, formar entidades abstratas (concepta, conceitos). Conceitos são formados através da atividade racional de abstrair de certos grupos de perceitos características semelhantes que lhes são consideradas essenciais, pois que sempre aparecem juntas. Seres humanos são capazes de fazer isso. Os conceitos que produzem lhes permitem evocar as entidades que possuem essas características, e se referir a elas, com maior facilidade, mesmo quando elas não estão diante de seus olhos ou de algum dos outros órgãos dos sentidos seus.

Ao longo de alguns anos de vida, um ser humano típico percebe (vê, observa) pelo menos uma centena de entidades que nós, por exemplo, chamamos de mesas. Ele poderia dar um nome próprio a cada uma delas: mesa1, mesa2, mesa3, etc.  Mas não, ele pensa (reflete) e conclui que essa centena de entidades têm características comuns, sempre presentes em todas as instâncias particulares que ele observa, características comuns que lhe permitem diferencia-las de outras entidades que ele prefere colocar em categorias distintas, como, por exemplo, cadeiras, bancos e sofás. E são essas características comuns consideradas essenciais que lhe permitem definir o conceito de mesa. Entre as entidades plurais percebidas e o nome (comum, não próprio) que usamos para nos referir a elas em nossa linguagem, há uma entidade abstrata que é formada mentalmente e que é o referente desse nome.

Ou seja: o ser humano é capaz de pensar e refletir sobre os materiais concretos que lhe são fornecidos pela percepção sensorial (perceitos, percepta) e integra-lo e organiza-lo em entidades abstratas (conceitos, concepta). Ele pensa, reflete e emite juizos em cima de conceitos. A capacidade ou faculdade que lhe permite fazer isso tem sido chamada, tradicionalmente, na filosofia, de razão.

É por isso que o ser humano, além de ser material, vivo, e animal, é considerado um animal racional. Ele é capaz de pensar e refletir, e ele pensa e reflete através de conceitos. Tanto quanto sabemos, nenhum outro animal é capaz de fazer isso, o que torna o ser humano um animal pertencente a uma espécie única, a do homo sapiens – em que o termo “homo”, é bom que se diga (vai que a Dilma Rousseff resolver ler este artigo), não faz diferenciação de sexo. O ser humano é um animal racional, vale dizer, como prefere Descartes, uma coisa material viva animal que pensa, uma coisa que pensa, uma coisa pensante (res cogitans).

Por pensar e refletir, e faze-lo através de conceitos (e não diretamente através de perceitos), o ser humano acabou por se tornar capaz de, ao contemplar a realidade, também fazer escolhas (avaliar, preferir), tomar decisões e agir. Assim, o ser humano é capaz de realizar uma série de atividades que outros animais não são capazes de realizar. Essas atividades (pensar, refletir, imaginar, avaliar, preferir, escolher, decidir, agir) são geralmente chamadas de atividades mentais. Se existe uma entidade, a que possamos dar o nome de “mente”, que torna isso possível, ou se isso se torna possível simplesmente em decorrência da maior sofisticação do cérebro e do sistema nervoso central do ser humano, não vem ao caso discutir no momento. Aqui basta reconhecer que o ser humano é capaz de realizar atividades que nós, criando um novo conceito, chamamos de mentais.

(Num parêntese, podemos assinalar que o surgimento, na espécie humana, da capacidade mental de elaborar conceitos, ao longo da cadeia evolutiva dos animais superiores, apresenta aos defensores das teorias da evolução natural das espécies um desafio maior do que o representado pelo aparecimento da vida, porque aqui, no caso da “mente”, parece existir um nítido salto evolutivo único. Fim do parêntese.)

É realizando essas atividades que o homem constrói conceitos cada vez mais abstratos e sofisticados e, assim, se torna capaz de descrever e explicar a realidade. Mas mesmo os conceitos mais abstratos e sofisticados precisam ser redutíveis a materiais perceptíveis (percepta) – embora seja possível fazer conceitos de conceitos, ou abstrações de abstrações. Mas, em última instância, todas essas abstrações, mesmo as de altíssimo nível, precisam estar ancoradas em perceitos, i.e., materiais diretamente percebidos na realidade. O resultado dessas atividades é o que chamamos de conhecimento ou saber. O ser humano é, portanto, um ser cognoscente ou sapiente, capaz de conhecer a realidade.

Esta é basicamente a epistemologia de Ayn Rand, derivada em sua maior parte de Aristóteles. Por isso ela, e sua filosofia, o Objetivismo, são empiristas-racionalistas. Kant, que ela detesta, tentou juntar, para transcende-los, o empirismo e o racionalismo, ou o sensacionalismo (de sensações) material (observável, sensorial) com o idealismo (de ideias) mental, mas, no processo, concluiu que não é possível conhecer as coisas como elas são em si mesmas (Dinge an sich, noumena). Assim, satisfez-se com a conclusão de que só temos acesso às coisas que estão em nossa mente (phenomena), abandonando um lado da equação. A consequência natural do pensamento de Kant se vê em Hegel, para quem tudo é ideia (Idealismo).

Não sendo materialista, é muito mais fácil para um idealista acreditar na possibilidade de que haja seres vivos que não sejam materiais, como, por exemplo, anjos, espíritos, a alma humana, e, no limite, Deus. Esses seres, diferente dos seres vivos materiais, não ocupariam lugar no espaço nem seriam impedidos de se fazer manifestos em um determinado lugar por objetos materiais como, por exemplo, portas e paredes (ou mesmo o corpo humano, no caso da alma, que poderia sair vagando por aí e se desligaria do corpo na morte). Deus, no limite, estaria presente em todo lugar ao mesmo tempo (onipresença, ubiquidade). Por isso Ayn Rand muita vezes usa o termo “misticismo” para se referir à posição de Kant (e de Hegel). Para ela, que não abre mão do empiricamente observável, a filosofia de Kant não faz sentido, pois torna incognoscível exatamente o que mais é preciso conhecer, a realidade, propriamente dita.

Isso não quer dizer que, para Ayn Rand, o ser humano seja uma entidade dual, corpo e mente. Para ela, a mente é, no caso dos seres humanos, uma função do corpo – tanto que a atividade mental do ser humano desaparece quando ele morre – e não fica por aí, desencarnada, tentando fazer contatos de qualquer grau que sejam.

Em Salto, 14 de Junho de 2016

Ayn Rand – Artigo de J C Ismael no Jornal da Tarde de 29-07-2000

(Recebido por e-mail, na época)

Em 1991, a Biblioteca do Congresso norte-americano e o Book-of-the-Month Club promoveram uma pesquisa para saber qual o livro que havia exercido mais influência no público nos últimos cinquenta anos. Em primeiro lugar, a imbatível Bíblia. E em segundo? Algum manual de autoajuda ou um best-seller de Harold Robbins & Cia? Nada disso. O vice-líder foi o oceânico (1100 páginas) Atlas Shrugged, com cerca de dois milhões [número provavelmente subavaliado: até o final de 2009 Atlas Shrugged já havia comprovadamente vendido mais de 7  milhões de cópias *] de exemplares vendidos nos EUA desde a sua publicação, em 1957, o mesmo que figurou nas principais listas dos melhores romances do século publicadas pela imprensa de lá no fim do ano passado, entre elas a da prestigiosa revista Book Reporter. Se o leitor jamais ouviu falar neste livro ou no nome da sua autora, Ayn Rand, saiba que foi traduzido no Brasil em 1987 com o título pouco inspirado de Quem é John Galt? pela editora carioca Expressão e Cultura e reimpresso no ano passado. Outros dois, o romance A Nascente (The Fountainhead, de 1943) e a antologia de dezenove ensaios (com cinco assinados por Nathaniel Branden) intitulada A Virtude do Egoísmo (The Virtue of Selfishness, de 1964) saíram pela editora gaúcha Ortiz respectivamente em 1993 e 1991 e estão à venda nos escritórios do Instituto Liberal, cujas bibliotecas também os emprestam.

Rand não é, portanto, inédita no Brasil, embora o leitor monoglota mereça conhecer melhor as suas ideias reunidas em títulos como For the New Intelectual (1961), Capitalism-The Unknown Ideal (1966), Introduction to Objectivist Epistemology (1967), The Romantic Manifesto (1969), The New Left: The Anti-Industrial Revolution (1971) e Philosophy – Who Needs It? (1982). Mas ela sofre entre nós a injustiça de, à precária divulgação das suas obras, somar-se a indiferença da crítica. O resultado não podia ser outro: fora de um pequeno círculo de admiradores, permanece praticamente ignorada pelo grande público. Este artigo pretende estimular quem ainda tem ainda não a conhece a aprofundar-se nas suas reflexões, aqui resumidas. O clichê é antigo, mas inevitável: pode-se concordar ou não com as ideias de Rand, mas é inegável que cumprem a missão, pretendida pela autora, de provocar o leitor instruído.

A maior paixão da adolescente Alissa Rosenbaum, nascida em São Petersburgo em 2 de fevereiro de 1905, foi o cinema. Filmes mudos americanos, com seu escapismo áspero, eram o principal acesso que os russos da época tinham à cultura popular do Ocidente. Mas veio 1917, Kerensky caiu e tudo mudou. A revolução comunista barrou o acesso à ideologia democrática e passou a usar o cinema como crítica ao capitalismo e propaganda escancarada do totalitarismo, mitificando o cidadão que, mesmo expropriado dos seus bens e da liberdade de pensar, faria qualquer sacrifício pela pátria. Em fins de 1925, graduada em filosofia e história, Alissa consegue um visto para os EUA, país cuja cultura social e política a fascinavam e onde viveria até a sua morte, em 6 de março de 1982, em Nova York. Depois de curta permanência em Chicago e Nova York, já com o nome adotado de Ayn Rand, desembarca em Hollywood levando na bagagem as apostilas dos cursos de cinema feitos na sua cidade natal.

Seu primeiro emprego é de figurante no filme Rei dos Reis, de Cecil B. De Mille, de quem se aproxima. Impressionado com a sua erudição, o cineasta a contrata como consultora de scripts. No set de filmagem conhece o ator Frank O’Connor, com quem se casa. Os dois permanecem juntos até a morte de O’Connor, em 1979, apesar dos relacionamentos extraconjugais públicos de Rand [que se saiba, apenas um, com Nathaniel Branden]. A história de um deles está contada em Passion of Ayn Rand, filme para a televisão dirigido por Christopher Menaul que deu a Peter Fonda o Globo de Ouro do ano passado de melhor ator. Em 1932, Rand vende seu primeiro roteiro, Red Pawn, para a RKO, ofício que lhe propicia a subsistência enquanto trabalha em We the Living, romance de estreia e autobiográfico publicado em 1936 (seguido por Anthem, de 1938, uma distopia sobre o massacre da individualidade), onde narra as atrocidades do regime bolchevista. Levado às telas em 1942 por Goffredo Alessandrini, o filme não a satisfaz. Sete anos depois, nem a direção do grande King Vidor salva The Fountainhead (aqui batizado de Vontade Indômita) do roteiro confuso assinado pela própria escritora.

Ao voltar (definitivamente) para Nova York, em 1951, Rand ganhara o respeito da crítica e do público do seu país devido ao sucesso de The Fountainhead. Neste romance, uma espécie de ensaio para Atlas Shrugged, o arquiteto Howard Roark representa o que a autora chama de “homem ideal”, o que luta pelo primado da razão nas relações humanas. É o homem com um propósito produtivo definido, que leva o egoísmo e a dignidade profissional às últimas consequências, não relutando em dinamitar um conjunto habitacional por causa das mutilações feitas no seu projeto. Ao enfrentar o poder de uma imprensa parcial e toda espécie de vicissitudes, Roark tem consciência de pertencer à minoria constituída por pessoas que reagem a qualquer tentativa de dominação e abominam qualquer forma de conhecimento que não seja alcançado apenas por meio da razão. É que para Rand, a razão é a verdadeira ferramenta do conhecimento, e só ela permite conhecer os fatos da realidade, que é para ser percebida e não inventada, criada ou desvirtuada pela emoção. As bases do seu pensamento sistêmico, batizado de Objetivismo, começam a ser expostas neste romance provocativo que tem Camille Paglia entre os tardios e deslumbrados admiradores.

Uma das frases favoritas de Rand traduz a essência da ética Objetivista: “o homem é um fim em si mesmo”, isto é, ele nada deve sacrificar pelos outros e muito menos querer que os outros se sacrifiquem por ele. Os únicos e autênticos objetivos desse homem (personificado por Roark e, depois, por John Galt) são o exercício da liberdade e a busca da própria felicidade, inatingíveis se ele não abandonar o altruísmo, que Rand considera uma das principais causas das mazelas humanas. Para ela, a pessoa que coloca não a si própria, mas os outros em primeiro lugar, é uma “parasita emocional”. É fácil imaginar o impacto dessas ideias de colorido liberal entre os conservadores de qualquer segmento da sociedade americana, construída a partir da execração do egoísmo, visto como antítese do ideal democrático de convivência. Mas, para Rand, a democracia e o capitalismo laissez-faire, o único sistema econômico que pode ser defendido e validado pela razão, só podem ser concebidos com a valorização do primado da individualidade, o oposto do que ocorre nos regimes totalitários, nos quais as massas são manipuladas em nome de uma pretensa solidariedade altruísta entre pessoas que pensam e agem como um todo, sem um objetivo racionalmente definido.

Rand trabalhou uma década nos originais de Atlas Shrugged. Um dos grandes romances de ideias do século, como Contraponto, A Montanha Mágica, Um Homem sem Qualidades, é “pretexto” para a autora expor, ou melhor, dramatizar as suas ideias filosóficas. A história gira em torno da greve feita pelas lideranças empresariais e intelectuais dos EUA, os “atlas” cujos ombros sustentam o país, e que se vê por causa disso entregue à própria sorte (daí o título do livro). Galt, inspirador e porta-voz daquelas lideranças, é o herói raivoso que expõe as mazelas “altruístas” e injustas de uma sociedade dominada pelos “místicos” e parasitas sociais. Sua idéia de uma sociedade justa –– e utópica –– é a que oferece igualdade de oportunidade para todos. Nesta parábola sobre a luta entre as classes produtivas e criativas e a dos que vivem de pilhagem e saque, Rand pinta o painel de uma América que adia o quanto pode o encontro consigo mesma, temerosa de enfrentar um questionamento sobre os seus verdadeiros ideais, além dos atingidos pelo seu furor consumista. A saga de Galt expõe as vísceras de uma sociedade desorientada, para a qual o hedonismo é a causa primeira, e não a consequência natural dos atos humanos.

Leitora de Francis Bacon, Rand gostava de citar uma frase do filósofo inglês: “a natureza, para ser comandada, tem de ser obedecida”. Seu propósito é o de mostrar que nenhum tipo de processo mental pode alterar as leis da natureza, uma vez que o universo existe independentemente da consciência, isto é, a realidade não depende dela para existir e impor as suas leis. As implicações desta tese, cuja origem está em Aristóteles, repercutem na negação da visão religiosa e social da consciência, pois as duas distorcem, cada uma a seu modo, a realidade que, por sua natureza, só pode ser autenticamente apreendida por meio da razão, a ferramenta básica da sobrevivência do homem, enquanto a racionalidade é a sua maior virtude. As emoções, diz ela, não se prestam à cognição, já que nada dizem a respeito dos fatos, mas apenas à maneira de como elas os apreendem. O mesmo ocorre no processo do envolvimento amoroso: a verdadeira paixão não é a de uma pessoa pela outra, é a de pessoas que partilham as mesmas ideias e os mesmos ideais.

Leitora voraz, com a passagem do tempo Rand tornou-se uma crítica impiedosa dos romancistas contemporâneos, por lhe causarem “tédio mortal”. Na velhice, gostava de reler Victor Hugo, embora sua leitura predileta fossem as novelas policiais de Mickey Spillane porque “tratam o conflito entre o bem e o mal em termos de branco e preto”: para o Objetivismo a tonalidade cinzenta simboliza a inautenticidade e o irrealismo. Passa os últimos anos de vida semireclusa no seu modesto apartamento de Manhattan. Seu grande prazer é contemplar o horizonte da amada Nova York, cujo esplendor é, para ela, incomparável a qualquer outra visão que o planeta possa propiciar. Para quem a fé é a negação da razão, essa atéia coerente não olhava para o céu em busca de Deus, mas para a imponência dos arranha-céus recortados pelo crepúsculo, obras da determinação dos homens e sólidas metáforas do triunfo da razão e da racionalidade que ela passou a vida defendendo.

J. C. Ismael é jornalista e escritor.

[*] EC: ver https://ari.aynrand.org/media-center/press-releases/2010/01/21/atlas-shrugged-sets-a-new-record

o O o

Trechos de livros de Ayn Rand:

“A mente do homem é o instrumento básico da sua sobrevivência. A vida lhe é concedida, mas a sobrevivência, não. Seu corpo lhe é concedido, mas não o seu sustento. Sua mente lhe é concedida, mas o seu conteúdo, não. Para manter-se vivo, o homem precisa agir e, para que possa agir é necessário conhecer a natureza e o propósito da ação escolhida. O homem não pode obter alimento se desconhecer qual é o seu alimento e como precisa agir para consegui-lo. O homem não pode cavar um buraco ou construir um ciclotron sem conhecer o seu objetivo tanto como os meios de atingi-lo… O homem não possui nenhum código automático de sobrevivência. O que o distingue dos outros seres é a necessidade de agir, diante de alternativas, por meio de uma escolha baseada na vontade, pois ele não possui um conhecimento automático daquilo lhe é bom ou mau, de quais valores sua vida se baseia, de que curso de ação esses valores carecem… Afirma-se que o homem é um ser racional, porém a racionalidade é uma questão de opção e as alternativas que lhe são oferecidas são: ser um ser racional ou um animal suicida. O homem tem de ser homem por escolha, de valorizar sua vida por escolha, de aprender a preservá-la por escolha, de descobrir quais os seus valores legítimos e praticar suas virtudes por escolha.

“Pensar é a única virtude básica do homem, da qual todas as demais decorrem. O não pensar é um ato de aniquilamento, um desejo de negar a existência, uma tentativa de apagar a realidade. Porém, a existência existe e a realidade não se deixa apagar, mas faz desaparecer quem a nega. Quem não utiliza seu discernimento nega a si próprio. O homem que proclama: ‘quem sou eu para saber?’ está afirmando: ‘quem sou eu para viver ?’ … A felicidade só pode ser alcançada por um homem racional, o homem que tenha objetivos racionais, que só encontra prazer e alegria em atos racionais… Forçar um homem a abrir mão da sua própria mente e a aceitar em troca a vontade do outro, usando, para tal fim, uma arma, em vez de um silogismo, e o terror, em vez da discussão racional dos fatos , é tentar existir desafiando a realidade.

“Vocês querem saber quem é John Galt? Sou o primeiro homem de sucesso que se recusou a encarar o sucesso como razão para ter sentimento de culpa. Sou o primeiro a não me penitenciar por minhas virtudes, a não deixar que sejam usadas como instrumento da minha destruição. O primeiro a não querer ser martirizado pelos que desejavam que eu morresse em nome do privilégio de mantê-los vivos… Alguns de vocês jamais saberão quem é John Galt. Mas aqueles que experimentaram ao menos um momento de amor à vida e de orgulho disso, e de quando encararam a Terra e a abençoaram com o olhar, esses conheceram o estado de ser homens, e eu –– eu sou o único homem que sabia ser impossível trair esse sentimento… Sejam vocês quem forem…ainda há tempo de optar por ser homem, mas o preço é começar do início, ficar nu diante da realidade e, corrigindo um erro histórico que custou muito caro, declarar : ‘Existo, portanto vou pensar'”.

(Atlas Shrugged / Quem é John Galt?)

o O o

“Aos homens foi ensinado que ego e mal são sinônimos e o ideal da virtude é o altruísmo. O verdadeiro criador é egoísta no sentido absoluto, e o homem abnegado é o que não pensa, não sente, não julga, não age… O egoísta no sentido absoluto não é o homem que sacrifica os outros. É o que está acima da necessidade de usar os outros, seja lá como for. Ele não funciona por meio de terceiros, não se preocupa com eles, nem no seu objetivo, motivo ou pensamento, nem em seus desejos, nem na fonte da sua energia. Ele não existe para outrem e não exige que ninguém exista por ele. Esta é a única forma de fraternidade e respeito mútuo entre os homens.

“O direito fundamental é o direito do ego. O primeiro dever do homem é para consigo mesmo. Sua lei moral jamais coloca seu principal objetivo na pessoa de um terceiro. Sua obrigação moral é fazer o que deseja, desde que seu desejo não dependa, a princípio, de outros homens… O único bem que os homens podem fazer uns aos outros e a mais legitima afirmação de um relacionamento autêntico é: não se meta na minha vida… Civilização é o progresso em direção a uma sociedade onde impere o direito à privacidade. A vida do selvagem é pública, governada pelas leis da sua tribo. Civilização é o processo de libertar o homem dos homens”.

(The Fountainhead / A Nascente)

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“A tarefa da ética é definir o código de valores adequado para o homem e deste modo dar-lhe o meio de alcançar a felicidade. Afirmar, como os hedonistas éticos, que qualquer valor que lhe dê prazer é correto, equivale a afirmar que o valor correto pode ser qualquer um que você decida valorizar, ou seja, praticar um ato de abdicação intelectual e filosófica… Um ato que proclama a futilidade da ética convida os homens a agir irrefletidamente e ao acaso… O canibalismo das doutrinas hedonistas e altruístas consiste na premissa de que a felicidade de um homem implica o prejuízo de outro… A ética Objetivista afirma que o bem humano não requer sacrifício e não pode ser alcançado pelo sacrifício de ninguém, e que os interesses racionais dos homens não se chocam… É a filosofia que estabelece os objetivos dos homens e determina seu rumo, é ela que pode salvá-los. O mundo está enfrentando uma escolha: se a civilização quer sobreviver, os homens precisam rejeitar a moralidade altruísta “.

(“A Ética Objetivista”, ensaio incluído em A Virtude do Egoísmo)

Transcrito aqui em São Paulo, 11 de Junho de 2016

Valores, Moralidade, Razão e Egoísmo em Ayn Rand

Ontem transcrevi aqui um texto que escrevi, originalmente, em Agosto de 1997, sobre os “fundamentos da ética egoísta-racional de Ayn Rand”, com esse título.

https://aynrand.space/2016/06/10/fundamentos-da-etica-egoista-racional-de-ayn-rand/

Aquele texto contém inúmeras citações de Ayn Rand.

Neste texto vou retomar as ideias de Ayn Rand nas minhas palavras – embora em alguns casos seja difícil abandonar as delas. Vou seguir a sugestão de meu amigo Rubem Alves que, uma vez, num Prefácio a um livro meu, afirmou que não ia resumir minhas ideias: ia apresentar o que, depois de ingerir, mastigar e digerir o que eu havia dito, foi aproveitado por seus sistemas e se incorporou a eles.

Aqui vai.

Um valor é algo que alguém está disposto a agir ou mesmo lutar para (inicialmente) ganhar e (depois) manter.

Valores são relativos a uma pessoa (podendo variar de um para outro, o que é valor para mim podendo não ser para você, e vice-versa) ou são absolutos (sendo valores em qualquer situação, temporal ou geográfica, independentemente de quem o aceite)?

A maioria absoluta de nossos valores é meio para alguma outra coisa. Esses valores, mesmo para nós que os aceitamos, são valores instrumentais, intermediários, subsidiários, derivados. Dinheiro, para mim, que nisto sigo Aristóteles, não tem valor intrínseco, em si mesmo, mas por aquilo que me permite fazer, adquirir ou preservar. Dinheiro é meio para alguma outra coisa que eu valorizo — e, por isso, instrumental, intermediária, subsidiária e derivativamente adquire valor. Um montão de notas de cem dólares nas mãos de um índio que não saiba o que pode fazer com elas não tem valor nenhum (como dinheiro) — pode servir apenas para acender uma fogueira… (Por que mantemos uma fogueira acesa com os jornais que compramos na última semana mas não com os livros de Ayn Rand que recebemos da Amazon também nessa última semana?)

E aqui vem a questão que, para mim, é central: se não houver um valor supremo, último, final, intrínseco, objetivo, poderia haver valores instrumentais, intermediários, subsidiários, derivados? Estou certo de que não. Eu valorizo a porque a é meio para b; eu valorizo b porque b é meio para c; eu valorizo c porque c é meio para d; e assim vai. Se não houver um valor supremo, final, objetivo, z, ou ômega, que justifica (porque “ancora na realidade”) os meus valores instrumentais, etc. minha cadeia de valores fica “pendurada no ar” – algo que, como possibilidade, eu admito, mas só como possibilidade.

Um valor supremo, último, final, intrínseco, objetivo é, na minha maneira de entender as coisas, aquele valor para o qual os demais valores são meios. Eu estou certo de que, sem um valor supremo, último, etc., os demais valores da cadeia deixariam de teria valor real.

É a existência de um valor último, supremo, etc., um fim em si mesmo e não um meio para alguma outra coisa, que permite que os meios de alcança-lo se tornem valores (instrumentais, intermediários, etc.). É apenas um valor supremo, último, etc., um fim em si mesmo, que torna a existência de outros valores possível (como meios e instrumentos).

Pode haver mais de um valor último, supremo, etc., ou, em última instância, apenas um, os demais se ordenando debaixo dele como instrumentais, intermediários para ele? Essa questão é complicada. A resposta a ela determina se somos monistas ou pluralistas no reino dos valores. Vou deixa-la em aberta, porque a resposta a ela não afeta o que segue, mas vou revelar minha preferência: ela é monista – e por uma razão simples: se tivermos vários valores últimos, supremos, etc., há, potencialmente, a possibilidade de que eles conflitem entre si. E daí, ou teríamos de viver com uma contradição interna em nosso conjunto de valores, ou teríamos de tentar compatibiliza-los, em termos de um valor maior, mais último, mais supremo.. Por isso, tendo para o monismo no reino dos valores. Deixo a questão aqui. Ayn Rand também é monista.

Para Rand, o valor supremo, último final, intrínseco, objetivo, esse fim em si mesmo que é a condição de possibilidade de considerarmos outras coisas como valores (intermediários, subsidiários, instrumentais, derivados), é a nossa vida.

A noção de valor pressupõe que exista alguém que possa agir para ganhar e manter alguma coisa, ou seja, que existam seres que possam se comportar de forma a buscar e atingir um alvo, uma meta. A noção de valor também pressupõe que esse ser confronte alternativas, que existam várias e diferentes coisas que esse ser pode desejar ganhar e manter. Valores têm que ver somente com a esfera da liberdade humana, somente com aquelas ações que estão abertas à nossa escolha. Isso significa que apenas o ser humano pode ter valores.

Dado que a natureza não provê o ser humano com uma forma automática de sobrevivência, ele tem de sustentar sua vida através do seu próprio esforço, de suas próprias escolhas, de suas próprias decisões,  de suas próprias ações. O ser humano precisa agir para manter a sua vida. Se não o fizer, morre, deixa de existir. A vida só é mantida através de um processo de ação que a gera e sustenta.

O ser humano é, portanto, diariamente confrontado com a mais genuína de todas as decisões: a de continuar vivendo ou perecer, a da existência ou da não-existência, a da vida ou da morte. É por isso que precisa de valores para orientar suas escolhas, decisões e ações. E é por isso que a vida é o valor supremo: porque ela pode terminar a cada instante e, sem ela, ou na ausência dela, não faz nenhum sentido falar de valores.

O valor supremo do ser humano é, portanto, a sua própria vida. Sem ela ele não tem nenhum outro valor — na verdade, nem faz sentido falar em valor. Tudo o mais que tem valor para o ser humano tem valor intermediário, derivativo, subsidiário, derivado. O valor supremo, último, final, intrínseco, objetivo, o fim em si mesmo, é a manutenção da sua vida, porque, sem ela, nada mais existe para ele, nada mais pode ter valor. A vida é, portanto, não só o valor maior, supremo, último, final, etc., mas também o padrão de valor: aquilo que contribui (como meio) para sua manutenção, tem valor (intermediário, subsidiário, instrumental, derivativo).

A vida do ser humano (como a de qualquer outro organismo) depende, do ponto de vista material, de haver suficientes meios (alimentação, etc.) para que ele sobreviva, mas depende, também, do ponto de vista do organismo, de ele tomar as ações necessárias para se apropriar desses meios e fazer deles uso apropriado.

Em relação a muitos organismos, esse processo é mais ou menos automático: as ações necessárias para se apropriarem dos meios necessários à manutenção de sua vida são tomadas de maneira instintiva, mais ou menos automatizada. No caso de seres humanos, porém, esse automatismo não existe. O ser humano não possui um instinto de autopreservação. Além disso, ele nasce relativamente mal equipado para buscar esses meios: nu e desarmado, sem presas, sem garras, sem chifres, etc. Nasce incompetente, no sentido de que nasce sem saber, e sem saber fazer, nada. Mas nasce com uma mente que lhe dá o potencial de aprender. O ser humano não toma, automática ou instintivamente, as ações necessárias para sobreviver: ele tem de aprender a escolher, a decidir, a agir. Para isso, tem de aprender a conhecer o mundo em que vive. E a conhecer os seus potenciais, os seus poderes. Se não fizer isso, morre. O ser humano, para sobreviver, tem de conscientemente analisar as alternativas, decidir quais ações deve tomar para sobreviver, e, em seguida, toma-las.

É por isso que Ayn Rand diz que nossa capacidade de aprender, vale dizer, nossa razão, é nosso único instrumento de sobrevivência.

Por causa disso, porque o ser humano precisa conscientemente escolher entre alternativas e decidir como agir para poder sobreviver, ele precisa de valores para orientá-lo em suas decisões. E para atribuir valores às coisas, o ser humano tem de escolher um padrão de valor. A escolha racional aponta na direção de um padrão e um código de valores que sustentam a sua vida. Uma escolha irracional o leva a um código de valores que impede ou mesmo destrói a sua vida. Tudo o que é próprio à vida de um ser racional é o bem; tudo aquilo que a destrói é o mal.

Note-se que falo de “de um ser racional”. Isso quer dizer que a vida dele não consiste de mera sobrevivência: consiste, isto sim, de vida conscientemente escolhida por nós mesmos, que nos realiza, que nos torna, em última instância, felizes. É aqui que entra o conceito aristotélico de eudaimonia.

É evidente que o ser humano pode decidir não escolher o padrão objetivo de valores: a vida. Nesse caso, suas ações levarão (eventualmente) à sua destruição. Vida ou morte é a única alternativa fundamental do ser humano. Viver é seu ato básico de escolha. Se ele escolhe viver, um código racional de valores (que se torne, depois de um processo cuidadoso de reflexão, uma ética racional) lhe dirá que princípios de ação são necessários para implementar sua escolha. Se ele não escolhe viver, a natureza se encarrega de trazer-lhe a morte. Se ele escolhe não viver, ele mesmo pode, num gesto coerente, por fim à sua vida, apressar o fim de seus dilemas, conflitos, sofrimentos. Em ambos os casos, morte natural ou suicídio, não faz mais nenhum sentido falar em valores: aquilo que torna possível os valores não mais existe.

Para que possa elaborar um código de valores e, eventualmente, uma ética racional, o ser humano precisa conhecer a natureza do mundo que o cerca, a sua própria natureza e a natureza de seus meios de cognição: isto é, ele precisa responder às questões colocadas pela metafísica, pela epistemologia, e pela própria ciência, pois doutra forma não poderá saber o que fazer.

O instrumento de cognição do ser humano é sua razão: é através dela que ele integra os elementos da percepção, elabora conceitos, com eles emite juízos, e assim vem a conhecer o mundo que o cerca. Isso significa que a ética não está fundamentada, como acreditam muitos filósofos, no sentimento, nas emoções, na intuição, na fé, nos costumes sociais, tampouco na noção de utilidade ou de dever. Ela está fundamentada na razão.

Isso significa, além do mais, que a ética não é algo imposto sobre o ser humano porque ele vive em sociedade. Contra aqueles que afirmam que um código de valores e uma ética são construções sociais (necessárias porque vivemos em sociedade), e que dizem que o ser humano não precisaria de um código de valores e de uma moralidade em uma ilha deserta, Ayn Rand afirma, com convicção e com razão, que é numa ilha deserta que ele mais precisa de um código de valores, de uma moralidade, de uma ética! Como diz Ayn Rand, “Deixem que alguém pretenda, em uma ilha deserta, quando não há nenhuma vítima que ele possa espoliar, que rocha é casa, que areia é vestimenta, que alimento vai cair em sua boca sem causa e esforço, que ele vai ter uma colheita amanhã devorando seu estoque de sementes hoje – e a realidade o varrerá da face da terra, como ele merece. A realidade lhe mostrará que a vida é um valor a ser comprado, e que o pensamento racional é a única moeda suficientemente nobre para adquiri-lo”.

Para terminar, cito mais uma passagem (meio longa) de Ayn Rand:

“Há, em essência, três escolas de pensamento sobre o natureza do bem, a saber, as que veem o bem como, respectivamente, intrínseco, subjetivo, e objetivo.

A teoria do  bem intrínseco mantém que o bem é inerente a certas coisas ou ações, enquanto tais, irrespectivamente de seu contexto e de suas consequências, independentemente do benefício ou injúria que possam causar aos atores e sujeitos envolvidos. …

A teoria do bem subjetivo mantém que o bem não tem relação com os fatos da realidade, que ele é o produto da consciência do ser humano, criado por seus sentimentos, desejos, ‘intuições’, caprichos …

A primeira dessas duas teorias mantém que o bem reside em alguma forma da realidade, independente da consciência do ser humano; a segunda, que o bem reside na consciência do ser humano, independente da realidade.

A teoria do bem objetivo, por sua vez, mantém que o bem não é nem um atributo das ‘coisas em si mesmas’ nem dos estados emocionais do ser humano, mas uma avaliação dos fatos da realidade segundo um padrão racional de valor. (Racional, neste contexto, quer dizer: derivado dos fatos da realidade e validado por um processo de razão). A teoria objetiva mantém que o bem é um aspecto da realidade em relação ao ser humano – e o bem tem de ser descoberto, não inventado, pelo ser humano”.

É por isso que Ayn Rand chama sua ética de “Egoísmo Racional”. Eu prefiro chama-la de “Ética do Valor Supremo Racionalmente Baseado e Moralmente Justificado”. Prefiro assim porque o conceito de egoísmo foi tão atacado pela interpretação altruísta da moralidade cristã, kantiana em sua versão moderna, que ficou temporariamente corrompido. É preciso reconstruí-lo que que possa reocupar o seu lugar como virtude dentro da visão de mundo que aqui se apresenta.

Em São Paulo, 11 de Junho de 2016.

Fundamentos da Ética Egoísta-Racional de Ayn Rand

[Compilação de citações de Ayn Rand e análises dessas citações feitas por Eduardo Chaves, em Agosto de 1997]

Egoísmo:

“O significado exato e a definição do dicionário para a palavra ‘egoísmo’ é: preocupação com os próprios interesses. Esse conceito não inclui avaliação moral; não nos diz se a preocupação com os nossos próprios interesses é boa ou má; nem nos diz o que é que define e constitui os interesses reais do homem. É tarefa da ética responder a tais questões.” (VE, p.14)

Altruísmo:

A contrapartida do conceito de egoísmo é o conceito de altruísmo, que deve, consequentemente, significar, preocupação com os interesses dos outros. Poder-se-ia dizer, igualmente, que o conceito não inclui avaliação moral; não nos diz se a preocupação com os interesses dos outros é boa ou má; nem nos diz o que define e constitui os interesses dos outros. É tarefa da ética responder a tais questões.

Moralidade:

A moralidade é um código de valores que guia as escolhas, decisões e ações dos homens, e, assim, determina o propósito e o curso de sua vida. É um código através do qual ele julga o que é certo ou errado, bom ou mal (p. 20; cf. Ayn Rand, “Faith and Force: The Destroyers of the Modern World”, in PWNI, p.61; “For the New Intellectual”, in FNI, p.18).

Ética:

A ética é a tentativa de definir esse código de valores (VE, p.20).

Valores:

Um valor, afirma Rand, é aquilo que alguém age para ganhar ou manter. Um valor supremo é aquele valor para o qual todos os outros valores são meios. Na verdade, para Rand, é a existência de um valor último, que é, necessariamente, um fim em si mesmo, que permite que os meios de alcançá-lo se tornem valores (intermediários). “É apenas um alvo último, um fim em si mesmo, que torna a existência de valores possível” (VE, pp.23-24).

A noção de valor pressupõe que exista alguém que possa agir para ganhar ou manter alguma coisa, ou seja, que existam seres que possam se comportar de forma a atingir um alvo, uma meta.

Essa noção de valor pressupõe, também, que esse ser confronte alternativas, que existam várias e diferentes coisas que ele pode desejar ganhar ou manter. “A moralidade tem a ver somente com a esfera da liberdade humana, somente com aquelas ações que estão abertas à escolha do homem” (Rand, PB).

Isso significa que apenas seres vivos podem ter valores, pois somente eles, na natureza, podem agir para alcançar alvos e metas, e somente eles são confrontados por alternativas. Dos seres vivos, apenas o homem pode ter um código de valores, e, consequentemente, uma moralidade e uma ética.

A Ética Altruísta:

“O altruísmo [enquanto moralidade] declara que qualquer ação praticada em benefício dos outros é boa, e qualquer ação praticada em nosso próprio benefício é má. Assim, o beneficiário de uma ação é o único critério de valor moral – e contanto que o beneficiário seja qualquer um, salvo nós mesmos, tudo passa a ser válido” (VE, p.15).

A Crítica à Ética Altruísta:

“Dado que a natureza não provê o homem com uma forma automática de sobrevivência, dado que ele tem de sustentar sua vida através do seu próprio esforço, a doutrina que diz que a preocupação com nossos próprios interesses é nociva [evil] significa, consequentemente, que o desejo de viver do homem é nocivo – que a vida do homem, como tal, é nociva. Nenhuma doutrina poderia ser mais nociva [evil] do que esta” (VE, p.16)

 “Observe o que [a ética altruísta] faz à vida de um homem. A primeira coisa que ele aprende é que a moralidade é sua inimiga: não ganha nada com ela, apenas perde; tudo o que pode esperar [se for moral] são perdas auto-impostas, dores auto-impostas e o manto cinzento e deprimente de uma obrigação incompreensível. Ele pode esperar que os outros possam, ocasionalmente, sacrificar-se em seu benefício, assim como ele se sacrifica de má vontade, em benefício deles, mas ele sabe que tal relacionamento só produzirá ressentimentos mútuos, não prazer – e que, moralmente, essa troca de valores será como uma troca de presentes de Natal não desejados e não escolhidos que nenhum deles se permite, moralmente, comprar para si mesmo” (VE, pp.15-16).

“Se você se pergunta quais são as razões por trás da feia mistura de cinismo e culpa na qual a maioria dos homens desperdiça suas vidas, estas são as razões: cinismo, porque eles não praticam nem aceitam a moralidade altruísta – culpa, porque eles não se atreveram a rejeita-la” (VE, p.17).

A Alternativa: A Moralidade Egoísta (O Egoísmo como Virtude):

A primeira questão que se levanta em relação a um código de valores diz respeito à razão pela qual seres humanos precisam de um código de valores  (VE, pp.20-21).

“Dado que a natureza não provê o homem com uma forma automática de sobrevivência. . . . ele tem de sustentar sua vida através do seu próprio esforço . . .”. (p.16). O homem precisa agir para manter sua vida. Se não o fizer, morre, deixa de existir. A vida só é mantida através de um processo de ação que a gera e sustenta. O homem é, portanto, diariamente confrontado com a mais genuína de todas as decisões: a de continuar vivendo ou perecer, a da existência e da não-existência. É por isso que precisa de um código de valores para orientar suas escolhas, decisões e ações.

O valor supremo do homem é, portanto, sua própria vida. Sem ela não há nenhum outro valor. Tudo o mais que tem valor para o homem tem valor intermediário, derivativo. O valor supremo, o fim em si mesmo, é a manutenção da vida, porque sem ela nada mais existe para ele, nada mais pode lhe ter valor. A vida é, portanto, o padrão de valor: aquilo que contribui (como meio) para sua manutenção, tem valor (intermediário, subsidiário).

A vida do homem (como a de qualquer outro organismo) depende, do ponto de vista material, de haver suficiente combustível (alimentação) para que ele sobreviva, mas depende, também, do ponto de vista do organismo, de ele tomar as ações necessárias para se apropriar desse combustível e fazer dele uso apropriado.

Em relação a muitos organismos, esse processo é mais ou menos automático: as ações necessárias para se apropriarem do combustível necessário à manutenção de sua vida são tomadas de maneira instintiva, mais ou menos automática. No caso de seres humanos, porém, esse automatismo não existe. “Um instinto de auto-preservação é precisamente o que o homem não possui. Um ‘instinto’ é uma forma inerrante e automática de conhecimento” (FNI, p.121). “O homem nasce nu e desarmado, sem presas, garras, chifres ou conhecimento ‘instintivo’”( “The Anti-Industrial Revolution”, in NL, p.136). O homem não toma, automática ou instintivamente, as ações necessárias para sobreviver: ele tem que escolher como agir, ele tem que conscientemente decidir. Se não fizer isso, morre. O homem, para sobreviver, tem que conscientemente decidir quais ações tomar para sobreviver.

Por causa disso, porque o homem precisa conscientemente decidir como agir para poder sobreviver, ele precisa de um código de valores para orientá-lo em suas decisões. O homem tem de escolher um padrão de valor. A escolha racional aponta na direção de um padrão e um código de valores que geram e sustentam sua vida. Uma escolha irracional o leva a um código de valores que impede ou mesmo destrói a vida. “Tudo o que é próprio à vida de um ser racional é o bem; tudo aquilo que a destrói é o mal” (FNI, p.122).

O homem pode, portanto, decidir não escolher o padrão objetivo: a vida. Nesse caso, suas ações levarão (eventualmente) à sua destruição. “Vida ou morte é a única alternativa fundamental do homem. Viver é seu ato básico de escolha. Se ele escolhe viver, uma ética racional lhe dirá que princípios de ação são necessários para implementar sua escolha. Se ele não escolhe viver, a natureza se encarrega” (“Causality versus Duty”, in PWNI, p.99).

Uma ética racional é, necessariamente, uma ética egoísta.

A Ética e a Razão:

Por que é que se qualifica a ética necessária para a promoção da vida do ser humano uma ética racional?

Porque, para que possa elaborar um código de conduta, uma ética, o homem precisa conhecer a natureza do mundo que o cerca, a sua própria natureza e a natureza de seus meios de cognição: isto é, ele precisa responder às questões colocadas pela metafísica e pela epistemologia, pois doutra forma não poderá saber o que fazer (Cf. Ayn Rand, “Philosophy: Who Needs It?”, in PWNI, p.3).

O instrumento de cognição do homem é sua razão: é através dela que ele integra os elementos da percepção e assim vem a conhecer o mundo que o cerca. Isso significa que a ética não está fundamentada, como acreditam muitos filósofos, no sentimento, nas emoções, na intuição, na fé, nos costumes sociais, tampouco na noção de utilidade ou de dever. Ela está fundamentada na razão.

Isso significa, além do mais, que a moralidade não é algo imposto sobre o homem porque ele vive em sociedade: “Vocês alardeiam que a moralidade é social, e que o homem não precisaria da moralidade em uma ilha deserta. É numa ilha deserta que ele mais precisaria dela! Deixe que ele pretenda, em um tal lugar, quando não há nenhuma vítima que ele possa espoliar, que rocha é casa, que areia é vestimenta, que alimento vai cair em sua boca sem causa e esforço, que ele vai ter uma colheita amanhã devorando seu estoque de sementes hoje — e a realidade o varrerá da face da terra, como ele merece. A realidade lhe mostrará que a vida é um valor a ser comprado, e que o pensamento é a única moeda suficientemente nobre para adquiri-lo” (FNI, p.127).

O Bem Objetivo:

“Há, em essência, três escolas de pensamento sobre o natureza do bem, a saber, as que veem o bem como, respectivamente, intrínseco, subjetivo, e objetivo. A teoria do  bem intrínseco mantém que o bem é inerente a certas coisas ou ações, enquanto tais, irrespectivamente de seu contexto e de suas consequências, independentemente do benefício ou injúria que possam causar aos atores e sujeitos envolvidos. … A teoria do bem subjetivo mantém que o bem não tem relação com os fatos da realidade, que ele é o produto da consciência do homem, criado por seus sentimentos, desejos, ‘intuições’, caprichos … A primeira dessas duas teorias mantém que o bem reside em alguma forma da realidade, independente da consciência do homem; a segunda, que o bem reside na consciência do homem, independente da realidade. A teoria do bem objetivo, por sua vez, mantém que o bem não é nem um atributo das ‘coisas em si mesmas’ nem dos estados emocionais do homem, mas uma avaliação dos fatos da realidade segundo um padrão racional de valor. (Racional, neste contexto, quer dizer: derivado dos fatos da realidade e validado por um processo de razão). A teoria objetiva mantém que o bem é um aspecto da realidade em relação ao homem — e o bem tem que ser descoberto, não inventado, pelo homem” (“What is Capitalism?”, in CUI).

VE = A Virtude do Egoísmo, tradução brasileira de The Virtue of Selfishness

PWNI = Philosophy Who Needs It?

FNI = For the New Intellectual

PB = Playboy Interview

NL = The New Left: The Anti-Industrial Revolution

CUI = Capitalism, the Unknown Ideal

Eduardo Chaves
Campinas, Agosto de 1997

Transcrito em São Paulo, 10 de Junho de 2016

As Newsletters de Ayn Rand

Quem tem intenção de ir fundo nas ideias de Ayn Rand e sua aplicação aos problemas da atualidade (atualidade dela, que morreu em 1982 – mas aplica-se ainda muito bem à nossa) não pode deixar de ler suas newsletters. Elas estão publicadas em três volumes (o segundo deles grossão, mas de formato menor):

The Objectivist Newsletter (1962-1965) – 220 pags – $ 40.00+ (*) [só disponível atualmente como livro usado nos sebos da Amazon, com preços diferentes dependendo do revendedor]

The Objectivist (196 (1966-1971) – 1120 pags – $54.95 (USD) (**) [disponível na livraria do site do Ayn Rand Institute, novo]

The Ayn Rand Letter (1971-1976) – 400 pags – $ 44.95 (USD) (***) [disponível na livraria do site do Ayn Rand Institute, novo]

Há um livro de Ayn Rand editado com os melhores artigos publicados por ela nessas três newsletters, chamado The Voice of Reason – Essays in Objectivist Thought. O editor do volume é Leonard Peikoff, que (como não poderia deixar de ser) não conseguiu resistir e acrescentou artigos dele… O livro é publicado pela New American Library (NAL) – 354 pags – 1988 – $14.04 (USD) (paperback), $11.83 (USD) (e-book/Kindle) (****) [disponível na Amazon]

Para o estudioso sério de Ayn Rand, pelo menos esse último compêndio vale a pena ter. Há até um magnífico artigo dela sobre a incomparável Marylin Monroe, por ocasião da morte dela.

(*) https://www.amazon.com/Objectivist-Newsletter-Volumes-1962-1965/dp/B000BQ8AUK/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1465557473&sr=8-1&keywords=The+Objectivist+Newsletter

(**) https://estore.aynrand.org/p/212/the-objectivist-1966-1971-hardcover

(***) https://estore.aynrand.org/p/213/the-ayn-rand-letter-1971-1976-hardcover

(****) https://www.amazon.com/Voice-Reason-Objectivist-Thought-Library/dp/0452010462/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1465558137&sr=8-1&keywords=The+Voice+of+Reason

Em Salto, 10 de Junho de 2016

Everything is something

[Artigo publicado no meu blog Philosophical Space e no meu blog Liberal Space em 14 de Setembro de 2013. Infelizmente, em Inglês. Publico-o agora aqui. Quem sabe qualquer hora o traduza para o Português – se eu encontrar traduções viáveis para “everything is something” e “nothing is anything”, além de “todas as as coisas são alguma coisa” e “nenhuma coisa é alguma coisa”, ou “tudo é algo” e “nada é algo”… Aceito sugestões.]

In Ayn Rand’s Atlas Shrugged, during the party organized by Hank Rearden’s wife Lillian to celebrate their anniversary, there are fantastic dialogues. One of them has to do with Hugh Akston, the person who gives his name to this blog [Philosophical Studio used to be called Akston Lounge]. I will relate it at the end of this article.

Dr.  Simon Pritchett is, for a time, the center of attention. He is the Chairman of the Department of Philosophy of Patrick Henry University, in Cleveland, OH, where the three heroes of the novel, John Galt, Francisco D’Anconia and Ragnar Danneskjöld once studied, under Hugh Akston, who was the Chairman of the Department prior to Dr. Pritchett.

It is interesting that Pritchett is always called Dr. Pritchett, or simply Professor (even, ironically, by Francisco d’Anconia, who even bows to him, in simulated respect), whereas Akston is referred to as simply Hugh Akston (even by his students)…

Pritchett can be described as a post-modernist, or a philosophical deconstructionist, intent on destroying everything that was at the basis of rational philosophy.

“Man? What is man?”, he asks — and replies: “He’s just a collection of chemicals with delusions of grandeur”, or “a miserable bit of protoplasm” that “imagines itself important” (p.131).

Standards? “There aren’t any standards” (p.132).

If so, what is the purpose of philosophy? “It remained for our century to redefine the purpose of philosophy. The purpose of philosophy is not to help men find the meaning of life, but to prove to them that there isn’t any” (p.132). “The purpose of philosophy is not to seek knowledge, but to prove that knowledge is impossible to man” (p.133). The duty of a philosopher “is not to explain, but to demonstrate that nothing can be explained” (p.133).

In the sequence he says that man is such a difficult creature because he insists  in considering himself important in the overall scheme of things, in viewing his activities as significant… “Once he realizes that he is of no importance whatever in the vast scheme of the universe, that no possible significance can be attached to his activities, that it does not matter whether he lives or dies, he will become much more … tractable” (p.132).

Indeed!

In the socio-political realm, he defends a decree issued by the government called the Equalization of Opportunity Bill. This bills tries to equalize the field, compelling those who are quite successful, in whatever activity in the economic realm, to divest of some of their interests, or to limit their output, so that less successful people can have a chance to compete…

Says Pritchett: “I am in favor of it, because I am in favor of a free economy. A free economy cannot exist without competition. Therefore, men must be forced to compete” (p.132).

A novelist, Balph Eubank, intervenes in the discussion to defend the thesis that the Equalization of Opportunity Bill ought to be applied even in the literary realm (p.133). “It would be very simple” to do it. “There should be a law limiting the sale of any book to ten thousand copies. This would throw the literary market open to new talent, fresh ideas, and non-commercial writing. If people were forbidden to buy a million copies of the same piece of trash, they would be forced to buy better books” — such as the ones he writes, which never sold more than three thousand copies (p.134). In fact, he argues that “only those whose motive is not money-making should be allowed to write” (p.134).

(Brazilians can compare this to the attempts by its socialist government to “democratize the monopolistic media”…).

“Plot”, says Eubank, “is a primitive vulgarity in literature” (p.134).

“Just as melody is a primitive vulgarity in music”, adds a third participant, Mort Liddly (p.134).

“Property rights are a superstition”, says a fourth participant in the discussion, Bertram Scudder (p.135).

Reason “is the most naïve of all superstitions”, says Pritchett. Men only believe in it because they “suffer from the popular delusion that things can be understood” (p.132). “Logic is a primitive vulgarity in philosophy”, he continues (p.134), only to close the discussion a few moments later with a magistral conclusion: “Nothing is anything” (p.141).

At this point Francisco d’Anconia breaks into the discussion to remind the participants that Hugh Akston, his teacher of old, taught, in contrast to Pritchett’s conclusion, that “everything is something” (p.142).

Nothing is anything vs everything is something.

Akston’s thesis is that everything that exists is something, has a particular nature, that leads it to behave in a particular manner — and that, through observation and reflexion, we can know what that nature is.

The enormous list of absurdities that the participants in the discussion state is the result of their negation of the thesis that everything is something. With Pritchett, they all believe that nothing is anything.

In São Paulo, on the 14th of September of 2013

Ayn Rand: Um Legado de Razão e Liberdade (Michael S. Berliner)

[Este belo artigo foi escrito por Michael S. Berliner, qualificado ao final, e traduzido por mim, Eduardo Chaves, em 25 de Janeiro de 2005. Ele foi escrito para celebrar o Centenário do Nascimento de Ayn Rand, que aconteceu em 2 de Fevereiro de 2005].

 Nascida há 100 anos na Rússia e educada sob os Sovietes, Ayn Rand se tornou, de todos os escritores e filósofos do século XX, aquele que representa a quintessência da visão americana da vida, que atribui valor supremo ao indivíduo que se esforça para viver a sua vida aqui na Terra. Ela mesma viveu uma vida que foi “de trapos a riquezas”. Escreveu romances que até hoje ocupam as listas de mais vendidos e que defendem o individualismo, e desenvolveu uma filosofia da razão que valida o espírito americano de realização e independência.

A história da vida de Ayn Rand é, nas palavras do documentário, indicado para o Oscar, Ayn Rand: A Sense of Life, “uma vida mais impressionante que ficção”. Nascida no dia 2 de Fevereiro de 1905, ela começou a escrever ficção quando tinha oito anos de idade – ocasião em que também mostrou sinais de ser uma precoce ativista intelectual, propondo-se na ocasião a refutar a tese defendida em um artigo de jornal de que a escola era a única fonte dos ideais de uma criança. Um ano depois ela decidiu se tornar uma escritora profissional, inspirada pelo herói de uma história de crianças que incorporava o ideal da “inteligência dedicada a propósitos práticos”. Naquele momento ela tomou a decisão de olhar as pessoas, não como elas eram, mas como elas podiam vir a ser.

No ensino médio e na universidade ela descobriu duas pessoas que nunca cessou de admirar: Victor Hugo, pela “grandiosidade, pela dimensão heroica, pela inventividade do enredo”, e Aristóteles, “o maior de todos os realistas e o grande advogado da validade da mente humana”.

Escapando a tirania e a pobreza da URSS ela partiu para os Estados Unidos em 1926, oficialmente para fazer uma breve visita a parentes. Um encontro por acaso com o seu diretor de cinema favorito, Cecil B. De Mille, acabou lhe dando alguns empregos como extra em filmes e, depois, como roteirista júnior. Depois de períodos em que quase chegou a passar fome, ela vendeu sua primeira peça de teatro para a Broadway e seu primeiro romance, We the Living (Nós os que Vivemos), contextualizado na tirania soviética da qual ela havia escapado.

Com o seu best-seller, The Fountainhead (A Nascente), em 1943, ela apresentou sua visão do homem ideal na pessoa do arquiteto individualista Howard Roark. Esse livro, porém, representa “apenas uma introdução” ao seu opus magnum, Atlas Shrugged (Quem é John Galt?), em 1957 – uma história de mistério sobre o papel da mente na existência humana. Com esse livro ela encerrou sua carreira como autora de ficção e começou a sua carreira de filósofa.

Sua filosofia – Objetivismo – defende: a realidade objetiva (em oposição a tendências sobrenaturalistas), a razão como o único meio de chegar ao conhecimento da realidade (em oposição a tendências céticas), a liberdade (em oposição a tendências deterministas, biológicas ou ambientais), e uma ética de interesse próprio racional (em oposição a tendências altruístas que defendem o sacrifício de nós mesmos para com os outros e dos outros para com nós mesmos). O único sistema político moral, ela sustentou, é o liberalismo laissez-faire [que ela chama de capitalismo] (em oposição às tendências coletivistas do socialismo, fascismo e estado do bem-estar social), porque esse sistema reconhece o direito inalienável de o indivíduo agir com base no julgamento de sua própria mente. Sua vida, ela sustenta, pertence a você, e não ao seu país, a seus próximos, ou a Deus.

Ayn Rand entende que, para defender o indivíduo, ela deve chegar à raiz da questão: a sua necessidade de usar a razão para sobreviver. “Eu não sou, primariamente, uma defensora do capitalismo”, ela escreveu em 1971, “mas do egoísmo; e não sou, primariamente, uma defensora do egoísmo, mas da razão. Para aquele que reconhece a supremacia da razão e a aplica com consistência, todo o resto segue naturalmente”. Esse ponto de vista radical a separou dos conservadores, a quem ela criticou com veemência por tentar basear o capitalismo na fé e no altruísmo. Defendendo a tese de que a função do governo é defender os direitos do indivíduo, inclusive seu direito à propriedade, ela não era uma anarquista ou uma liberal (no sentido americano do termo). Defendendo a indispensabilidade da filosofia, ela não era uma libertária.

Embora ficasse de fora das correntes culturais predominantes, seus romances se tornaram best-sellers e seus livros vendem mais hoje do que antes – cerca de meio milhão de cópias por ano. Há uma razão por que Atlas Shrugged ficou em segundo lugar em uma pesquisa da Biblioteca do Congresso (dos Estados Unidos) sobre os livros mais influentes jamais escritos. E há uma razão porque seus livros são vistos como fatores importantes de mudança de vida por tantos leitores. Ela tinha uma visão exaltada do homem e criava heróis de ficção que verdadeiramente inspiravam e ainda inspiram.

Uma filósofa sui generis, que olhava o mundo de uma forma nova, Ayn Rand foi, por muito tempo, um enigma para o estabelecimento acadêmico. A academia em geral antagonizou seus pontos de vista ou, então, tentou ignora-la, incapaz de entender como ela era individualista mas não subjetivista, absolutista mas não dogmática.

Assim, eles ignoraram suas soluções originais para problemas aparentemente intratáveis, como, por exemplo, como fundamentar valores nos fatos da realidade. Mas mesmo na academia suas ideias estão encontrando maior aceitação. Bolsas (fellowships) para o estudo de sua filosofia têm sido concedidas e a Sociedade Americana de Filosofia criou um grupo para estuda-la.

Ayn Rand nos deixou um legado em defesa da razão e da liberdade que serve de marco orientador que aponta para o espírito americano – algo especialmente pertinente hoje, um período em que a América e aquilo que ela representa têm sido objeto de agressivo ataque.

Michael S. Berliner é membro do Conselho Diretivo do Ayn Rand Institute, localizado em Irvine, CA, EUA. O instituto promove as ideias de Ayn Rand.

Tradução: Eduardo Chaves

Este tributo foi traduzido em 25 de Janeiro de 2005, em preparação do centenário do nascimento de Ayn Rand. Ele está publicado, no original em Inglês, em várias fontes. A mais fácil de pesquisar é Capitalism Magazine, onde foi republicado em 2 de Fevereiro de 2005, dia do centésimo aniversário de Ayn Rand:

 http://capitalismmagazine.com/2005/02/ayn-rand-a-legacy-of-reason-and-freedom/

Transcrito aqui em 9 de Junho de 2016.

Discurso de Ayn Rand: “Filosofia: Quem é que precisa disso?”

(Discurso para a turma de formandos da Academia Militar de West Point, Estados Unidos, em 6 de março de 1974)

[Nota do Tradutor: Este magnífico discurso de Ayn Rand está transcrito como Capítulo 1 de seu livro Philosophy: Who Needs It?, publicado, com uma Introdução de Leonard Peikoff, em 1982, ano da morte de Ayn Rand, como Volume 1 da coleção The Ayn Rand Library, na série “Signet”, da New American Library, Nova York. Desfrutem uma das mais impressionantes peças de eloquência filosófica de que se tem conhecimento na História da Filosofia.]

 o O o

Já que sou escritora de ficção, vou começar com uma breve história. Suponhamos que você seja um astronauta cuja nave espacial fica fora de seu controle e cai em um planeta desconhecido. Quando você recupera a consciência e descobre que não está gravemente ferido, as primeiras três perguntas em sua mente seriam: Onde estou? Como posso descobrir? O que devo fazer?

Você vê vegetação desconhecida do lado de fora e percebe que existe ar para respirar. A luz do sol parece mais pálida do que você se lembra e também mais fria. Você se vira para olhar para os céus – mas para. Você é acometido por uma sensação súbita: se não olhar, não terá de saber que talvez esteja longe demais da Terra e que possivelmente não seja possível retornar. Enquanto você não souber disso, estará livre para acreditar no que quiser. Com esse pensamento você experimenta uma vaga e agradável sensação de esperança – mas ele também lhe traz um certo sentimento de culpa.

Você olha para seus instrumentos. Pode ser que estejam danificados – e, se estiverem, você não conhece a extensão dos danos. Mas você novamente para – vencido por um sentimento repentino de temor. Como você pode confiar nesses instrumentos? Como você pode ter certeza de que eles não vão engana-lo? Como você pode saber se eles funcionarão em um mundo diferente? Então, você se afasta dos instrumentos e decide não examina-los.

Agora, você começa a se perguntar por que lhe falta desejo de fazer algo. Parece tão mais seguro esperar que, de alguma forma, algo aconteça. É melhor, você diz a si mesmo, não balançar a espaçonave. Bem distante, você avista algo que se parece com seres vivos se aproximando. Você não sabe se são de fato seres humanos, mas certamente andam com suas duas pernas. Você decide que eles certamente lhe dirão o que fazer.

Nunca mais se tem notícia sua.

Você diz que isto é uma fantasia? Você nunca faria as coisas dessa forma e muito menos astronauta algum o faria? Talvez não. Contudo, essa é a maneira como vivem muitos homens aqui na Terra.

O homem atual passa seus dias, em sua maioria, lutando para fugir de três perguntas cujas respostas permeiam cada pensamento e cada sentimento seu, cada ação que ele realiza, quer ele esteja consciente do fato ou não: Onde estou? Como é que eu sei? O que devo fazer?

Ao atingir a maturidade que lhe permite entender essas perguntas, o homem acredita saber-lhes as respostas. Onde estou? Digamos que em Nova York. Como é que eu sei? É evidente. O que devo fazer? Neste caso, os homens não estão tão certos, mas a resposta mais comum é: o que qualquer um faz. O único problema parece ser que eles não são muito ativos, nem muito confiantes, não estão muito felizes e, por vezes, sentem um temor sem causa aparente e um sentimento vago de culpa, que podem não saber explicar mas dos quais também não conseguem se livrar.

Eles nunca descobriram que, de fato, o problema decorre das três perguntas não respondidas e do fato de que há apenas uma disciplina que pode ajudar a respondê-las: a Filosofia.

o O o

A Filosofia estuda a natureza fundamental da existência, do homem e do relacionamento entre o homem e a existência. Diferente das ciências especiais que lidam apenas com aspectos particulares, a filosofia lida com os aspectos do universo pertinentes a tudo que existe. Na esfera da cognição, as ciências especiais são as árvores, mas a filosofia é o solo que torna possível a existência da floresta.

A filosofia não lhe diria, por exemplo, se você está em Nova York ou em Zanzibar, embora lhe forneça meios para descobrir isto. Mas eis aqui o tipo de coisa que ela lhe diria: você está em um universo regido por leis naturais e que, portanto, é estável, sólido, absoluto e conhecível? Ou você está em um caos incompreensível, num domínio em que acontecem milagres inexplicáveis, num fluxo de acontecimentos imprevisível e desconhecido que sua mente é incapaz de assimilar? As coisas que você vê ao seu redor são elas reais ou apenas ilusões? Elas existem independentemente da presença do observador ou são criadas pelo observador? São elas o objeto ou o sujeito da consciência do homem? Elas são o que são ou podem ser mudadas por um mero ato de sua consciência tal como, por exemplo, um desejo seu?

A natureza dos seus atos e das suas ambições será diferente de acordo com as respostas você vier a dar a essas perguntas. Essas respostas constituem o território de um ramo básico da filosofia que é chamado de metafísica. A metafísica é o estudo da existência tal qual ela é, ou, para usar as palavras de Aristóteles, o estudo do “ser enquanto ser” – o ramo mais básico da filosofia.

Não importa quais sejam as conclusões a que você chegue, você será confrontado pela necessidade de responder uma outra pergunta, que é um corolário da primeira: Como é que eu sei? Já que o homem não é onisciente nem infalível, você precisa descobrir o que você pode reivindicar como conhecimento e como você consegue provar que as conclusões a que chega são válidas. O homem adquire o conhecimento através de um processo racional ou por uma súbita revelação por parte de um poder sobrenatural? A razão é uma faculdade que identifica e integra o material fornecido pelos sentidos do homem ou é alimentada por ideias inatas, implantadas na mente do homem antes do seu nascimento? A razão é competente para perceber a realidade ou o homem possui outras faculdades cognitivas que são superiores à razão? Pode o homem atingir a certeza ou ele está condenado à dúvida perpétua?

A extensão da sua autoconfiança e do seu sucesso será diferente de acordo com as respostas que você vier a dar a essas perguntas. Essas respostas constituem-se o território de um segundo ramo da filosofia, que é chamado de epistemologia: o estudo dos meios de cognição do homem.

Esses dois ramos, a metafísica e a epistemologia, formam a base teórica da filosofia. O terceiro ramo, a ética, pode ser visto como a tecnologia da filosofia. A ética não se aplica a tudo que existe, mas somente ao homem. Mas ela se aplica a cada aspecto da vida do homem: seu caráter, suas ações, seus valores, seu relacionamento com tudo que existe. A ética, também chamada de moralidade, define o código de valores que guia o homem em suas escolhas e ações. Essas escolhas e ações determinam o curso de sua vida.

Tal como o astronauta da minha história que não sabia o que fazer por recusar-se a tomar conhecimento de onde estava e parecia não se interessar por descobrir em que lugar se encontrava, você não saberá o que fazer até que tome conhecimento da natureza do universo com qual você lida, da natureza dos seus meios de cognição e da sua própria natureza. Antes de chegar à ética, você terá de responder às perguntas feitas pela metafísica e pela epistemologia: o homem é um ser racional capaz de lidar com a realidade ou ele é um ser mal adaptado, desesperadamente cego, um fragmento polido pelo fluxo universal das coisas? A realização e a satisfação são coisas acessíveis ao homem na Terra ou ele está condenado ao fracasso e à desgraça? Dependendo das respostas, você pode prosseguir para contemplar as questões postas pela ética: o que é bom ou mau para o homem e por quê? A preocupação primária do homem deve ser a busca da felicidade ou o escapar do sofrimento? O homem deve ter como objetivo de vida a sua realização pessoal ou a sua autodestruição? O homem deve ir atrás de seus valores e interesses ou colocar os interesses dos outros acima de seus próprios? O homem deve buscar a felicidade ou a abnegação?

É desnecessário ressaltar as diferentes consequências das diversas respostas que podem ser dadas a esses conjuntos de perguntas. Você pode ver essas consequências em toda parte, dentro de você mesmo e ao seu redor.

As respostas dadas às questões da ética determinam como o homem deve tratar seu semelhante e essa questão caracteriza o quarto ramo da filosofia, que define os princípios de um sistema social adequado: a política. Como um exemplo da função da filosofia, a filosofia política não determina a ração de combustível que lhe será fornecida, nem em qual dia da semana ela estará disponível. A política lhe dirá, em vez disso, se o Governo tem o direito de impor racionamento de qualquer produto que seja.

O quinto e último ramo da filosofia é a estética. A estética é o estudo da arte e é baseada na metafísica, na epistemologia e na ética. A arte lida com as necessidades, com o reabastecimento, da consciência do homem.

Bem, alguns de vocês podem dizer, assim como outras pessoas o fazem: “Eu jamais penso em termos tão abstratos. Quero lidar com problemas concretos e específicos da vida real. Para que preciso de filosofia?”

Minha resposta é: para que você possa ser capaz de lidar com os problemas concretos e específicos da vida real, como, por exemplo, ser capaz de viver aqui na Terra.

Você pode dizer, como muitas pessoas o fazem, que a filosofia nunca o influenciou. Vou pedir que você avalie essa afirmação. Se você alguma vez já disse ou pensou o seguinte: “Não esteja tão certo disto – ninguém pode ter certeza de coisa alguma”, você obteve essa impressão de David Hume e muitos outros filósofos, embora você possa nunca ter ouvido falar deles. Ou talvez: “Isto pode ser bom na teoria, mas nunca funciona na prática”. Você adquiriu esse ponto de vista de Platão. Ou talvez: “Foi uma coisa lamentável o que se fez, mas é humano: ninguém é perfeito neste mundo”. Você herdou essa opinião de Agostinho.

Mais exemplos:

“Isso pode ser verdade para você, mas não para mim”. Você obteve essa idéia de William James. Ou: “Não pude evitar: ninguém consegue impedir o que quer que ele faça”. Você obteve isso de Hegel. Ou talvez: “Não posso provar isto, mas eu sinto que é verdade”. Você obteve essa tese de Kant.

Outros exemplos:

“Isto pode ser lógico, mas a lógica não tem nada a ver com a realidade”. Mais uma vez você adquiriu isso de Kant. Ainda: “Isto é mau porque é egoísta”. Mais uma vez, Kant. Você já ouviu os ativistas modernos dizerem: “Aja primeiro e pense depois?” Eles aprenderam isso com John Dewey.

Algumas pessoas podem responder: “Claro, já disse essas frases em diferentes ocasiões, mas não tenho de acreditar nelas o tempo todo – elas podem ter sido verdadeiras ou feito sentido ontem, mas hoje, não mais”. Essas pessoas terão obtido essa idéia de Hegel. Elas podem dizer: “A consistência é o duende das pequenas mentes”. Elas pegaram essa frase de uma pequena mente chamada Emerson. Elas podem perguntar: “Mas ninguém pode mais fazer compromissos e tomar ideias emprestadas de diferentes filosofias, de acordo com as conveniências do momento?” Elas terão obtido essa idéia de Richard Nixon, que, por sua vez, a obteve de William James.

Bem, agora pergunte a si mesmo: se você não está interessado em ideias abstratas, por que você (e todos os outros homens) sente-se compelido a fazer uso delas? O fato é que as ideias abstratas são integrações conceituais que abrangem um número incalculável de coisas concretas. Sem ideias abstratas, você seria incapaz de lidar com os problemas concretos e específicos da vida real. Você estaria na posição de um recém-nascido para quem cada objeto é um fenômeno único e sem precedentes. A diferença entre o estado mental dele e o seu reside no numero de integrações conceituais que a sua mente já realizou.

Você não tem escolha alguma sobre a necessidade de integrar suas observações, suas experiências, seu conhecimento em ideias abstratas, como, por exemplo, em princípios. Sua única escolha é se esses princípios são verdadeiros ou falsos, se eles representam sua consciência e suas convicções racionais ou se são um saco de noções tomadas ao acaso, cujas origem, validade, contexto e consequências você desconhece – noções que, mais frequentemente do que não, você deixaria cair como uma batata quente se soubesse.

Mas os princípios que você aceita, consciente ou inconscientemente, podem entrar em conflito ou contradizer um ao outro. Eles também têm de ser integrados. Quem os integra? A filosofia. Um sistema filosófico é uma visão integrada da existência. Como ser humano, você não tem escolha com relação ao fato de precisar de uma filosofia. A única escolha é a de definir sua filosofia por um processo de pensamento consciente, racional e disciplinado e uma deliberação escrupulosamente lógica ou, então, deixar seu subconsciente acumular o entulho resultante de conclusões injustificadas, generalizações falsas, contradições indefinidas, slogans indigestos, desejos não identificados, dúvidas e temores, juntados ao acaso, mas integrados pelo seu subconsciente numa espécie de filosofia vira-lata e fundida em um peso sólido único: a dúvida de si mesmo, que o prende, tal qual uma bola de ferro com correntes, no lugar onde as asas da sua mente deveriam ter crescido.

Talvez você diga, tal como o fazem muitas pessoas, que nem sempre é fácil agir por princípios abstratos. Não, não é fácil. Mas quão mais difícil deve ser agir por eles sem saber quais eles são?

Seu subconsciente é como um computador, mais complexo do que qualquer um que o homem possa criar, que tem como função principal a integração de suas ideias. Quem o programa? Sua mente consciente. Se você se omitir, se não alcançar alguma convicção sólida, seu subconsciente será programado ao acaso e você será subjugado pelo poder de ideias que você nem mesmo está consciente de ter aceito. Contudo, de uma forma ou de outra, seu computador lhe fornece relatórios diários, ou mesmo a cada hora, na forma de emoções, que são estimativas relâmpago das coisas que o cercam, calculadas de acordo com seus valores. Se você programou seu computador através do seu pensamento consciente, você conhece a natureza de seus valores e de suas emoções. Se você não o fez, você não os conhecerá.

Muitas pessoas, principalmente hoje, afirmam que o homem não pode viver apenas pela lógica: que é preciso levar em conta também o elemento emocional da sua natureza. Acrescentam que o homem deve se deixar levar pelas suas emoções e confiar naquilo que elas lhe dizem. Bem, o astronauta da nossa história também fez isso – e a piada foi em cima dele. As emoções e os valores de um homem são determinados pela sua visão fundamental da vida. O programador supremo de seu subconsciente é a filosofia: atividade que, de acordo com os emocionalistas, é impotente para afetar e penetrar os mistérios obscuros de seus sentimentos.

A qualidade do produto final do computador é determinada pela qualidade dos dados com os quais o computador foi alimentado. Se o seu subconsciente for programado ao acaso, o resultado final irá refletir isso. Você provavelmente já deve ter escutado o termo inventado pelos eloquentes profissionais da área de processamento de dados: “GIGO”, que significa “entra lixo, sai lixo” (Garbage In, Garbage Out). A mesma fórmula aplica-se ao relacionamento entre o pensamento do homem e suas emoções.

Um homem que é controlado pelas emoções é como um homem que é controlado por um computador cujo produto final impresso ele não consegue ler. O homem então não sabe se a programação é verdadeira ou falsa, correta ou incorreta, se serve para conduzi-lo ao sucesso ou ao fracasso, se serve a seus objetivos ou aos objetivos de um poder desconhecido e malévolo. Ele é cego duas vezes: cego para o mundo que o cerca e cego para o seu próprio mundo interno, sendo incapaz de entender a realidade ou até mesmo seus motivos próprios, vivendo com medo crônico dos dois. As emoções não são instrumentos de cognição. Os homens que não estão interessados na filosofia são os que mais necessitam dela, pois se encontram indefesos, presas fáceis do seu poder.

Os homens que não estão interessados em filosofia absorvem seus princípios da atmosfera cultural que os cerca: escolas, faculdades, livros, revistas, jornais, filmes, televisão, etc. Quem estabelece a tendência da cultura? Um punhado de homens: os filósofos. Os demais seguem a liderança deles, por convicção ou omissão. Por cerca de 200 anos, sob a influência de Emanuel Kant, a tendência dominante da filosofia tem sido dirigida com destino a um único objetivo: a destruição da mente do homem, de sua confiança no poder da razão. Hoje registramos o apogeu dessa tendência.

Quando os homens abandonam a razão, eles não só descobrem que suas emoções são incapazes de guia-los, mas também que eles se tornam presas de uma única emoção: o terror.

A disseminação da adição às drogas entre os jovens, trazida à tona pelos modismos intelectuais de hoje, demonstra o estado interno insustentável do homem que é despojado de seus meios de cognição e que procura escapar da realidade, do medo de sua impotência em lidar com a existência. Observem o medo de independência desses jovens e seu desejo frenético de pertencer ou de se ligar a um grupo, bando ou gangue. A maioria deles nunca ouviu falar de filosofia. No entanto, eles sentem que necessitam de algumas respostas fundamentais para as perguntas que não se atrevem a fazer e esperam que a tribo lhes diga como viver. Eles estão prontos para serem influenciados por qualquer curandeiro, guru ou ditador. Uma das coisas mais perigosas que o homem pode fazer é entregar sua autonomia moral aos outros – tal como o astronauta em minha história, que não sabia se aqueles seres eram humanos, embora caminhassem com duas pernas.

Bem, você pode me perguntar: se a filosofia pode causar tanto mal, por que devemos estuda-la? Particularmente, por que alguém deve estudar teorias filosóficas que são claramente falsas, que não fazem sentido algum e que não possuem relação alguma com a vida real?

Minha resposta é: em autodefesa e em defesa da verdade, da justiça, da liberdade e de qualquer outro valor que você possa abraçar ou venha um dia a fazê-lo.

Nem todas as filosofias são más, embora muitas delas o sejam, especialmente na história moderna. Por outro lado, na raiz de cada conquista civilizada, tal como a ciência, a tecnologia, o progresso, a liberdade, na raiz de cada valor de que usufruímos hoje, incluindo o nascimento de nossa nação, você encontrará as conquistas de um homem que viveu há mais de dois mil anos: Aristóteles.

Se tudo o que você sente é tédio quando lê as teorias virtualmente ininteligíveis de alguns filósofos, eu entendo isto completamente. Contudo, se você as despreza dizendo “Por que deveria estudar essas coisas já que eu sei que não fazem sentido algum?”, você está enganado. A teoria é uma asneira, mas você não sabe disto — não enquanto você aceitar todas as suas conclusões, todas as “pegadinhas” contidas nas frases maliciosas desses filósofos sem conseguir refutá-las.

Essas asneiras lidam com a coisa mais crucial, com os assuntos de vida ou morte relacionados à existência do homem. Na raiz de cada teoria filosófica significativa há uma questão legítima, uma necessidade autêntica da consciência do homem, que algumas teorias lutam para elucidar e outras lutam para ofuscar, corromper e impedir o homem de descobrir. A batalha dos filósofos é uma batalha para conquistar a mente do homem. Se você não entender as teorias deles, você estará vulnerável aos piores dentre eles.

A melhor maneira de estudar a filosofia é aborda-la tal como abordamos uma história de detetive: seguir cada trilha, pista e implicação para descobrir quem é o assassino e quem é o herói. O critério de detecção consiste em duas perguntas: Por quê? E, como? Se um principio parece ser verdadeiro ou falso, perguntamos “Por quê?” e “Como foi estabelecido?” Você não encontrará todas as respostas imediatamente, mas você adquirirá uma característica inestimável: a habilidade de pensar em termos do essencial.

Nada é dado ao homem automaticamente: nem conhecimento, nem autoconfiança, nem paz interior, nem a maneira certa de usar a sua mente. Cada valor de que ele necessita ou que ele deseja, tem de ser descoberto, aprendido e adquirido, até mesmo a postura de seu corpo. Neste contexto, tenho de dizer que sempre admirei a postura dos formandos da Academia de West Point, postura essa que reflete o orgulho do homem, o controle disciplinado de seu corpo. Bem, o treinamento filosófico concede ao homem a postura intelectual adequada, uma postura orgulhosa de controle disciplinado de sua mente.

Na sua própria profissão, na ciência militar, você sabe da importância de acompanhar o armamento do inimigo, suas estratégias e tácticas, e estar preparado para o contra-ataque. O mesmo se pode dizer da filosofia. Você precisa compreender as ideias do inimigo, estar preparado para rebatê-las, conhecer seus argumentos básicos e ser capaz de destruí-los.

Num combate físico, você não envia seus homens para uma armadilha de amadores, mas faz todo o possível para descobrir sua localização. Bem, o sistema de Kant é a maior e mais intrincada armadilha amadora na história da filosofia – mas é repleta de falhas e uma vez que você aprenda as suas manhas, você consegue desativá-la sem problema algum e caminhar por sobre ela tranquilamente. E, uma vez que você a desative, os “kantianos” menores – que são as fileiras inferiores do exército de Kant, que incluem sargentos filosóficos, soldados rasos e mercenários – cairão pela sua própria leveza, numa reação em cadeia.

Há uma razão especial pela qual vocês, futuros líderes do exército dos EUA, precisam armar-se filosoficamente. Vocês são os alvos de um ataque especial do estabelecimento kantiano-hegeliano-coletivista que domina nossas instituições culturais no presente. Vocês são o exército do último país parcialmente livre na Terra e ainda assim, vocês são acusados de serem um instrumento do imperialismo –  imperialismo é o nome dado à política externa do nosso país, que jamais se engajou em conquistas militares e que nunca lucrou com as duas guerras mundiais, que não iniciou, mas em que entrou e que venceu. (Foi, incidentalmente, uma tola política excessivamente generosa que fez com que este país desperdiçasse suas riquezas para ajudar tanto seus aliados como seus ex-inimigos.) Algo chamado de “complexo industrial militar” – que é um mito, ou ainda pior – está sendo considerado culpado por todos os problemas deste país. Arruaceiros universitários gritam em protesto para que os postos do Campo de Treinamento dos Oficiais da Reserva sejam banidos dos campi universitários. Nosso orçamento destinado à defesa está sob ataque, sofrendo denúncias e cortes de verbas por pessoas que exigem que seja dada prioridade financeira a canteiros ecológicos de rosas e aulas de expressão estética para residentes de favelas.

Alguns de vocês podem estar confusos com essas campanhas e podem estar se perguntando, de boa fé, o que vocês fizeram de errado para merecerem isso. Se este for o caso, é de uma importância urgente que vocês compreendam a natureza do inimigo. Vocês estão sob ataque não pelos seus erros e contradições, mas por suas virtudes. Vocês estão sendo acusados não por suas fraquezas, mas sim pela sua força e competência. Vocês estão sendo punidos por serem os protetores dos EUA. Num nível inferior dentro deste mesmo assunto, uma campanha semelhante está sendo movida contra a força policial. Aqueles que buscam destruir este país, buscam desarmá-lo intelectual e fisicamente. Contudo, este não é um assunto meramente político. A política não é a causa, mas a consequência das ideias filosóficas. Não é nada de conspiração comunista, embora alguns comunistas possam estar envolvidos, como parasitas que se aproveitam de um desastre que não têm força para provocar. O motivo desses destruidores não é o amor pelo comunismo, mas sim o ódio pela América. Por que o ódio? Porque a América é a evidência viva da recusa ao universo kantiano.

Hoje em dia, a preocupação melosa e a compaixão com o fraco, o deficiente, o oprimido e o culpado não passam de um disfarce para o ódio kantiano profundo pelo inocente, pelo forte, pelo capaz, pelo próspero, pelo virtuoso, pelo confiante e pelo feliz. Uma filosofia que existe para destruir a mente humana é necessariamente uma filosofia de ódio pelo homem, pela vida do homem e por cada valor humano. O destaque do século XX é o ódio ao bom exatamente por ele ser bom. Este é o inimigo que vocês enfrentam.

Uma batalha como esta requer armas especiais. Precisa ser combatida com um entendimento pleno de sua causa e com autoconfiança, tendo a certeza da retidão moral de ambos. Somente a filosofia é capaz de fornecer essas armas.

A minha tarefa esta noite não é lhes vender a minha filosofia, mas sim convencê-los da importância da filosofia tal como ela é. Contudo, eu falei implicitamente de minha filosofia em cada uma de minhas sentenças, uma vez que nenhum de nós e nenhuma declaração podem escapar das premissas filosóficas. Qual é o meu interesse egoísta neste assunto? Estou certa o bastante para acreditar que se vocês aceitarem a importância da filosofia e a tarefa de examina-la criticamente, será a minha filosofia que vocês vão acabar aceitando. Formalmente, eu a chamo de Objetivismo, mas informalmente eu a chamo de filosofia para viver sobre a Terra. Vocês encontrarão uma explicação explícita dela em meus livros, particularmente no livro Atlas Shrugged [A Revolta de Atlas].

Concluindo, permitam-me falar em termos mais pessoais. Esta noite significou muito para mim. Sinto-me imensamente honrada pela oportunidade de me dirigir a vocês. Posso dizer, não como vedete patriótica, mas com o pleno conhecimento de suas raízes metafísicas, epistemológicas, éticas, políticas e estéticas, que os EUA é o maior, o mais nobre e, nos seus princípios fundamentais originais, o único país moral na história do mundo. Há uma espécie de fulgor silencioso em minha mente associado ao nome West Point. Vocês têm conseguido preservar o espírito daqueles princípios fundamentais e vocês os simbolizam. Houve omissões e contradições naqueles princípios e pode haver em vocês também. Contudo, eu falo dos elementos essenciais. Pode ter havido indivíduos em sua história que não viveram pelos mais altos padrões, como acontece em todas as instituições, já que nenhuma instituição e nenhum sistema social pode garantir a perfeição automática de todos os seus membros. Esse fator é dependente do livre arbítrio. Eu falo de seus padrões. Vocês preservaram três qualidades de caráter que eram típicas na época do nascimento dos EUA, porém são quase inexistentes hoje: zelo, dedicação e senso de honra. A honra é a autoestima que se torna visível pela ação.

Vocês escolheram arriscar as suas vidas em defesa deste país. Não insultarei vocês dizendo que vocês são dedicados a um serviço altruísta. Altruísmo não é uma virtude em minha moralidade. Em minha moralidade, a defesa da pátria significa que o homem, como individuo, não deseja viver como escravo conquistado pelo inimigo, quer seja ele externo ou interno. Essa é uma grande virtude. Pode ser que alguns de vocês não estejam cientes disso, no plano do consciente. Desejo ajudá-los a perceber esse fato.

O exército de um país livre tem uma grande responsabilidade – o direito ao uso da força. O uso da força não como instrumento de compulsão ou conquista bruta, como os exércitos de outros países já fizeram em suas histórias, mas somente como um instrumento de autodefesa de uma nação livre, isto é, na defesa dos direitos individuais do homem. O princípio do uso da força somente em retaliação contra aqueles que iniciaram seu uso é o princípio de subordinar a força ao direito. Para uma tarefa dessas são necessários a mais alta integridade e o mais elevado senso de honra. Nenhum outro exército no mundo alcançou isso. Vocês, sim.

A Academia de West Point tem dado aos EUA uma longa linhagem de heróis, conhecidos e desconhecidos. Vocês, formandos deste ano, têm uma gloriosa tradição, à qual devem dar continuidade. Eu admiro profundamente essa gloriosa tradição. Não por causa da tradição, mas pela glória.

Já que eu vim de um país culpado da pior tirania sobre a face da Terra, sou capaz de apreciar o significado, a grandeza e o valor supremo do que vocês defendem. Por isso, em meu nome e em nome de muitas pessoas que pensam como eu, quero lhes dizer, a todos os homens de West Point, do passado, presente e futuro: Muito obrigada.

[Tradução para o Português de Eduardo Chaves, feita em 10 de Fevereiro de 2003, mais de treze anos atrás]

Transcrito aqui em Salto, 9 de Junho de 2016

Princípios Básicos da Filosofia de Ayn Rand

Estava vendo no YouTube um vídeo pré-histórico (1967) da primeira aparição da Ayn Rand no Tonight Show, na época comandado pelo incomparável Johnny Carson. Esse foi o ano em que me mudei para os EUA para estudar… Fiquei fã do Johnny Carson imediatamente.

Ali Carson pergunta a Rand quais são os princípios básicos da filosofia dela, e ela responde mais ou menos coo a seguir — eu dei uma reorganizada e pequena revisada no conjunto de formulações, com base em meu conhecimento de Ayn Rand:

1) O ser humano deve se guiar exclusivamente pela razão (não pela emoção, ou pela intuição, ou pela fé, ou por qualquer outro guia);

2) A razão é a faculdade que permite ao ser humano identificar e integrar o material que lhe é fornecido pelos sentidos (percepção), criando, com esse material, conceitos (e, com esses conceitos de primeiro nível, criando conceitos de nível mais elevado ou abstrato);

3) O ser humano é o único animal que conhece o mundo de forma conceitual, transformando “perceitos” em “conceitos”, experiências sensoriais em conhecimento;

4) A razão, portanto, é a única ferramenta que permite ao ser humano conhecer o mundo, com base em suas percepções;

5) Também é a razão que permite ao ser humano descobrir como viver nesse mundo para que a vida faça sentido;

6) A sua vida é o maior valor do ser humano, pois sem ela ele não pode ter nem buscar nenhum outro valor;

7) Por isso, o ser humano deve viver em razão de si próprio, de sua vida e de seu interesse em preserva-la e realiza-la — deixando que os demais seres humanos façam o mesmo;

8) Ainda por isso, o ser humano não deve sacrificar sua vida pelos outros — nem tentar sacrificar a vida dos outros por amor a si próprio;

9) A preservação de sua vida, para que ele possa alcançar sua felicidade racional e sua plena realização, é, portanto, o propósito moral mais elevado que o ser humano pode ter;

10) A única moralidade racional é, por conseguinte, a que se baseia no interesse próprio racionalmente percebido e moralmente justificado, e o único sistema sociopolítico racional, aquele que permite ao ser humano fazer isso e viver da maneira que ele racional e moralmente conclui que deve viver, é o liberalismo clássico.

Comparem o meu resumo com a fala dela…

Em Salto, 8 de Junho de 2016.

Site Antigo – Texto Corrido das 17 Páginas

Este era o meu site antigo dedicado às ideias de Ayn Rand, que existiu por 15 anos, de 1992 a 2007. Esta versão passou a existir a partir de Janeiro de 2005. Era hospedado no site http://aynrand.com.br. A primeira página, que aparecia na “Home Page”, faz referência ao fato de que em 2 de Fevereiro de 2005 estaríamos comemorando o centenário do nascimento de Ayn Rand. Essa página, portanto, e as que compõem o restante do site, estão datadas de mais de onze anos. O site, em si, foi criado bem antes, com uma estrutura mais simples, que foi se tornando mais complexa com o tempo, entre 1992 e 2005. Em 2007 eu o tirei do ar por uma série de razões, a principal das quais foi falta de tempo, relacionada ao fato que, tendo me aposentado, fui trabalhar no Governo do Estado de São Paulo por um tempo (como Secretário Adjunto de Ensino Superior, na gestão José Serra) e, depois, no Instituto Lumiar (hoje Fundação Ralston-Semler), como seu Presidente. Além disso, fui forçado a mudar de provedor, e, para manter os meus mais de vinte sites (naquela época) no ar teria de mudar milhares de arquivos de um site para o outro – e não tinha tempo.

Outra razão que afetou o redirecionamento de minhas atividades. Em 2004 me tornei um blogueiro. Comecei o meu blog Liberal Space em 4 de Dezembro daquele ano, instigado por minha amiga Márcia Teixeira, à época Gerente Senior da Área da Educação no Brasil da Microsoft Corporation. A Microsoft lançou naqueles dias um portal de blogs, chamado Microsoft Spaces, que achei fácil de usar. Resolvi, então, me aventurar. Deu certo. Aquele blog criado no finzinho de 2004 já tem mais de mil artigos — e gerou mais de trinta filhotes, dos quais o atual blog Ayn Rand Space é um deles.

Mas me atropelo e passo na frente de mim mesmo…

De 2007 para cá guardei os arquivos dos mais de vinte sites que eu tinha, inclusive os que aqui são apresentados, em backups localizados em um dos mais de 30 discos rígidos externos (USB) que tenho. Guardar é fácil. Encontrar o que foi guardado é o que é difícil.

Finalmente, em 7 de Junho de 2016, num lance de sorte, consegui localizar os benditos arquivos antigos que geravam o site. Reconstituí o site antigo aqui no meu MacBook Air, fiz printscreens das telas, e produzi essa obra histórica composta de quase vinte posts que começam com as palavras “Site Antigo”.

Tudo que está abaixo já foi publicado nos posts Site Antigo de 1 a 17. Aqui o conteúdo das dezessete páginas que o site de 1992-2007 possuía aparecem no formato de texto corrido, para facilitar a leitura dos corajosos que se aventurarem a ler o site inteiro.

Considero esta iniciativa minha de disponibilizar material que, apesar de ainda relevante, está desatualizado de mais de dez anos, uma contribuição para a história do renascimento do Liberalismo Clássico no Brasil, renascimento esse pelo qual, talvez, devamos ser gratos ao total desastre que foram esses últimos treze anos e meio de desgoverno socialista-bolivariano do PT. Ayn Rand foi parte integrante do renascimento do Liberalismo Clássico nos Estados Unidos e na Inglaterra. Nos Estados Unidos, ele veio através de Ronald Reagan, que gerenciou uma aliança das forças liberais clássicas com o Conservadorismo da direita religiosa. No Brasil ainda não sabemos qual a face que o Liberalismo Clássico vai ter nesse renascimento. Algumas pessoas que têm ajudado nesse renascimento, como Rodrigo Constantino e Reinaldo Azevedo, têm um perfil cultural e religiosamente conservador – que não se casa bem com as ideias de Ayn Rand. Por isso, nos Estados Unidos, ela viveu às turras com o Partido Republicano. Mas ela viveu às turras também com os Libertários, como Murray N. Rothbard, a quem eu muito admiro.

Admiro as ideias de Ayn Rand enormemente, mas pela personalidade dela não tenho nenhuma simpatia, em especial pela sua intolerância, exagerada beligerância, e ranhetice. Não gosto Leonard Peikoff, o herdeiro oficial dela, por tentar exibir as mesmas características, e o que é pior, sem ser  ela. Sigo muito mais a linha de David Kelley, que fundou o Institute of Objetivist Studies (IOS) em 1990 para resistir ao Ayn Rand Institute (ARI) dirigido por Peikoff. Posteriormente o IOS virou a Atlas Society (AS), que declara sua forma de uma maneira que faz por merecer o meu endosso total. Eis o que diz a AS:

Some twenty-five years ago, on February 24, 1990, George Walsh and David Kelley stood before a crowded lecture hall in New York City to announce the birth of the Institute for Objectivist Studies, now named The Atlas Society.

As the late Professor Walsh pointed out in introducing Dr. Kelley’s talk that evening, this was the first time in the history of Objectivist excommunications that the heretics did not simply walk away. Rather, it signaled the beginning of a new, independent, and open Objectivist movement, one that appreciates the fact that individuals must come to the truth in their own way and that takes a tolerant, rational attitude toward intellectual debate.

Since that day, we have worked to eliminate from Objectivism the closed and dogmatic attitudes that had kept it from spreading its life-affirming message. In addition to the achievements of our organization over the past two decades, it is gratifying to see the many other initiatives—groups, websites, and publications—that have enriched this new movement.

[http://atlassociety.org/about-us/the-objectivist-movement/the-founding-of-the-atlas-society]

É isso… Enjoy.

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Este o texto da primeira página, de Apresentação, que aparecia junto com a Home Page.

Apresentação

Em 2 de Fevereiro de 2005 estaremos comemorando o centenário de Ayn Rand.

Ayn Rand, cujo nome real era Alissa Z. Rosenbaum, é uma das maiores filósofas do século XX – embora tenha optado por divulgar sua filosofia, inicialmente, através de obras de ficção.

Este é o primeiro site brasileiro dedicado exclusivamente a divulgar as idéias de Ayn Rand. A ênfase será nas idéias de Ayn Rand, não na sua pessoa, embora sejam apresentados fatos de sua vida, à medida que possam lançar luz sobre suas idéias. (Os mais interessados em fatos sobre sua pessoa podem consultar os dados biográficos fornecidos por The Ayn Rand Institute).

Quatro das obras literárias de Ayn Rand — Atlas Shrugged (1957; em Português: Quem é John Galt?), The Fountainhead (1943; em Português: A Nascente), We the Living (inédito no Brasil) eAnthem (inédito no Brasil) — foram colocadas, pelos leitores da editora Random House (que publica a série Modern Library), entre os dez melhores livros do século, com Atlas Shrugged ficando em primeiro lugar, The Fountainhead em segundo e os outros dois livros em sétimo e oitavo lugar (Anthem em sétimo e We the Living em oitavo). [Vide a Lista completa].

Sua visão da ficção, que apela a tantos leitores numa época em que os principais personagens de ficção são anti-heróis, é a seguinte:

“A arte é uma recriação seletiva da realidade de acordo com os juizos metafísicos de valor do artista. A finalidade da arte é concretizar a visão que o artista tem da existência. . . . Sou uma Romântica no sentido de apresento o homem como ele deveria ser. Sou uma Realista no sentido de que o coloco aqui e agora neste mundo”.

(A tese de Mário Vargas Llosa de que “a ficção é a nossa tentativa de reconstruir a realidade como nós acreditamos que ela deveria ter sido” de certo modo ecoa essa visão randiana do papel da literatura).

Se você quiser ter uma idéia da natureza da ficção randiana, leia, aqui, um trecho de Atlas Shrugged, onde se descreve o que acontece quando uma sociedade resolve viver segundo a máxima “De cada um, conforme sua habilidade, a cada um, conforme sua necessidade”.

Depois do enorme sucesso de seu opus magnum, Atlas Shrugged, Ayn Rand resolveu se dedicar à filosofia de forma mais sistemática. Publicou vários ensaios nas áreas de Epistemologia (Introduction to Objectivist Epistemology, inédito no Brasil – veja um artigo que escrevi, em inglês sobre um aspecto importante da epistemologia randiana, a formação de conceitos), Ética (The Virtue of Selfishness, em Português: A Virtude do Egoísmo – veja alguns trechos sobre ética aqui), Filosofia Política (Capitalism: The Unknown Ideal, inédito no Brasil), Estética (The Romantic Manifest, inédito no Brasil). O seu livro Philosophy: Who Needs It? (inédito no Brasil) é uma eloqüente defesa da filosofia como atividade racional e objetiva (donde o termo “Objetivismo”).

Se você quiser ter uma visão das idéias básicas da filosofia randiana, o Objetivismo, leia o resumo que fiz delas.

Eduardo Chaves
eduardo@chaves.com.br
Campinas, SP

Este site é de inteira responsabilidade de Eduardo Chaves, filósofo (Teoria do Conhecimento,  Filosofia Política e Filosofia da Educação) na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Maiores informações sobre ele, bem como acesso a seus outros sites, podem ser obtidos por meio do site http://chaves.com.br.

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Este o texto da segunda página, que era uma Celebração (em Inglês) dos cem anos do nascimento de Ayn Rand em 5/2/2005.

Ayn Rand: Uma Celebração

Roy A. Childs, Jr.

[Escrito por Roy A. Childs, Jr. (falecido) em Junho de 1986. Publicado no site http://www.laissezfairebooks.com em 29 de Julho de 2000. Republicado neste site, em português, mediante autorização de Laissez-Faire Books. Tradução para o português de Eduardo Chaves]

Quando ela morreu, em Março de 1982, Ayn Rand estava perto de comemorar 40 anos de luta ativa pelos ideais da razão, do individualismo e do liberalismo / capitalismo laissez-faire. Através de seus romances, e, mais tarde, de seus ensaios e de seus livros de não-ficção, ela foi capaz de se comunicar com, literalmente, milhões de leitores ao redor do mundo, e deixou um legado permanente para as gerações futuras. Para leitores, atuais e futuros, faço aqui um breve apanhado a obra única de Ayn Rand.

A Obra de Ficção

Quando Ayn Rand (então ainda Alice Rosenbaum) chegou aos Estados Unidos em meados da década de vinte, ela não sabia quase nada de inglês – e, entretanto, havia decidido que faria sua carreira como romancista.

Seu primeiro romance, We The Living (Nós os que Vivemos), ambientado na Rússia da juventude de Rand, foi publicado 50 anos atrás [1936]. Seu tema é o indivíduo versus o estado. O livro descreve o impacto da Revolução Russa sobre três seres humanos que exigem o direito de viver suas próprias vidas e buscar sua própria felicidade. Para muitos leitores We The Living parece o romance mais íntimo e pessoal de Ayn Rand, e ela observou mais de uma vez que o livro era a coisa mais próxima de uma autobiografia que ela jamais escreveria. [NT: Durante o Fascismo foi feito, clandestinamente, um filme baseado nesse livro, que estrelou Rossano Brazzi].

Rand começou a trabalhar em seu livro The Fountainhead (A Nascente) nos anos finais da década de trinta e o publicou em 1943, depois de ver o manuscrito rejeitado por doze editoras. The Fountainhead é uma defesa apaixonada do individualismo contra as “vidas de segunda mão” vividas pela maioria das pessoas. Este foi o primeiro livro de Rand a ser lido por pessoas em todas as partes do mundo. Ele continua a vender cerca de 100.000 cópias a cada ano, tocando o mais íntimo de cada nova geração.

É impossível fazer justiça ao último romance de Ayn Rand em espaço tão limitado. Atlas Shrugged (Quem é John Galt?) é o opus magnum de Rand, um romance de idéias de tirar o fôlego, que lançou uma ideologia e um movimento.

Não há melhor maneira de apreciar a excitação fantástica que se produziu com a publicação de Atlas Shrugged, as aparições públicas de Ayn Rand e a publicação de sua obra de não ficção, do que analisá-los em contexto. Os anos que se seguiram à publicação de Atlas Shrugged, em 1957, foram anos de fermento intelectual nos Estados Unidos.

Atlas Shrugged foi publicado no final dos Anos Eisenhower, numa época que Daniel Bell veio a designar como a em que se processava “O Fim da Ideologia,” assim indicando que, para ele, o debate sobre “princípios fundamentais” havia chegado ao fim. Pressupunha-se, então, que “progresso” era sinônimo de uma marcha gradual na direção do socialismo, pois o livre mercado, que se acreditava estar batendo em retirada, era visto mais e mais como algo passé.

Mas então chegou Ayn Rand.

Atlas Shrugged atingiu a sociedade americana como uma bomba. Publicado no final de 1957, recebeu resenhas devastadoras dos críticos. Mas o importante é que o livro foi lido, e a excitação dos que o leram ia se espalhando pela cultura à medida que milhares, depois dezenas de milhares, depois centenas de milhares, depois milhões, leram essa obra magna que demonstra a força das idéias. Questões que eram consideradas “resolvidas” foram reabertas para debate. Atlas Shrugged era de tirar o fôlego em seu escopo, mas o que chamava a atenção era o fato de que o livro era uma defesa moral do capitalismo. Robert Hessen colocou a questão de maneira perfeita, para o New York Times, depois da morte de Ayn Rand em 1982:

“Havia muitas defesas do capitalismo contra o socialismo quando Atlas Shrugged apareceu no final dos anos 50, mas elas eram, em sua maioria, ‘economia de banheira’: você sabe, o capitalismo é superior ao socialismo porque é mais eficiente e faz banheiras maiores e melhores do que as feitas na União Soviética. Ayn Rand forneceu uma defesa moral que teve um efeito eletrizante em pessoas que nunca haviam ouvido o capitalismo ser defendido a não ser com base no desenvolvimento tecnológico. Ayn Rand deixou claro que uma sociedade livre é também uma sociedade produtiva, mas que o que importa é a liberdade do indivíduo”.

Atlas Shrugged fez aparecer, instantaneamente, um grupo de seguidores de Ayn Rand – e a colocou, até o fim de sua vida, no epicentro de controvérsia. Ayn Rand começou a falar nos campus universitários e a encher, a ponto de transbordo, os auditórios em que dava suas conferências. Seu programa de rádio e suas aparições na televisão foram objeto de um dilúvio de cartas. Ela era um fenômeno!

Depois de Atlas

Não há melhor maneira de mensurar avaliar sua influência do que ler, depois de A Paixão de Ayn Rand, os três volumes de newsletters que ela publicou nos anos 60 e 70: The Objectivist NewsletterThe Objectivist, e The Ayn Rand Letter.

Depois de Atlas Shrugged Ayn Rand não publicou mais nenhuma obra de ficção. Nem mesmo ela poderia ultrapassar o feito de Atlas. Ela decidiu, a partir daí, a espalhar sua influência de outras formas. Ela começou como romancista e se tornou uma pensadora e filósofa séria, que veio a grangear um grupo significativo de seguidores no mundo inteiro.

Começou em 1958 (ano seguinte ao da publicação de Atlas), quando dois associados de Ayn Rand, Nathaniel e Barbara Branden, resolveram criar o Nathaniel Branden Institute, chamado simplesmente de NBI. Eles davam cursos para aqueles que admiravam a obra de Ayn Rand. O primeiro curso – “The Basic Principles of Objectivism” [Os Princípios Básicos do Objetivismo] – foi dado a um punhado de alunos em New York, mas em poucos anos milhares de pessoas os estavam assistindo ou ouvido em fita (áudio). Ayn Rand começou a fazer conferências em importantes universidades para multidões que extravasavam os limites dos auditórios.

Ayn Rand se tornou a nascente [“fountainhead”] do Objetivismo, nome que ela deu à sua filosofia. Em 1961 ela publicou For the New Intellectual [Para o Novo Intelectual], uma coleção de passagens “filosóficas” de seus quatro romances que teve como introdução um ensaio com o título do livro, que era um desafio apaixonado e controvertido ao status quo intelectual.

Essa primeira coleção foi seguida de seis outras, uma publicada postumamente com introdução de Leonard Peikoff [Philosophy: Who Needs It? (Filosofia: Quem Precisa Dela?), todas elas, em parte, com material transcrito das três newsletters. Analisemos essas newsletters antes de discutir os livros.

Ayn Rand e os seus associados de então, Nathaniel e Barbara Branden, começaram a publicar The Objectivist Newsletter no final de 1961 – o primeiro número saiu, na verdade, em Janeiro de 1962. “Check Your Premises” [Verifique suas Premissas] era a coluna de Ayn Rand; “Choose Your Issues” [Escolha suas Causas] era sua mensagem de abertura. Barbara Branden veio a seguir com uma resenha de uma obra de Ludwig von Mises e Nathaniel Branden deu peso ao número com o primeiro episódio de “Intellectual Ammunition Department” [Departamento de Munição Intelectual]. Finalmente, Allan Greenspan [sim, ele mesmo!] escreveu “The Crisis Over Berlin” [A Crise em Relação a Berlim]. O estilo era urgente e agressivo. Que ninguém se engane, tratava-se de uma batalha intelectual, pois os Objetivistas declararam que o que estava em jogo eram princípios básicos, e que eles não eram conservadores: eram radicais defensores da liberdade e do capitalismo.

E é possível traçar o progresso. O “Objectivist Calendar” [Calendário Objetivista] mensal relatava conferências, livros, artigos, aparições em programas de rádio e de televisão, cursos, e muito mais. Barbara, Nathaniel, e Ayn Rand estavam constantemente diante do público, mas ensaios escritos por outras pessoas começavam a aparecer: Robert e Beatrice Hessen, Edith Efron, Joan Blumenthal e Martin Anderson, por exemplo. Rand se fazia presente todos os meses nas newsletters: criticando veementemente a FCC [Federal Communications Commission] e a legislação antitruste, prestando um tributo carinhoso a Marilyn Monroe, discutindo “Who Is the Final Authority in Ethics” [Quem é a Autoridade Final em Ética], fazendo reflexões sobre a campanha de Goldwater à Presidência, sobre “The Obliteration of Capitalism” [A Obliteração do Capitalismo], “Is Atlas Shrugging” [Está Atlas dando de Ombros?], e muito mais. De igual forma, Nathaniel Branden comentava questões teóricas como “The Stolen Concept” [O Conceito Roubado], “Agnosticism” [Agnosticismo], e outros. Mais tarde a newsletter recebeu um novo formato e um novo nome: The Objectivist. Mas o escopo intelectual permaneceu surpreendente.

Alguns dos ensaios foram reimpressos em suas coleções de ensaios, na forma de livros. Outros ensaios – algumas verdadeiras pérolas – não foram reimpressos, estando disponíveis apenas nos volumes encadernados das newsletters [ainda hoje comercializados].  Colaboradores de Ayn Rand contribuíram para as newsletters análises na área artística, como foi o caso de Kay Nolte Smith sobre Terence Rattigan, Joan Mitchell Blumenthal sobre “Art for Power’s Sake” [Arte por Amor ao Poder], Mary Ann Sures sobre “Metaphysics in Marble” [Metafísica em Mármore]. Robert Efron publicou “Biology Without Consciousness” [Biologia sem Consciência], Allan Blumenthal escreveu sobre psicoterapia, George Reisman publicou “Platonic Competition” [Competição Platônica], o filósofo George Walsh apresentou uma longa crítica do guru da Nova Esquerda, Herbert Marcuse. Ayn Rand escreveu ensaios sobre campanhas políticas, e sobre outros assuntos: “Apollo 11”, “Altruism as Appeasement” [Altruísmo como Tentativa de Pacificação], “Our Cultural Value-Deprivation” [Nossa Privação de Valores Culturais], e muitos mais. Nathaniel Branden escreveu ensaios pioneiros sobre livre arbítrio e determinismo, bem como sobre suas teorias psicológicas. (Mais tarde, alguns desses trabalhos foram publicados, na forma de livro, em The Psychology Of Self Esteem [A Psicologia da Auto-Estima]).

E então aconteceu a ruptura tumultuada. No final de 1968 foi publicado um número de The Objectivist (com data de “Maio”, mas só publicado no final de Setembro), com um sombrio ensaio de abertura: “To Whom It May Concern” [A Quem Possa Interessar]. O ensaio anunciava a decisão de Rand de cortar seus laços com Nathaniel e Barbara Branden. Naquele momento, eles tinham milhares de seguidores e cerca de 25.000 deles leram aquele número, que mostrava uma fratura irreparável dentro do movimento Objetvista. Ayn Rand continuou The Objectivist sozinha ainda durante cerca de três anos.

Então ela lançou The Ayn Rand Letter, que consistia principalmente de comentários sobre eventos correntes. Alguns de seus melhores ensaios estão no volume encadernado desta terceira fase das newsletters: artigos sobre Nixon, McGovern, Watergate, a abertura para com a China, controle de salários e de preços, inflação, as lições de Vietnã, e muitos, muitos outros assuntos.

Finalmente, foi demais. Ela foi operada de câncer no pulmão e recebeu uma visita traumática de sua única irmã viva, Nora. Seu marido, Frank O’Connor, também estava doente, degenerando mental e fisicamente. Tudo isso cobrou o seu pedágio. Houve algumas conferências mais, mas suas forças estavam desaparecendo. Logo haveria apenas silêncio – e um legado.

Ayn Rand partia.

O Legado

O Ayn Rand nos deixou? Inspiração, sabedoria, paixão, e muitas verdades. As pessoas às vezes zombava de sua constante recitação de princípios básicos, mas a verdade é que ninguém o fez melhor do que ela. A sua era uma inteligência ampla e profunda, mas houve momentos em que ela tomava uma posição política, ou histórica, com base em pouco conhecimento de detalhe. Ela não era uma leitora ávida.

Ainda assim, ela foi brilhante, prolífica e freqüentmente estava certa. Se você procura os essenciais de sua filosofia, tome os sete livros de não ficção que ela esceveu e releia as seleções dos discursos de seus romances em For The New Intellectual [Para O Novo Intelectual]. Philosophy: Who Needs It? [Filosofia: Quem Precisa Dela?] contém vários ensaios excelentes. Leia “Faith and Force: The Destroyers of the Modern World” [Fé e Força: Os Destruidores do Mundo Moderno], que não está disponível em nenhum outro local, e os três formidáveis ensaios: “The Metaphysical versus the Man-Made” [O Metafísico versus o Feito pelo Homem], “Kant versus Sullivan” [Kant versus Sullivan] (uma abordagem brilhante à epistemologia), e “Causality versus Duty” [Causalidade versus Dever]. Introduction to Objectivist Epistemology [Introdução à Epistemologia Objetivista] permance sua melhor obra de filosofia, mas “The Objectivist Ethics” [Ética Objetivista] em The Virtue of Selfishness [A Virtude do Egoísmo] não fica muito atrás. Outras pérolas estão espalhadas em Capitalism: The Unknown Ideal [Capitalismo: O Ideal Desconhecido], The New Left: The Anti-Industrial Revolution [A Nova Esquerda: A Revolução Anti-Industrial] (releia “The Comprachicos” [Os Comprachicos]), e The Romantic Manifesto [O Manifesto Romântico] (“Art and Cognition” [Arte e Cognição] é poderoso aqui).

Reler Ayn Rand nem sempre é fácil. Seu estilo é claro e preciso, mas a prosa pulsa com o ritmo da ficção, levando você adiante antes de você ter tempo de digerir um argumento. Ela está no seu melhor quando utiliza metáfora ou analogia, ou, então, curtas frases descritivas que vão direto à essencia de uma questão. Ela levanta questões intelectuais com o poder de uma contadora de histórias das melhores. Ela é direta. Ela é única. Ela é Ayn Rand.

Concordar com ela? Claro que sim, mas faça-o como ela o faria: com uma inteligência crítica; equacione o seu assentimento à evidência, como Brand Blanshard o faria. Discordar dela? Por que não – apenas não represente erradamente os seus pontos de vista, como muitos o fazem. Ignorá-la? Você vai ser esquecido antes.

Para o bem e para o mal, nunca haverá outro como ela. Leia The Passion of Ayn Rand [A Paixão de Ayn Rand], siga seus argumentos em The Objectivist NewsletterThe ObjectivistThe Ayn Rand Letter e suas coleções de não ficção, e você aprenderá a apreciar o que ela realizou.

No que diz respeito à razão, ao individualismo, e ao liberalismo e capitalismo laissez-faire, ela foi a primeira a atrair a atenção do mundo neste século. Ela falou para aquilo que é o melhor de nós – e nós ouvimos.

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Este o texto da terceira página, Resumo de Suas Ideias:

Ayn Rand: A Face Contemporânea do
Racionalismo, do Individualismo e do Liberalismo

 Eduardo Chaves

  1. Introdução: O Projeto de Ayn Rand
  2. A Filosofia
  3. A Metafísica
  4. A Epistemologia
  5. A Ética
  6. A Filosofia Política
  7. A Visão da Economia
  8. A Estética

“‘Deus, conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que posso, e sabedoria para discernir a diferença’.

Esta notável afirmação é atribuída a um teólogo de cujas idéias discordo em todos os aspectos fundamentais: Reinhold Niebuhr. Mas – omitindo-se a forma de oração, i.e., a implicação de que os estados mentais-emocionais de uma pessoa podem se transformar em realidade pela graça de Deus – esta afirmação é profundamente verdadeira, como um sumário e uma diretriz: ela explicita a atitude mental que um homem racional deve procurar alcançar. A afirmação é bela em sua eloqüente simplicidade; mas o alcançar daquela atitude envolve as questões morais-metafísicas mais profundas da filosofia.” [1]

1. Introdução: O Projeto de Ayn Rand

Ayn Rand certamente vai ser colocada entre as figuras mais importantes da filosofia do século XX e como a mais intransigente e coerente defensora da razão contra as várias formas de irracionalismo, do indivíduo contra as várias formas de coletivismo (social ou estatal), e da liberdade contra todas as formas de servitude. Mas a defesa do indivíduo e da liberdade se encaixam no contexto maior de sua defesa da razão. Na verdade, fazem parte de sua defesa da razão a defesa dos seguintes princípios, sem os quais a razão sossobra:

Realismo, na metafísica: a realidade existe, tem existência objetiva, e tem primazia sobre a consciência que dela tem o homem, ou seja, existe independentemente de ser percebida ou ser conhecida, não sendo, portanto, de maneira alguma, “construída” pela mente humana.

Empirismo, realismo, racionalismo, e objetivismo, na epistemologia: a realidade é cognoscível através dos sentidos e da razão; os sentidos fornecem a matéria prima que a razão identifica, analisa e integra na forma de conceitos, e esse conhecimento conceitual da realidade é objetivo.

Individualismo, egoísmo e racionalismo na ética: O indivíduo é a base de considerações morais, não o social, porque a razão é atributo do indivíduo, e não do coletivo, e é através da razão que o indivíduo define o código de valores que vai determinar sua conduta: um código baseado em seu auto-interesse racional (egoísmo), voltado para a preservação de seu valor supremo, a sua vida como ser racional (e conseqüentemente livre.

Liberalismo “laissez faire” na política: O único propósito defensável de um estado é defender os direitos do indivíduo à vida e à liberdade, protegendo-o contra a violência física, fraudes e quebra de contratos. Suas funções legítimas, portanto, devem se restringir a ser polícia (proteger o indivíduo de quem, dentro de uma unidade política, pode querer violar os seus direitos), ser exército (proteger o indivíduo de ameaças externas) e ser juiz (proteger os contratos e as propriedades do indivíduo contra quebra, fraude, roubo e outras ameaças.

Capitalismo na economia: O capitalismo é o único sistema econômico que preserva todos os outros princípios aqui enunciados; ele possui, portanto, um embasamento moral, e não meramente econômico ou pragmático.

A todo esse conjunto, que forma um dos poucos sistemas integrados e coerentes na filosofia do século XX, Ayn Rand deu o nome de Objetivismo (porque o termo “Racionalismo” já estava desgastado). Vamos discuti-lo em partes.

Mas é importante ressaltar desde já que o tema da razão pervade todos esses sub-temas. A própria Ayn Rand deixa isso claro:

“… Não sou primariamente uma advogada do capitalismo, mas do egoísmo; e não sou primariamente uma advogada do egoísmo, mas da razão. Se alguém reconhece a supremacia da razão e a aplica consistentemente, tudo o mais segue. Isto – a supremacia da razão – foi, é e será a preocupação primária de meu trabalho, e a essência do Objetivismo. … A razão na epistemologia leva ao egoísmo na ética, que por sua vez leva ao capitalismo na política. A estrutura hierárquica não pode ser invertida, nem pode um nível posterior se sustentar sem o fundamental” [2].

“Não podemos lutar contra o coletivismo, a menos que lutemos contra sua base moral: altruísmo. Não podemos lutar contra o altruísmo, a menos que lutemos contra sua base epistemológica: irracionalismo. Não podemos lutar contra nada – a menos que lutemos por alguma coisa: e aquilo pelo que devemos lutar é a supremacia da razão, e uma visão do homem como ser racional” [3].

2. A Filosofia

“A filosofia é a ciência que estuda os aspectos fundamentais da natureza da existência. A tarefa da filosofia é fornecer ao homem uma visão abrangente da vida. Essa visão serve como base, como quadro de referência, para suas ações, mentais ou físicas, psicológicas ou existenciais. Essa visão lhe define a natureza do universo com o qual ele tem que lidar (metafísica); os meios pelos quais ele deve lidar com o universo, i.e., os meios de obter conhecimento (epistemologia); os padrões mediante os quais ele deve escolher suas metas e seus valores, tanto em referência à sua vida e seu caráter (ética) como em referência à sociedade (política); e os meios de concretizar essa visão (estética). Ao homem não é dada a escolha de ter ou não ter uma visão abrangente da vida: ele não pode sobreviver sem ela. … Sua escolha … diz respeito somente à visão que ele vai escolher, se ela é verdadeira ou falsa. Se for falsa, ela acaba por funcionar como o seu próprio destruidor” [4].

3. A Metafísica

O moto citado no início deste trabalho é pleno de premissas filosóficas da mais alta importância. A maioria das pessoas, desconhecedoras deste fato, passam a maior parte de suas vidas em rebelião fútil contra coisas que não têm o poder de mudar, passivamente resignadas a coisas que poderiam mudar e sem jamais tentar descobrir quais são quais. O resultado desta postura filosófica é um sentimento crônico de dúvida sobre si próprio e de culpa. (E depois ainda há gente que duvida que a filosofia tenha implicações e conseqüências práticas… É uma filosofia inadequada que leva tanta gente aos divãs dos analistas).

A. A Primazia da Realidade

O moto retirado de Niebuhr reconhece que há coisas que o homem não pode mudar. Reconhece, portanto, que há coisas que não são afetadas por sua ação, que não são objeto de sua escolha e decisão: essas coisas são porque são, são porque assim nos são dadas. O moto reconhece, portanto, a primazia da realidade.

A primazia da realidade é o axioma (aparentemente trivial) de que o que existe, existe, i.e., de que o universo existe independentemente de nossa percepção, de nossa consciência dele, de nossos desejos, de nossos receios. As coisas na natureza são o que são, possuem uma natureza específica, uma identidade.

B. A Cognoscibilidade da Realidade

O corolário epistemológico deste axioma é que a realidade é cognoscível pelo homem, porque é parte da natureza do homem ser consciente (conscious) dessa realidade. Através de sua consciência, ou seja, de sua capacidade de perceber a realidade, o homem é capaz de conhecer o que existe. Este conhecimento da realidade se adquire olhando “para fora de si”, para a realidade.

Consciência é a capacidade de perceber aquilo que existe (Peikoff, 4).

C. Nota Sobre a Filosofia Moderna

A filosofia moderna tem invertido esses dois axiomas, com desastres inimagináveis por conseqüência. Afirma ela a primazia da consciência, não da realidade. “Esse est percipii”, dizia Berkeley, ser é ser percebido. Estava errado. “Esse est esse” – “A é A” – o princípio da identidade.

Mas a gênese do problema já está em Descartes e Kant colocou os retoques finais de acabamento nesse sistema irracional, tentando mostrar que não temos acesso às coisas elas-mesmas (noumena), à realidade, como ela é, mas apenas a fenômenos mentais, ou seja, às coisas (se é que podemos continuar a falar de “coisas”) como elas nos são representadas mentalmente (phenomena). Nunca vamos pode saber se nossas representações mentais correspondem à realidade, porque esta nos é inacessível.

Seus colegas contemporâneos (de Descartes e de Kant) persistem no erro. Para eles, o que percebemos não é a realidade externa, mas sensações, sense data, ou seja, nada mais do que o produto de nossa própria consciência.

Por isso é que a existência de um mundo exterior se tornou, absurdamente, um dos maiores problemas da filosofia moderna e contemporânea: como é que posso provar que existe, como causa de minhas sensações, uma realidade objetiva, se tudo o que percebo são as próprias sensações?

O corolário epistemológico do axioma metafísico que dá primazia à consciência é a noção de que se adquire conhecimento olhando para dentro, olhando para a nossa própria consciência ou estrutura mental – e não olhando para fora, para a realidade.

D. O Dualismo Sujeito – Objeto

Desta forma, a filosofia moderna perdeu de perspectiva o dualismo entre o sujeito cognoscente e a realidade cognoscível, entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Consciência e realidade passam a ser vistas como uma só coisa.

Esta distinção entre sujeito e objeto do conhecimento não nos é dada de forma automática: ela tem que ser aprendida. Ela está implícita em minha consciência mas tem que ser formulada conceitualmente e ser considerada como absoluta. Crianças e seres primitivos não fazem essa distinção com clareza.

Mesmo homens adultos e civilizados têm o poder de ignorar esta distinção. Ela não se impõe: o conhecimento da realidade não é automático. Para ver, não basta ter olhos, a despeito do que diz o Evangelho: é preciso tomar a decisão de ver, deixar que a razão aja sobre os dados perceptuais analizando-os, integrando-os. (O conhecimento não é “manifesto”, como diria Popper).

O homem tem a opção de perceber a realidade ou de fugir dela, de tentar mascará-la, de tentar forjar uma realidade “à sua própria imagem”, determinada por seus desejos e temores.

Conhecer a realidade é descobrir as características ou propriedades das coisas que existem, é descobrir e aceitar aquilo que é metafisicamente dado.

E. A Possibilidade de Intervenção sobre a Realidade

Mas o moto reconhece que há coisas que podem ser mudadas, e, portanto, que o homem tem capacidade de ação sobre a natureza, que algumas coisas estão sujeitas à sua vontade e à sua decisão. Mas é preciso deixar claros os limites: o único poder que o homem possui sobre a natureza é o de combinar ou rearranjar seus elementos para que estes sirvam às suas necessidades. É este o método de sobrevivência.

O homem não consegue criar algo a partir do nada. Sua criatividade é a de produzir arranjos ou combinações de elementos naturais que não existiam antes. Para dominar a natureza, ele precisa primeiro obedecê-la, como disse Francis Bacon (“Nature, to be commanded, must be obeyed”). Neste contexto, comandar a natureza significa arranjá-la de tal forma que sirva aos propósitos do homem; obedecê-la significa que os propósitos do homem não serão atingidos na natureza, a menos que ele descubra as propriedades dos elementos naturais e aja de maneira a respeitá-los.

F. Como Saber Discernir a Diferença?

A diferença entre aquilo que pode ser mudado e aquilo que não pode ser mudado se discerne através da razão – e aqui entramos no campo da epistemologia.

4. A Epistemologia

Os sentidos são a única fonte de informação que o homem tem acerca da realidade, sua única forma de contacto com ela. Sem evidência sensorial, não se pode falar em conceitos; sem conceitos não há linguagem; sem linguagem não há conhecimento [5].

O homem é um ser consciente. Sua consciência (consciousness [6]) é sua faculdade de perceber aquilo que existe. Uma consciência pura, sem nenhum objeto, é, portanto, algo impossível, uma contradição em termos. Também é impossível uma consciência consciente apenas de si própria. Antes que a consciência possa se identificar enquanto tal, ela precisa estar consciente de alguma coisa diferente de si própria [7].

A consciência do homem – bem como a existência de um mundo exterior do qual ele é consciente – é um primário irredutível que não pode ser analisado ou provado. Qualquer tentativa de prová-la ou a pressupõe ou envolve contradição [8].

Embora, cronologicamente, a consciência do homem se desenvolva em três estágios – sensação, percepção e concepção – epistemologicamente todo o conhecimento humano tem sua base na percepção e se coroa na concepção (que é a forma distintamente humana de conhecer) [9].

As sensações, enquanto tais, não são retidas na memória, e o homem não é capaz de experimentar uma sensação puramente isolada. Tanto quanto se possa determinar, a experiência sensorial de uma criança pequena é um caos não diferenciado. As sensações começam a ser discriminadas a nível da percepção [10].

Um perceito (lat. perceptum [11]) é um grupo de sensações automaticamente retido e integrado pelo cérebro de um organismo. É na forma de perceitos que o homem apreende a evidência de seus sentidos e percebe a realidade. Perceitos, não sensações, são o dado, o auto-evidente, aquilo a que nos referimos quando dizemos que alguma coisa é direta e imediatamente perceptível. O conhecimento das sensações que compõem um perceito não é dado – somente é adquirido pelo homem através de um complexo processo de descoberta [12].

Um conceito é uma integração mental de duas ou mais unidades que são isoladas de acordo com características específicas e unidas através de uma definição específica [13].

A formação de um conceito envolve esses dois elementos: primeiro isolamento de algumas características específicas compartilhadas por duas ou mais entidades, e, segundo, a integração dessas características em uma nova entidade – só que agora mental – que passa a ser usada como uma unidade de pensamento singular. O isolamento se dá através de um processo de abstração: algumas características são focalizadas (abstraídas), enquanto outras são ignoradas. Já a integração se dá através de uma definição, que dá ao conceito a sua identidade, e se consubstancia em um termo de nossa linguagem. A função da linguagem é, portanto, permitir que um conceito seja utilizado como uma unidade de pensamento singular. O termo que designa um conceito permite que este, que é geral, seja manipulado como se fosse um “concreto mental”. É a linguagem que permite que um conceito seja facilmente diferenciado de outros conceitos. Nomes próprios, por outro lado, são usados para identificar entidades particulares, não conceitos [14].

Formalmente, “um conceito é uma integração mental de duas ou mais unidades possuindo as mesmas características diferenciadoras, com suas medidas específicas omitidas” [15]. As unidades que são integradas no conceito são similares, entendendo-se por “similaridade” a relação que duas ou mais unidades têm entre si quando elas possuem as mesmas características mas em diferente medida ou grau [16].

Novos conceitos são formados pela integração, em categorias mais amplas, de conceitos anteriormente formados [17].

Pode haver conceitos de entidades (coisas), de atributos (características ou qualidades de entidades), de relações (entre entidades), de ações, etc. [18].

“Tanto quanto pode ser determinado, o nível perceptual da consciência (awareness) de uma criança é semelhante à consciência (awareness) dos animais mais elevados: esses animais são capazes de perceber entidades, moções, atributos e certos números de entidades. Mas o que um animal não pode realizar é o processo de abstração, o processo de mentalmente separar de entidades os atributos, moções ou números. Tem-se dito que um animal pode perceber duas laranjas ou duas batatas, mas não pode formar o conceito ‘dois'” [19].

“A consciência do homem compartilha com os animais os dois primeiros estágios de seu desenvolvimento [cognitivo]: sensações e percepções; mas é o terceiro estágio, concepções, que diferencia e caracteriza o homem. Sensações são integradas em percepções automaticamente, pelo cérebro do homem e do animal. Mas integrar percepções em concepções, por um processo de abstração, é um feito que apenas o homem consegue realizar – mas ele tem que realizá-lo por escolha. O processo de abstração, e de formação de conceito, é um processo da razão, do pensamento; não é automático, nem instintivo, nem involuntário, nem infalível. O homem tem que iniciá-lo, sustentá-lo, e assumir responsabilidade pelos seus resultados” [20].

Da mesma forma que o homem conhece a realidade exterior através da percepção, ele pode conhecer sua própria consciência formando conceitos acerca dos vários modos em que sua consciência atua:

“Para formar conceitos da consciência (consciousness) é preciso isolar a ação [mental] do conteúdo de um dado estado de consciência, através de um processo de abstração. Da mesma forma que, extrospectivamente, o homem pode abstrair atributos de entidades, também, introspectivamente, ele pode abstrair as ações de sua consciência de seus conteúdos, e observar as diferenças entre essas várias ações. Por exemplo (no nível do adulto), quando um homem vê uma mulher andando na rua, a ação de sua consciência é percepção; quando ele nota que ela é bela, a ação de sua consciência é avaliação; quando ele experimente um estado interior de prazer e aprovação, de admiração, a ação de sua consciência é emoção; quando ele pára para observá-la aí tira conclusões, a partir da evidência, sobre seu caráter, sua idade, sua posição social, etc., a ação de sua consciência é pensamento; quando, mais tarde, ele relembra o incidente, a ação de sua consciência é reminiscência; quando ele projeta que sua aparência ficaria melhorada se seu cabelo fosse loiro e não castanho, e seu vestido fosse azul em vez de vermelho, a ação de sua consciência é imaginação” [21].

No reino da introspecção, as unidades que são integradas para formar um determinado conceito são instâncias específicas de um dado processo psicológico [22]. A definição formal de um conceito referente à consciência é, portanto: “Um conceito referente à consciência é uma integração mental de duas ou mais instâncias de processos psicológicos possuindo as mesmas características diferenciadoras” [23].

“‘Sabemos que nada sabemos’, eles tagarelam, tentando ignorar o fato de que estão reivindicando conhecimento” [24].

Leonard Peikoff diz:

“O ceticismo cruzadístico da era moderna; o crescente ataque sobre absolutos, certeza, a própria razão; a insistência de que convicções firmes são uma doença e que o compromisso (compromise) em qualquer disputa é o único recurso – tudo isso, numa parcela significativa, é decorrência da abordagem básica de Descartes à filosofia. … Observe que Descartes começa seu sistema usando ‘erro’ e seus derivativos como ‘conceitos roubados’. Os homens podem estar errados, e, portanto, ele conclui, eles nunca podem conhecer o que é certo. Mas se eles não podem, como é que eles jamais descobriram que esrtavam errados? Como é que alguém pode formar o conceito de ‘erro’ sendo totalmente ignorante do que é correto? ‘Erro’ significa um distanciamento da verdade. O conceito de ‘erro’ logicamente pressupõe que alguém já apreendeu alguma verdade. Se a verdade fosse incognoscível, como Descartes dá a entender, a idéia de distanciamento dela seria sem sentido. … A falibilidade não torna o conhecimento impossível. É o conhecimento que torna possível descobrir a falibilidade” [25].

Como tudo o mais que existe, a consciência do homem tem uma natureza, tem uma identidade. Os homens reconhecem, sem maior dificuldade, que seu corpo, e mesmo as várias partes do seu corpo, têm naturezas ou identidades próprias, que determinam a forma em que são tratados. Conseqüentemente, escovam seus dentes, cortam suas unhas e seus cabelos, não tomam regularmente veneno, etc., porque a natureza de seus dentes, de suas unhas, de seus cabelos, de seus estômagos, exige esses cuidados. Contudo, não percebem que sua consciência também tem natureza e identidade própria, e portanto acreditam que sua consciência pode “engolir” qualquer coisa – ou pelo menos assim parece, até que são forçados a deitar, em agonia, no divã de um psicólogo [26].

Da mesma forma que “a natureza, para ser comandada, precisa ser obedecida”, a consciência, para ser apreendida e conhecida também tem que ser obedecida: as regras da cognição devem respeitar a natureza da realidade e da consciência [27].

É isso que é objetividade:

“A objetividade começa com a percepção (realization) de que o homem (incluindo todos os seus atributos e faculdades, mesmo sua consciência) é uma entidade de uma natureza específica e que precisa agir conformemente; que não há forma de escapar da lei de identidade, nem no universo com o qual ele lida nem nas operações de sua própria consciência; que se ele pretende adquirir conhecimento daquele, ele precisa primeiro descobrir o meio apropriado de utilizar esta; que não há espaço para o arbitrário na atividade do homem, menos de tudo em seu método de cognição; que assim como ele teve que atentar para critérios objetivos ao construir suas ferramentas físicas, tem, da mesma forma, que atentar para eles ao formar suas ferramentas de cognição: seus conceitos” [28].

Aquele que Ayn Rand chama de “místico” é o que se recusa a acreditar que a consciência, como todo existente, possui uma natureza, uma identidade, que funciona de certa maneira e não de outras [29].

A faculdade que dirige o processo de cognição é a razão; o processo, é o pensamento [30].

5. A Ética

A. O Conceito de Moralidade

A moralidade é um código de valores que guia as escolhas, decisões e ações dos homens, e, assim, determina o propósito e o curso de sua vida. É um código através do qual ele julga o que é certo ou errado, bom ou mal [31].

B. Moralidade e Valores

Mas, visto que a moralidade é um código de valores, cabe perguntar o que é um valor. Um valor, afirma Rand, é aquilo que alguém age para ganhar ou manter.

É importante distinguir aqui que, nesta definição inicial, Rand caracteriza aquilo que em realidade (de facto) tem valor para uma pessoa, não aquilo que deve (de jure) ter valor.

Um “valor supremo” (ou “valor último”), para uma pessoa, é aquele valor para o qual todos os outros valores são meios. Na verdade, é a existência de um valor supremo, que é, necessariamente, um fim em si mesmo, que permite que os meios de alcançá-lo se tornem valores (intermediários). “É apenas um alvo último, um fim em si mesmo, que torna a existência de valores possível” [32].

A noção de valor, assim conceituada, pressupõe que exista alguém que possa agir para ganhar ou manter alguma coisa, ou seja, que existam seres que possam se comportar de forma a atingir um alvo, uma meta [33].

Essa noção de valor pressupõe, também, que esse ser confronte alternativas, que existam várias e diferentes coisas que ele pode desejar ganhar ou manter [34].

Apenas seres vivos podem ter valores, pois somente eles, na natureza, podem agir para alcançar alvos e metas, e somente eles são confrontados por alternativas. (Conseqüentemente, dos seres vivos apenas o homem pode ter código de valores, moralidade e ética.)

A primeira questão que se levanta em relação a um código de valores diz respeito à razão pela qual seres humanos precisam de um código de valores [35].

Na verdade, os seres vivos precisam, antes de tudo mais, agir para manter suas vidas, visto que podem morrer, deixar de existir. A matéria não cessa de existir – ela apenas se transforma. Mas a vida termina: ela só é mantida através de um processo de ação que a gera e sustenta. Apenas seres vivos, portanto, são confrontados com a mais genuína de todas as decisões: a de continuar vivendo ou perecer, a da existência e da não-existência.

O valor último de qualquer organismo é, portanto, sua própria vida. Sem ela não há nenhum outro valor. Tudo o mais que tem valor para um organismo, tem valor intermediário, derivativo. O valor último, o fim em si mesmo, é a manutenção da vida, porque sem ela nada mais existe para o organismo, nada mais pode lhe ter valor. A vida é, portanto, o padrão de valor [36]: aquilo que contribui (como meio) para sua manutenção, tem valor (intermediário, subsidiário).

A vida de um organismo depende, do ponto de vista material, de haver suficiente combustível (alimentação) para que ela sobreviva, mas depende, também, do ponto de vista do organismo, de ele tomar as ações necessárias para fazer uso appropriado desse combustível.

Em relação a muitos organismos, esse processo é mais ou menos automático: as ações necessárias para se apropriarem do combustível necessário à manutenção de sua vida são tomadas de maneira instintiva, mais ou menos automática [37].

No caso de seres humanos, porém, esse automatismo é não-existente. “O homem nasce nu e desarmado, sem presas, garras, chifres ou conhecimento ‘instintivo'” [38]. O homem não toma, automática ou instintivamente, as ações necessárias para sobreviver: ele tem que escolher como agir, ele tem que conscientemente decidir. Se não fizer isso, morre. É isso o que Rand quer dizer quando afirma que o homem é um ser de “consciência volicional”: o homem, para sobreviver, tem que conscientemente decidir quais ações tomar para sobreviver.

Por causa disso, porque o homem é um ser de consciência volicional, porque ele precisa conscientemente decidir como agir para poder sobreviver, o homem precisa de um código de valores para orientá-lo em suas decisões. O homem tem que escolher um padrão de valor. A escolha racional aponta na direção de um padrão e um código de valores que geram e sustentam sua vida. Uma escolha irracional o levará a um código de valores que impede ou mesmo destrói a vida. E ele pode decidir não escolher o padrão objetivo: a vida. Nesse caso, suas ações levarão (eventualmente) … à sua destruição. Diz Rand:

“Vida ou morte é a única alternativa fundamental do homem. Viver é seu ato básico de escolha. Se ele escolhe viver, uma ética racional lhe dirá que princípios de ação são necessários para implementar sua escolha. Se ele não escolhe viver, a natureza se encarrega” [39].

Isso quer dizer que embora valores se apliquem a todos os seres vivos, a moralidade se aplica tão-somente ao homem – embora se aplique a todos os aspectos de sua vida: suas ações, seu caráter, sua relação com o restante da realidade [40].

C. Valores, Ética e Razão

A ética é a ciência que leva à definição desse código de valores [41].

Mas como é que se define esse código de valores?

Para que possa elaborar um código de valores que guie a sua conduta, ou seja, para que possa definir uma moralidade, o homem precisa conhecer a natureza do mundo que o cerca e a natureza de seus meios de cognição: isto é, ele precisa responder às questões colocadas pela metafísica e pela epistemologia, pois doutra forma não poder  saber o que fazer [42].

“A relação entre razão e moralidade é recíproca. O homem que aceita o papel de um animal sacrificial não obterá a auto-confiança necessária para sustentar a validade de sua mente. O homem que duvida da validade de sua mente não alcançará a auto-estima necessária para sustentar o valor de sua pessoa e descobrir as premissas morais que tornam possível o valor do homem” [43].

E o instrumento de cognição do homem é sua razão: é através dela que ele integra os elementos da percepção e assim vem a conhecer o mundo que o cerca.

“Na medida em que um homem é racional, vida é a premissa que dá direção às suas ações; na medida em que ele é irracional, a premissa que direciona suas ações é a morte” [44].

Isso significa que a ética não está fundamentada, como acreditam muitos filósofos, no sentimento, nas emoções, ou na intuição, nos costumes sociais, tampouco na noção de dever. Ela está fundamentada na razão [45]. Significa, além do mais, que a moralidade não é algo imposto sobre o homem porque ele vive em sociedade:

“Vocês que alardeiam que a moralidade é social, afirmam que o homem não precisaria da moralidade em uma ilha deserta. É numa ilha deserta que ele mais precisaria dela! Deixe que ele pretenda, em um tal lugar, quando não há nenhuma vítima que ele possa espoliar, que rocha é casa, que areia é vestimenta, que alimento vai cair em sua boca sem causa e esforço, que ele vai ter uma colheita amanhã devorando seu estoque de sementes hoje – e a realidade o varrerá da face da terra, como ele merece. A realidade lhe mostrará que a vida é um valor a ser comprado, e que o pensamento é a única moeda suficientemente nobre para adquiri-lo” [46].

Dois problemas:

Vida é o padrão objetivo de valor. No entanto, não é qualquer tipo de vida: é vida racional (King, pp.106-7)

“Tudo o que é próprio à vida de um ser racional é o bem; tudo aquilo que a destrói é o mal” [47].

“Há, em essência, três escolas de pensamento sobre o natureza do bem, a saber, as que vêem o bem como, respectivamente, intrínseco, subjetivo, e objetivo. A teoria do bem intrínseco mantém que o bem é inerente a certas coisas ou ações, enquanto tais, irrespectivamente de seu contexto e de suas conseqüências, independentemente do benefício ou injúria que possam causar aos atores e sujeitos envolvidos. … A teoria do bem subjetivo mantém que o bem não tem relação com os fatos da realidade, que ele é o produto da consciência do homem, criado por seus sentimentos, desejos, ‘intuições’, caprichos … A primeira dessas duas teorias mantém que o bem reside em alguma forma da realidade, independente da consciência do homem; a segunda, que o bem reside na consciência do homem, independente da realidade. A teoria do bem objetivo, por sua vez, mantém que o bem não é nem um atributo das ‘coisas em si mesmas’ nem dos estados emocionais do homem, mas uma avaliação dos fatos da realidade segundo um padrão racional de valor. (Racional, neste contexto, quer dizer: derivado dos fatos da realidade e validado por um processo racional; cp.Lexicon,218). A teoria objetiva mantém que o bem é um aspecto da realidade em relação ao homem – e o bem tem que ser descoberto, não inventado, pelo homem” [48].

O homem pode não escolher esse padrão — em cujo caso sua moralidade é uma moralidade de morte.

6. A Filosofia Política

“No espaço da duração de uma vida humana, duas guerras mundiais devastaram o mundo civilizado inteiro; duas ditaduras de grande porte, na Rússia e na Alemanha, cometeram tais atrocidades que a maior parte dos homens é incapaz de plenamente acreditar no que aconteceu; e o sangrento aumento do mando (rule) pela força bruta está se espalhando pelo mundo inteiro. Algo obviamente está errado com as idéias políticas da humanidade, e esse fato está a exigir atenção. Declarar, nessas circunstâncias, que política não é preocupação da filosofia é uma omissão tão indizível que pode ser comparada apenas à postura de um médico que declarasse, em meio a uma epidemia de peste bubônica, que saúde ou doença não é preocupação da medicina” [49].

Para viver o homem precisa de alimento, de abrigo. Essas coisas não crescem em árvores: elas exigem pensamento e trabalho produtivo.

“A característica essencial do homem é sua faculdade racional. A mente do homem é seu meio básico de sobrevivência – seu único meio de obter conhecimento. … Para sustentar a vida, todo espécie viva tem que seguir um certo curso de ação exigido pela sua natureza. A ação requerida para sustentar a vida humana é primariamente intelectual: tudo o que o homem precisa tem que ser descoberto pela sua mente e produzido pelo seu esforço. A produção é a aplicação da razão ao problema da sobrevivência” [50].

Pensamento:

“Visto que conhecimento, pensamento e ação racional são propriedades do indivíduo, visto que a escolha de exercer ou não sua faculdade racional depende do indivíduo, a sobrevivência do homem exige que aqueles que pensam sejam livres da interferência daqueles que não pensam. Visto que os homens não são nem oniscientes nem infalíveis, eles precisam ser livres para concordar e discordar, para cooperar ou seguir seu próprio curso independente, cada qual segundo o seu próprio julgamento racional. Liberdade é a exigência fundamental da mente humana” [51].

“Trabalho produtivo é o propósito central da vida de um homem racional, o valor central que integra e determina a hierarquia de todos os seus outros valores” [52].

Se alguém não trabalha, terá que viver do trabalho do outro. Para ser incentivado a trabalhar (além do mínimo indispensável à sua própria sobrevivência), o homem precisa ter a garantia de que o produto de seu trabalho será seu, não lhe será tirado, confiscado, roubado.

Para viver o homem precisa ter liberdade.

“Liberdade intelectual não pode existir sem liberdade política; liberdade política não pode existir sem liberdade econômica; uma mente livre e um mercado livre são corolários” [53].

7. A Visão da Economia

“O capitalismo exige o melhor de cada homem – sua racionalidade – e o recompensa em função do que ele dá. Ele deixa cada homem livre para escolher o trabalho de que gosta, para se especializar nele, para trocar seu produto pelos produtos dos outros, e para ir tão longe no caminho da realização quanto sua habilidade e sua ambição o levarem. Seu sucesso depende do valor objetivo de seu trabalho e da racionalidade daqueles que reconhecem aquele valor. Quando os homens são livres para trocar, com a razão e a realidade como seu único árbitro, quando nenhum homem puder usar a força física para extrair o consentimento de um outro, é o melhor produto e o melhor julgamento que ganharão em qualquer campo de empreendimento humano, e elevarão o  padrão de vida – e de pensamento –  cada vez mais alto para aqueles que participam da atividade produtiva da humanidade” [54].

No início se disse que a justificativa do capitalismo não é pragmática, mas, sim, moral.

“A justificativa moral do capitalismo é o direito do homem de viver para si mesmo (“for his own sake”), não se sacrificando pelos outros nem sacrificando os outros por si próprio; é o reconhecimento de que o homem – cada homem e todo homem – é um fim em si próprio, e não um meio para satisfazer as necessidades dos outros, não um animal sacrificial usado para satisfazer às necessidades de qualquer um” [55].

O juramento básico da sociedade randiana será: “Juro pela minha vida, e pelo amor que tenha a ela, que nunca viverei por amor a um outro homem (for the sake of another man), e que nunca pedirei que outro homem viva por amor a mim” [56].

“Cada homem é livre para tentar chegar até onde pode ou deseja chegar, mas é sua capacidade de pensar que determina até onde ele vai chegar. O valor do trabalho físico, como tal, não se estende além do momento em que é realizado. O homem que realiza apenas trabalho físico consome o valor material correspondente à sua contribuição ao processo de produção, e não deixa nenhum valor residual, nem para si, nem para os outros. Mas o homem que produz uma idéia em qualquer área de atividade racional – o homem que descobre novos conhecimentos – é o benfeitor permanente da humanidade. Produtos materiais não podem ser compartilhados – eles pertencem ao seu consumidor final. Apenas o valor de uma idéia pode ser compartilhado com um número ilimitado de pessoas, fazendo com que todos os que compartilham se tornem mais ricos, sem que ninguém se sacrifique ou perca. É o valor de seu próprio tempo que os intelectualmente fortes transferem aos fracos, deixando que estes trabalhem em empregos que aqueles tornaram possível, enquanto eles continuam a dedicar seu tempo a novas descobertas. Esta é uma permuta legítima que traz vantagens para ambos os lados. Os interesses da mente são unos, não importa o grau de inteligência envolvido, entre os homens que desejam trabalhar e não buscam nem esperam aquilo a que não fazem jus.

Em proporção à energia mental que ele usou, o homem que inventa alguma coisa recebe, como compensação material pelo seu trabalho, apenas um percentual pequeno do valor que gerou, não importa quão rico fique, nem quantos milhões ganhe. Mas o homem que trabalha como faxineiro na fábrica que produz os bens que aquela invenção tornou possível recebe um pagamento enorme em proporção ao esforço mental que aquele trabalho exige dele. E o mesmo vale para todos os homens entre esses dois extremos, não importa qual seja o nível de sua ambição ou habilidade. O homem no topo da pirâmide intelectual contribui o máximo para todos aqueles abaixo dele, mas nada recebe deles, exceto uma pequena retribruição material, pois não recebe deles nenhum bônus que possa acrescentar alguma coisa ao valor de seu tempo. O homem na parte inferior da pirâmide, entretanto, deixado à sua própria sorte, morreria de fome em sua desesperançada incapacidade (“ineptitude”), pois nada contribui para aqueles acima dele mas recebe o bônus de toda a habilidade intelectual destes. Esta é a natureza da ‘competição’ entre os intelectualmente fortes e os intelectualmente fracos. É essa a ‘exploração’ da qual se acusam os fortes” [57].

8. A Estética

“A arte é uma recriação seletiva da realidade de acordo com os juízos metafísicos de valor do artista. A finalidade da arte é concretizar a visão que o artista tem da existência. . . . Sou uma Romântica no sentido de apresento o homem como ele deveria ser. Sou uma Realista no sentido de que o coloco aqui e agora neste mundo”.

A tese de Mário Vargas Llosa, de que a ficção é a nossa tentativa de reconstruir a realidade como nós acreditamos que ela deveria ter sido, de certo modo ecoa essa visão randiana do papel da literatura.

NOTAS DE RODAPÉ

  1. Ayn Rand, “The Metaphysical and the Man-Made” (1973), in Philosophy: Who Needs It? (New American Library, New York, 1982; volume 1 of The Ayn Rand Library, editada por Leonard Peikoff), p.23, daqui em diante mencionado como PWNI.
  2. Ayn Rand, “Brief Summary”, in The Objectivist, September 1971, p.1089 (último número); Cf. também a Introdução de Leonard Peikoff a PWNI, p.vii.
  3. Ayn Rand, “Don’t Let it Go”, in PWNI, p.214 (penúltimo parágrafo do livro).
  4. Ayn Rand, “The Chicken’s Homecoming”, in The New Left: the Anti-Industrial Revolution (New American Library, Signet Books, New York, Edição Revista, 1965, 1975), p.107, daqui em diante mencionado como NL. Cf. “Philosophy: Who Needs It”, in PWNI, p. 2: “A filosofia estuda a natureza fundamental da existência [realidade; daquilo que existe], do homem e de sua relação com a realidade. Em contraposição às ciências especiais, que lidam com aspectos particulares daquilo que existe, a filosofia lida com aqueles aspectos da realidade que dizem respeito a tudo que existe”. Cf. também Leonard Peikoff, Objectivism, The Philosophy of Ayn Rand (Dutton, New York, 1991), p. 2: “Filosofia é a ciência que guia a faculdade conceptual do homem e tudo o mais que depende dessa faculdade”.
  5. Ayn Rand, “Kant Versus Sullivan”, in PWNI, p.90; Cf. The Ayn Rand Lexicon: Objectivism from A to Z, editado por Harry Biswanger (New American Library, New York, 1986; volume 4 of The Ayn Rand Library, editada por Leonard Peikoff), p.355. Daqui em diante este livro será mencionado simplesmente como “Lexikon”.
  6. A língua inglesa tem várias palavras que são de difícil tradução por palavras diferentes em português. Tem “consciousness” e tem “awareness”, para não mencionar “conscience”, palavras que podem ser traduzidas por “consciência” em português. Deixando de lado “conscience”, que é mais utilizada em contextos morais (em correspondência ao alemão “Gewissen”), ficamos ainda com “consciousness” e “awareness”, que acabei traduzindo pela mesma palavra “consciência” (em correspondência com o alemão “Bewusstsein”), mas indicando em parênteses, sempre que necessário, qual o termo no original inglês. Faço isso, apesar de Ayn Rand usar as duas palavras como sinônimos, como reconhece Harry Biswanger, quando, no verbete “Awareness”, remete o leitor para o verbete “Consciousness”, in The Ayn Rand Lexicon: Objectivism from A to Z (op.cit.), p.43.
  7. Ayn Rand, Atlas Shrugged (***), “O Discurso de Galt”, p.***, daqui em diante mencionado como AS. “O Discurso de Galt” foi reimpresso em For the New Intellectual (New American Library, Signet Books, New York, 1961), p.124. Daqui em diante esse livro vai ser mencionado apenas como FNI.
  8. Ayn Rand, Introduction to Objectivist Epistemology (New American Library, Mentor Books, New York, 1966, 1967), p.73, daqui em diante mencionado apenas como ITOE.
  9. Ayn Rand, ITOE, p.5.
  10. Ayn Rand, ITOE, p.5.
  11. Muitos podem estranhar esse neologismo, mas é um neologismo que faz sentido. Existem os verbos “conceber” e “perceber”. Aquilo que se concebe é um “conceito”; aquilo que se percebe é, eu sugiro, um “perceito”.
  12. Ayn Rand, ITOE, p.5.
  13. Ayn Rand, ITOE, p.11.
  14. Ayn Rand, ITOE, pp.11-12.
  15. Ayn Rand, ITOE, p.15. Todo o texto em itálico no original.
  16. Ayn Rand, ITOE, pp.15-16.
  17. Ayn Rand, ITOE, p.18.
  18. Ayn Rand, ITOE, pp.11,18.
  19. Ayn Rand, ITOE, p.19.
  20. Ayn Rand, “For the New Intellectual”, in FNI, pp.14-15.
  21. Ayn Rand, ITOE, p.38. (Cp. Lexicon, p.94).
  22. Ayn Rand, ITOE, p.39. (Cp. Lexicon, p.95).
  23. Ayn Rand, ITOE, p.40. (Cp. Lexicon, p.86).
  24. Ayn Rand, AS, “O Discurso de Galt”, p.***; reimpresso em FNI, p.154.
  25. Leonard Peikoff, “Maybe You’re Wrong’, in The Objectivist Forum, April 1981, p.8.
  26. Ayn Rand, “Our Cultural Value-Deprivation”, in The Objectivist, April 1966, p. *** da edição reimpressa e encardernada. (Lexicon, p.93).
  27. Ayn Rand, ITOE, p.110. (Cp. Lexicon, pp.87,93-94).
  28. Ayn Rand, ITOE, p.110. (Cp. Lexicon, pp.86-87).
  29. Ayn Rand, ITOE, p.106. (Cp. Lexicon, p.94).
  30. Ayn Rand, “The Objectivist Ethics”, in The Virtue of Selfishness (Signet Books, New York, 1964), p.20, daqui em diante mencionado como VOS. (Lexicon, p.87).
  31. Cf. Ayn Rand, “The Objectivist Ethics”, in VOS, p.13. Cf. Ayn Rand, “Faith and Force: The Destroyers of the Modern World”, in PWNI, p.61; “For the New Intellectual”, in FNI, p.18. Cf. J. Charles King, “Life and the Theory of Value: The Randian Argument Reconsidered”, in The Philosophic Thought of Ayn Rand, editado por Douglas J. Den Uyl e Douglas B. Rasmussen (University of Illinois Press, Urbana e Chicago, 1986), p.103.
  32. Ayn Rand, “Objectivist Ethics”, in VOS, p.17.
  33. Para Ayn Rand, isso significa que o homem age sob a lei da causalidade – da causalidade final de que fala Aristóteles. “Para fazer as escolhas requeridas para a atinção de seus alvos, o homem precisa estar constante e permanentemente consciente (awareness) do princípio da causalidade – especificamente, da causa final Aristotélica (que é, de fato, aplicável apenas a seres humanos), i.e., do processo pelo qual um fim determina os meios, i.e., do processo de escolher um alvo e tomar as ações necessárias para alcançá-lo”; “Causality Versus Duty”, in PWNI, p.99.
  34. Ayn Rand colocou essa questão da seguinte forma, em sua entrevista a Playboy: “A moralidade tem lugar somente na esfera da liberdade humana, somente quando se trata de ações que estão abertas à escolha do homem” (panfleto, p.4). Cf. Ayn Rand, AS, “O Discurso de Galt”, p. ***; reimpresso em FNI, p.136: “Um pecado sem volição é . . . uma insolente contradição de termos: aquilo que está fora da possibilidade de escolha está fora da província da moralidade”.
  35. Ayn Rand, “Objectivist Ethics”, in VOS, p.13.
  36. “Um ‘padrão’ é um princípio abstrato que serve como medida, como indicador (gauge) ou guia das escolhas de um homem na consecução de um propósito concreto, específico”; Ayn Rand, “Objectivist Ethics”, in  VOS, p.25. Outros padrões de valor que têm sido propostos para a ética são “a vontade de Deus”, “o bem da sociedade”, etc. Cf. pp.14 e 34 do mesmo artigo.
  37. “Um instinto de auto-preservação é precisamente o que o homem não possui. Um ‘instinto’ é uma forma inerrante e automática de conhecimento”; Ayn Rand, AS, “O Discurso de Galt”, p.*** ; reimpresso em FNI, p.121.
  38. Ayn Rand, “The Anti-Industrial Revolution”, in NL, p.136.
  39. Ayn Rand, “Causality versus Duty”, in PWNI, p.99.
  40. Cf. Ayn Rand, “Philosophy: Who Needs It?”, in PWNI, p.3.
  41. Ayn Rand, “Objectivist Ethics”, in VOS, p.13.
  42. Cf. Ayn Rand, “Philosophy: Who Needs It?”, in PWNI, p.3.
  43. Ayn Rand, “For the New Intellectual”, in FNI, pp.37-38.
  44. Ayn Rand, AS, “O Discurso de Galt”, p.***; reimpresso em FNI, p.127.
  45. Esta idéia é anátema na filosofia contemporânea. Mesmo um filósofo que a muitos pode parecer extremamente racional, como Bertrand Russell, se viu forçado a admitir, ao final de sua longa vida (mais de 90 anos), que, por mais que detestasse essa conclusão, a única coisa que ele conseguia encontrar de errado em Hitler e no Nazismo (bem como em outras coisas que ele condenava) é que eles fizeram coisas de que ele não gostava, que feriam aos seus sentimentos, à sua sensibilidade. Outros, admitia ele, poderiam ter gostos diferentes, sentimentos e sensibilidade mais resistentes…
  46. Ayn Rand, AS, “O Discurso de Galt”, p.(***); reimpresso em FNI, p.127.
  47. Ayn Rand, AS, “O Discurso de Galt”, p.(***); reimpresso em FNI, p.122.
  48. Ayn Rand, “What is Capitalism?”, in Capitalism: the Unknown Ideal (New American Library, Signet Books, New York, 1946, 1967), pp.21-22, daqui em diante mencionado como CUI.
  49. Ayn Rand, “The Chicken’s Homecoming”, in NL, pp.108-109.
  50. Ayn Rand, “What is Capitalism?”, in CUI, p.16.
  51. Ayn Rand, “What is Capitalism?”, in CUI,p.17.
  52. Ayn Rand, “Objectivist Ethics”,  in VOS, p.25.
  53. Ayn Rand, “For the New Intellectual”, in FNI, p.25.
  54. Ayn Rand, “For the New Intellectual”, in FNI, p.25-26.
  55. Ayn Rand, “Faith and Force”, in PWNI, p.67.
  56. Ayn Rand, AS, p. 680; cp. p.993, neste caso em “O Discurso de Galt”.
  57. Ayn Rand, AS, “O Discurso de Galt”, pp.988-989.

© Copyright by Eduardo Chaves

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Este é o texto da quarta página, uma Breve Biografia de Ayn Rand:

Biografia

1. RESUMO DA BIOGRAFIA

Nascimento e Primeira Infância

Ayn Rand nasceu no dia 2 de Fevereiro de 1905 em São Petersburgo, Rússia. Seu nome real era Alissa Rosenbaum. Seus pais, como sugere o nome, eram judeus. Ela só veio a adotar o nome Ayn Rand (que tem as mesmas iniciais de seu nome real) anos depois, como um “nom de plume”.

Seus pais eram proprietários de um próspero negócio na cidade e a família vivia confortavelmente em um amplo apartamento. As férias de verão eram passadas em resorts no campo – quando não em viagens à Inglaterra ou à Suíça.

A Escola e a Decisão de se Tornar uma Romancista

Aprendeu a ler quando tinha por volta de seis anos, basicamente sozinha, com pequena ajuda de seus pais. Quando entrou na escola, por volta dos oito anos (idade de começar a escola na sua região naquela época), já lia e escrevia com facilidade.

Achou a escola destestável (exceto pelas aulas de matemática, que a desafiavam). Especialmente ruim foi a experiência de ler os textos “água com açúcar” que lhe davam, cheio de melosidades. Consta que ela teria comentado que, não tendo o menor interesse em conhecer, na vida real, pessoas como as das histórias que a obrigavam a ler, por que deveria ler sobre elas?

Fora da escola ela descobriu um dia uma história de detetive – e aquela história, cheia de enredo, de aventuras perigosas e arriscadas, com desafios ao raciocínio e à engenhosidade, capturou a imaginação da menina.

Ayn Rand foi pouco a pouco percebendo que desejava encontrar pessoas interessantes, que valessem a pena conhecer – como o detetive da história… Por conseguinte, começou a procurar material para ler (em geral fora da escola) que lhe apresentasse pessoas do tipo que ela gostaria de conhecer.

Ela logo descobriu que não havia tanto material assim disponível. Descobriu ainda algo mais importante: que ela não deveria ficar passivamente esperando que outros lhe criassem os personagens que ela gostaria de conhecer: se ela quisesse que esses personagens heróicos existissem, teria que lhes dar vida ela mesma.

Assim, antes dos seus doze anos, Ayn Rand já havia escrito várias histórias (em geral durante as aulas maçantes) e decidido que seria uma romancista, porque descobriu que poderia criar, em suas histórias, pessoas e acontecimentos infinitamente mais interessantes do que aqueles que ela confrontava em sua vida diária. (Na verdade, a decisão parece ter sido tomada quando Rand tinha dez anos!)

Estava aqui, já em embrião, a visão (mais tarde elaborada por ela e um dia explicitada com muita clareza por Mário Vargas Llosa) de que a função do romancista, do autor de obra de ficção, é recriar a realidade, como ela deveria ter sido. Ela mesma exprimiu a idéia assim:

“A arte é uma recriação seletiva da realidade de acordo com os juízos metafísicos de valor do artista. A finalidade da arte é concretizar a visão que o artista tem da existência. . . . Sou uma Romântica no sentido de apresento o homem como ele deveria ser. Sou uma Realista no sentido de que o coloco aqui e agora neste mundo”.

A Revolução Russa

Vivia ela com essas idéias quando eclodiu a Revolução Russa de 1917, pegando-a com doze anos. Em regra uma menina normal de doze anos não teria uma visão muito clara do que estava acontecendo. Mas Rand não era uma menina normal. Era uma menina que já havia descoberto que o que é admirável no ser humano é a capacidade de ação e liderança do indivíduo, seu potencial de grandeza e heroísmo — e que uma vez que se descubra isso, nada menos é aceitável. .

A essa visão individualista, a Revolução Russa contrapõe a massa informe; a essa visão de que o indivíduo deve agir e criar aquilo que ele deseja, a Revolução Russa contrapõe a idéia de que é o estado que deve dar as pessoas aquilo de que elas precisam…

Não é de surpreender que Rand e o comunismo não se dessem bem. E nem tanto porque os comunistas lhe roubaram a casa e destruíram o negócio de seu pai: mas porque o Comunismo representava um ideário totalmente incompatível com aquele que cristalizava a sua visão.

O que surpreendia a ainda menina era o fato de que as pessoas lamentavam as dificuldades, mas quase ninguém se preocupava em discutir a ideologia que havia trazido aquelas dificuldades…

A ideologia comunista roubava a Rand o direito de definir sua própria vida e de viver para si – e procurava obrigá-la a viver para os outros. Essa ideologia era voltada para destruir o indivíduo inteligente, competente, ambiciosa e independente – fazendo dele um refém nas mãos da turba, um animal sacrificial cuja destruição serviria para satisfazer a inveja dos incompetentes tribalizados.

Rand começou a perceber ali que o direito do indivíduo à sua própria vida, e aos frutos do seu trabalho (propriedade), é um direito inalienável, que nenhum outro indivíduo, grupo, coletivo, classe ou estado pode violar.

[INCOMPLETO – A CONTINUAR]

2. LIVROS DE NATUREZA BIOGRÁFICA

Nathaniel Branden e Barbara Branden, Who Is Ayn Rand? (Random House, New York, 1962)

Barbara Branden, The Passion of Ayn Rand (Doubleday, New York, 1987)

Nathaniel Branden, Judgment Day: My Years with Ayn Rand (Houghton Mifflin, Boston, 1989)

Michael Paxton, Ayn Rand: A Sense of Life – The Companion Book, livro publicado para acompanhar o Documentário de Longa Duração com o título Ayn Rand: A Sense of Life ( Gibbs Smith, Layton, UT, 1998)

3. FILME SOBRE AYN RAND 

Ayn Rand: A Sense of Life, Documentário de Longa Duração indicado para o Oscar de 1998, produção de Image Entertainment, direção de Michael Paxton, estrelando Sharon Glass, em VHS e DVD (duração: 2h23m). [Cf. o livro, mencionado acima, Michael Paxton, Ayn Rand: A Sense of Life – The Companion Book, publicado para acompanhar o filme( Gibbs Smith, Layton, UT, 1998)]

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Este o texto da quinta página, a Linha do Tempo de Ayn Rand:

Linha do Tempo

1905 – Nasce Ayn Rand, como Alissa Rosenbaum, em São Petersburgo, Rússia, no dia 2 de Fevereiro.

1924 – Forma-se pela Universidade de Leningrado (novo nome de São Petersburgo, que antes de passar a chamar-se Leningrado ainda se chamou Petrogrado).

1926 – Deixa a Rússia para os Estados Unidos no dia 26 de Janeiro; comemora seu 21º aniversário em Berlin; chega em New York dia 18 de Fevereiro; depois de seis meses com parentes em Chicago muda-se sozinha para Hollywood, onde vai trabalhar para Cecil B. de Mille; no set das filmagens de “The King of Kings” (O Rei dos Reis) encontra Frank O’Connor, que virá a ser seu marido.

1929 – Casa-se com Frank O’Connor no dia 15 de Abril em Los Angeles.

1931 – Torna-se cidadã americana no dia 13 de Março.

1936 – Publica We The Living.

1938 – Publica Anthem na Inglaterra apenas; no dia 26 de Junho começa a escrever The Fountainhead.

1941 – Vende os direitos de publicação de The Fountainhead para a editora Bobbs-Merrill, depois de ter o romance rejeitado por doze outras editoras.

1942 – Termina The Fountainhead e entrega o manuscrito à editora no último dia do ano.

1943 – Publica The Fountainhead e vende os direitos de filmagem do romance para Warner Bros, com a condição de que ela mesma seja a roteirista.

1945 – Publica Anthem nos Estados Unidos, pela editora Pamphleteers.

1946 – Começa a escrever Atlas Shrugged no dia 2 de Setembro. [O dia 2 de setembro tem um significado especial no livro].

1949 – Lança o filme The Fountainhead, com Gary Cooper e Patricia Neal nos papéis principais.

1957 – Termina Atlas Shrugged em Março e o publica em 10 de Outubro.

1961 – Publica For the New Intellectual.

1962 – Inicia a publicação de The Objectivist Newsletter.

1964 – Publica The Virtue of Selfishness.

1966 – The Objectivist Newsletter muda de format e de nome para The Objectivist.

1966 – Publica Capitalism: The Unknown Ideal.

1970 – Publica The Romantic Manifesto.

1971 – Publica The New Left: The Anti-Industrial Revolution; encerra a publicação de The Objectivist e começa a publicar The Ayn Rand Letter.

1976 – Encerra a publicação de The Ayn Rand Letter.

1979 – Publica Introduction to Objectivist Epistemology; seu marido Frank O’Connor morre.

1981 – Dá sua última conferência, em New Orleans, sobre o título “The Sanction of the Victim”.

1982 – Morre em 6 de Março, aos 77 anos. No segundo semestre do ano sai publicado o livro Philosophy: Who Needs It?

[Dados retirados de muitas fontes, mas especialmente de Letters of Ayn Rand, editado por Michael S. Berliner e Leonard Peikoff, e de Atlas Shrugged: Manifesto of the Mind, de Mimi Reisel Gladstein. Há uma linha do tempo bem mais completa em http://www.aynrand.org/aynrand/timeline.shtml]

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Este o texto da sexta página, um resumo da Obra Filosófica de Ayn Rand:

Obra Filosófica
O Valor Reconhecido da Filosofia Randiana

Ayn Rand certamente vai ser colocada entre as figuras mais importantes da filosofia do século XX e como a mais intransigente e coerente defensora da razão contra as várias formas de irracionalismo, do indivíduo contra as várias formas de coletivismo (social ou estatal), e da liberdade contra todas as formas de servitude. Mas a defesa do indivíduo e da liberdade se encaixam no contexto maior de sua defesa da razão. Na verdade, fazem parte de sua defesa da razão a defesa dos seguintes princípios, sem os quais a razão sossobra:

Realismo, na metafísica: a realidade existe, tem existência objetiva, e tem primazia sobre a consciência que dela tem o homem, ou seja, existe independentemente de ser percebida ou ser conhecida, não sendo, portanto, de maneira alguma, “construída” pela mente humana.

Empirismo, realismo, racionalismo, e objetivismo, na epistemologia: a realidade é cognoscível através dos sentidos e da razão; os sentidos fornecem a matéria prima que a razão identifica, analisa e integra na forma de conceitos, e esse conhecimento conceitual da realidade é objetivo.

Individualismo, egoísmo e racionalismo na ética: O indivíduo é a base de considerações morais, não o social, porque a razão é atributo do indivíduo, e não do coletivo, e é através da razão que o indivíduo define o código de valores que vai determinar sua conduta: um código baseado em seu auto-interesse racional (egoísmo), voltado para a preservação de seu valor supremo, a sua vida como ser racional (e conseqüentemente livre).

Liberalismo “laissez faire” na política: O único propósito defensável de um estado é defender os direitos do indivíduo à vida e à liberdade, protegendo-o contra a violência física, fraudes e quebra de contratos. Suas funções legítimas, portanto, devem se restringir a ser polícia (proteger o indivíduo de quem, dentro de uma unidade política, pode querer violar os seus direitos), ser exército (proteger o indivíduo de ameaças externas) e ser juiz (proteger os contratos e as propriedades do indivíduo contra quebra, fraude, roubo e outras ameaças).

Capitalismo na economia: O capitalismo é o único sistema econômico que preserva todos os outros princípios aqui enunciados; ele possui, portanto, um embasamento moral, e não meramente econômico ou pragmático.

A todo esse conjunto, que forma um dos poucos sistemas integrados e coerentes na filosofia do século XX, Ayn Rand deu o nome de Objetivismo (porque o termo “Racionalismo” já estava desgastado). Vamos discuti-lo em partes.

Mas é importante ressaltar desde já que o tema da razão pervade todos esses sub-temas. A própria Ayn Rand deixa isso claro:

“… Não sou primariamente uma advogada do capitalismo, mas do egoísmo; e não sou primariamente uma advogada do egoísmo, mas da razão. Se alguém reconhece a supremacia da razão e a aplica consistentemente, tudo o mais segue. Isto – a supremacia da razão – foi, é e será a preocupação primária de meu trabalho, e a essência do Objetivismo. … A razão na epistemologia leva ao egoísmo na ética, que por sua vez leva ao capitalismo na política. A estrutura hierárquica não pode ser invertida, nem pode um nível posterior se sustentar sem o fundamental” [2].

“Não podemos lutar contra o coletivismo, a menos que lutemos contra sua base moral: altruísmo. Não podemos lutar contra o altruísmo, a menos que lutemos contra sua base epistemológica: irracionalismo. Não podemos lutar contra nada – a menos que lutemos por alguma coisa: e aquilo pelo que devemos lutar é a supremacia da razão, e uma visão do homem como ser racional” [3].

NOTAS DE RODAPÉ

  1. Ayn Rand, “The Metaphysical and the Man-Made” (1973), in Philosophy: Who Needs It? (New American Library, New York, 1982; volume 1 of The Ayn Rand Library, editada por Leonard Peikoff), p.23, daqui em diante mencionado como PWNI.
  2. Ayn Rand, “Brief Summary”, in The Objectivist, September 1971, p.1089 (último número); Cf. também a Introdução de Leonard Peikoff a PWNI, p.vii.
  3. Ayn Rand, “Don’t Let it Go”, in PWNI, p.214 (penúltimo parágrafo do livro).

[Este trecho foi transcrito de “Ayn Rand: A Face Contemporânea do Racionalismo, do Individualismo e do Liberalismo”, de Eduardo O C Chaves, que está disponível neste site na seção Resumo das Idéias]

Os livros de Ayn Rand que discutem filosofia de forma mais sistemática são, basicamente, os seguintes:

1. Livros Editados em Vida:

For the New Intellectual (The New American Library, New York, 1961)

The Virtue of Selfishness: A New Concept of Egoism (The New American Library, New York, 1964. Tradução para o português sob o título A Virtude do Egoísmo por OnLine Assessoria em Idiomas, revisão de Winston Ling e Cândido Mendes Prunes, publicado pela Editora Ortiz e pelo Instituto de Estudos Empresariais, Porto Alegre, 1991)

Capitalism: The Unknown Ideal (The New American Library, New York, 1966)

Introduction to Objectivist Epistemology (1ª edição, The Objectivist, New York, 1966-1967, e The New American Library, New York, 1979; 2ª edição, expandida, editada por Harry Binswanger e Leonard Peikoff, A Meridian Book, New York, 1990)

The Romantic Manifesto: A Philosophy of Literature (The New American Library, New York, Edição Revista, 1971)

The New Left: The Anti-Industrial Revolution (The New American Library, New York, Edição Revista, 1971; uma nova edição foi publicada em 1998, sob o título Return of the Primitive: The Anti-Industrial Revolution, editada por Peter Schwartz, A Meridian Book, New York, 1999)

2. Livros Editados Postumamente

Philosophy: Who Needs It? Introdução de Leonard Peikoff (New American Library, New York, 1982. Vol. I da Série The Ayn Rand Library)

The Early Ayn Rand: A Selection from Her Unpublished Fiction, editado, com Introdução, por Leonard Peikoff (New American Library, New York, 1984. Vol. II da Série The Ayn Rand Library)

The Voice of Reason: Essays in Objectivist Thought, editado por Leonard Peikoff (New American Library, 1988. Possivelmente este seja o Vol. III da Série The Ayn Rand Library, ao qual há pouca referência)

The Ayn Rand Lexikon: Objectivism from A to Z, editado por Harry Binswanger, com Introdução de Leonard Peikoff, New American Library, New York, 1986. Vol. IV da Série The Ayn Rand Library)

The Ayn Rand Column: A Collection of Her Weekly Newspaper Articles Written for the Los Angeles Times, com Introdução de Peter Schwarz (Second Renaissance Books, Oceanside, CA, 1991)

Letters of Ayn Rand, editado por Michael S. Berliner com Introdução de Leonard Peikoff (A Dutton Book, New York, 1995)

Journals of Ayn Rand, editado por David Harriman com Prefácio de Leonard Peikoff (A Dutton Book, 1997)

Why Businessmen Need Philosophy, editado por Richard E. Ralston (Ayn Rand Institute Press, 1999)

Ayn Rand’s Marginalia: Her Critical Comments on the Writings of over 20 Authors, editado por Robert Mayhew (Second Renaissance Books, New Milford, CT, 1995)

The Ayn Rand Reader, editado por Gary Hull e Leonard Peikoff, com Introdução de Leonard Peikoff (1998)

Russian Writings on Hollywood, editado por Michael S. Berliner (Ayn Rand Institute Press, 1999)

The Art of Fiction: A Guide for Writers & Readers,editado por Tore Boeckmann com Introdução de Leonard Peikoff (2000)

[Ainda continuam a sair livros de Ayn Rand editados postumamente por The Ayn Rand Institute, apesar de já se passarem 19 anos de sua morte. Leonard Peikoff foi incumbido por Ayn Rand de cuidar de seus manuscritos não publicados e de toda sua herança intelectual]

 3. Volumes com Newsletters:

The Objectivist Newsletter, Volumes 1-4, 1962-1965 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1967, 1982)

The Objectivist, Volumes 5-10, 1966-1971 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1982)

The Ayn Rand Letter, Volumes I-IV, 1971-1976 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1979, 1982, 1984)

Para adquirir uma cópia de A Virtude do Egoismo, tradução brasileira de The Virtue of Selfishness, ou de Objetivismo: A Filosofia de Ayn Rand?, tradução brasileira do livro de Leonard PeikoffObjectivism: The Philosophy of Ayn Rand (geralmente considerado o mais completo e sistemático tratamento das idéias de Ayn Rand), contate o Instituto Liberal do Rio Grande do Sul:

Instituto Liberal do Rio Grande do Sul
Inês Medvedovski, Secretária Executiva
Telefone: (51) 332-2376
E-Mail: il-rs@il-rs.com.br
Site: http://www.il-rs.com.br

O preço anunciado no site em 10/01/2001 é de R$ 20,00 e R$ 40,00, respectivamente. Confirme.

Ou, caso prefira, você pode adquiri-los em inglês de Laissez Faire Books ou de Amazon Books. Basta clicar no banner.

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Este o texto da sétima página, um resumo da Obra Literária de Ayn Rand:

Obra Literária
O Valor Reconhecido da Prosa Randiana

A Random House, editora americana que publica a famosa Modern Library, nos Estados Unidos, resolveu elaborar uma lista dos 100 melhores livros de ficção do século XX – baseada na opinião dos seus editores. Ao mesmo tempo, permitiu que o público leitor votasse sua própria lista das 100 melhores obras literárias dos últimos cem anos.

Eis o resultado dos dez primeiros da lista do público leitor, como divulgada no site http://www.randomhouse.com/modernlibrary/100best/novels.html. (A lista alcançou suficiente repercussão para ser comentada em The Economist, edição de 1/5-7/5 de 1999.

TODOS os quatro romances de Ayn Rand estão entre os dez primeiros colocados da lista dos leitores, os dois principais em primeiro e segundo lugar.

Eis “The Readers’ List”:

  1. Atlas Shrugged, de Ayn Rand
  2. The Fountainhead, de Ayn Rand
  3. Battlefield Earth, de L. Ron Hubbard
  4. The Lord of the Rings, de J.R.R. Tolkien
  5. To Kill a Mockingbird, de Harper Lee
  6. 1984, de George Orwell
  7. Anthem, de Ayn Rand
  8. We the Living, de Ayn Rand
  9. Mission Earth, de L. Ron Hubbard
  10. Fear, de L. Ron Hubbard

Eis as informações sobre a edição de cada um dessas quatro obras de ficção:

We The Living (Random House, New York, 1936)

Anthem (Pamphleteers, 1946, escrito em 1937)

The Fountainhead (The Bobbs-Merrill Co., Chicago, IL, 1943; brochura pela New American Library, New York. Tradução para o português sob o título A Nascente, publicado por  )

Atlas Shrugged (Random House, New York, 1957; brochura pela New American Library, New York. Tradução para o português sob o título Quem é John Galt? por Paulo Henriques Britto, publicado pelo Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1987)

Em pesquisa feita em 1991 pelo Book of the Month Club e pela Library of Congress, Atlas Shrugged foi, depois da Bíblia, o livro que mais afetou a vida dos leitores do Book of the Month Club (http://www.aynrand.org/medialink/pr013101.shtml).

Para adquirir uma cópia de A Nascente, tradução brasileira de The Fountainhead, ou de Quem é John Galt?, tradução brasileira de Atlas Shrugged, contate o Instituto Liberal do Rio Grande do Sul:

Instituto Liberal do Rio Grande do Sul
Inês Medvedovski, Secretária Executiva
Telefone: (51) 332-2376
E-Mail: il-rs@il-rs.com.br
Site: http://www.il-rs.com.br

O preço anunciado no site em 10/01/2001 é de R$ 28,00 e R$ 42,00, respectivamente. Confirme.

Ou, caso prefira, você pode adquiri-los em inglês de Laissez Faire Books ou de Amazon Books. Basta clicar no banner.

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Este o texto da oitava página, as Newsletters de Ayn Rand:

Newsletters

Durante quinze anos de sua vida, de 1962 a 1976, Ayn Rand publicou newsletters (usando três títulos diferentes para elas).

Felizmente elas estão hoje coletadas em três grandes volumes, e, portanto, são facilmente acessíveis por parte dos interessados. São estes os volumes:

The Objectivist Newsletter, Volumes 1-4, 1962-1965 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1967, 1982)

The Objectivist, Volumes 5-10, 1966-1971 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1982)

The Ayn Rand Letter, Volumes I-IV, 1971-1976 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1979, 1982, 1984)

Os três volumes são comercializados por Second Renaissance Books (http://www.secondrenaissance.com.br) pelo valor de US$ 129.85, custando US$ 23.95 a remessa para o Brasil (dados obtidos no site em 10 de janeiro de 2001 – por favor, confira).

As newsletters de Ayn Rand mostram a filósofa em seu dia-a-dia, fazendo resenhas de livros publicados por outros autores, comentando assuntos de natureza filosófica, política ou artística, discutindo acontecimentos que ela considerava importantes (como a expedição da espaçonave Apollo-11 ou a morte de Marilyn Monroe), esclarecendo o ponto de vista Objetivista através de artigos e comentários, etc. Alguns de seus principais associados, como Nathaniel Branden e, depois, Leonard Peikoff, também escrevem nas newsletters. Elas são indispensáveis para quem deseja fazer um estudo sério do pensamento de Rand.

Você pode adquiri-las em inglês de Laissez Faire Books ou de Amazon Books. Basta clicar no banner.

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Este o texto da nona página, as Cartas de Ayn Rand:

As Cartas de Ayn Rand

Em 1995 o mundo foi brindado com Letters of Ayn Rand, livro de cerca de 680 páginas, editado por Michael S. Berliner com Introdução de Leonard Peikoff (A Dutton Book, New York, 1995), que transcreve, em edição crítica, inúmeras cartas de Ayn Rand.

As cartas estão dispostas nas seguintes seções:

  1. Arrival in America to We The Living(1926-1936)
  2. We the Livingto The Fountainhead (1937-1943)
  3. Letters to Frank Lloyd Wright
  4. Return to Hollywoord (1944)
  5. Letters to Isabel Petterson
  6. The Fountainheadand Atlas Shrugged Years (1945-1959)
  7. Letters to a Philosopher
  8. The Later Years (1960-1981)

Appendix: A Letter from Ayn Rand “To the Readers of The Fountainhead” (1945)

Este livro pode ser adquirido de Laissez Faire Books — basta clicar no banner para chegar lá.

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Este o texto da décima página, os Diários de Ayn Rand:

Os Diários de Bordo de Ayn Rand

Em 1997 o mundo foi brindado com Journals of Ayn Rand, editado por David Harriman com Prefácio de Leonard Peikoff (A Dutton Book, 1997), livro de mais de 700 páginas que contêm as anotações que Ayn Rand fazia enquanto planejava e redigia seus livros.

O livro está divido em cinco partes e dezesseis capítulos, a saber:

Part 1: Early Projects

1 – The Hollywood Years

2 – We The Living

3 – First Philosophic Journal

Part 2: The Fountainhead 

4 – Theme and Characters

5 – Architectural Research

6 – Plot

7 – Notes While Writing

Part 3 – Transition Between Novels

8 – The Moral Basis of Individualism

9 – Top Secret

10 – Communismo and HUAC

Part 4 – Atlas Shrugged

11 – The Mind on Strike

12 – Final Preparations

13 – Notes While Writing: 1947-1952

14 – Notes While Writing Galt’s Speech

Part 5 – Final Years 

15 – Notes: 1955-1977

16 – Two Possible Books

Este livro pode ser adquirido em inglês de Laissez Faire Books ou de Amazon Books. Basta clicar no banner.

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Este o texto da décima primeira página, a Filmografia de Ayn Rand:

Filmografia

1. FILMES BASEADOS EM LIVROS DE AYN RAND

A. We the Living (Drama, 1942-43)

Filmado clandestinamente na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.

Título Original: Noi Vivi

Direção: Goffredo Alessandrini

Atores Principais:

Rossano Brazzi

Alida Valli

Fosco Giachetti

Disponível em VHS (duas fitas)

Sinopse (retirada de Yahoo Movies [http://movies.yahoo.com]):

Based on Ayn Rand’s best-selling novel. A woman in revolutionary Russia accepts a communist party member’s advances in order to save the life of the man she really loves. Rand’s anti-communist message valuing the individual over the state interestingly struck just as resonant a chord in fascist Italy. The film was banned (despite its popularity) by Mussolini.

B. The Fountainhead (Drama, 1949)

Produção: Henry Blanke

Direção: King Vidor

Roteiro: Ayn Rand

Fotografia: Robert Burks

Música: Max Steiner

Atores:

Gary Cooper no papel de Howard Roark

Patricia Neal no papel de Dominique Francon

Robert Douglas no papel de Ellsworth Toohey

Kent Smith no papel de Peter Keating

Raymond Massey no papel de Gail Wynand

Henry Hull

Filme em branco e preto, 1h49m de duração, Warner Brothers, 1949

Disponível em VHS

Sinopse (retirada de Yahoo Movies [http://movies.yahoo.com]):

Long treasured as a masterpiece of camp, THE FOUNTAINHEAD stars Gary Cooper as architect Howard Roark. A paragon of integrity, he refuses to create buildings that violate his sense of aesthetic value, choosing instead to work as laborer until he can find funding for his own projects. He becomes involved with wealthy Dominique (Patricia Neal), a woman who combines sexual aggressiveness with an abiding belief that a woman must be subdued in order to love. Roark accepts a commission to build a public-housing project provided that no changes be made to his radical design. When a team of architects is employed to humanize his work, the enraged architect blows up the entire complex. He’s placed on trial and is forced to defend the extremity of his action. One of the most unusual artifacts ever to emerge from Hollywood, Ayn Rand’s adaptation of her novel is a contradictory hodgepodge of sub-Nietzschean musing, so laden with wooden rhetoric and hysterical ranting that it could never be mistaken for any speech ever uttered on this planet. The bizarre miscasting of Cooper as an arrogant Ubermann and Patricia Neal as a mildly sadomasochistic intellectual only add to the fun. In the legendary scene in which Dominique watches Roark pound his pneumatic drill into the quarry rockface, there’s no mistaking the beatific look on her face for intellectual excitement.

2. FILMES COM ROTEIRO DE AYN RAND

A. Love Letters (Drama, 1945)

Produção: Hal B. Wallis

Direção: William Dieterle

Roteiro: Ayn Rand

Diretores Artísticos: Hans Dreier e Roland Anderson

Fotografia: Lee Garmes

Música: Victor Young

Atores Principais:

Jennifer Jones

Joseph Cotton

Ann Richards

Gladys Cooper

Anita Louise

Sinopse (retirada de Yahoo Movies [http://movies.yahoo.com]):

Surprisingly, this Gothic romance was chosen as the favorite film of American troops stationed overseas in 1945. It stars Joseph Cotten as Alan Quinton, a thoughtful, world-weary serviceman stationed in Italy during WWII who agrees to write love letters on behalf of his less verbally adept friend Roger (Robert Sully). In the course of his exchanges with Roger’s girlfriend, he finds himself falling in love with her. Roger returns to England and marries the woman and, not long after, is found stabbed to death. Alan, still bearing scars from the war, ends up in rural England and one day happens upon a woman named Singleton (Jennifer Jones). He realizes that she is the woman he wrote to, now suffering from amnesia as a result of her husband’s violent death. The couple fall in love and plan to marry, but Alan must still uncover the mystery of what happened on the day that his friend was murdered and his wife lost her memory. Cotten and Jones have real chemistry, and the expressionistic camarawork of Lee Garmes is brilliant.

B. You Came Along (Drama, Romance, 1945)

Produção: Hal B. Wallis

Direção: John Farrow

Roteiro: Ayn Rand e Robert Smith

Fotografia: Daniel L. Fapp

Atores Principais:

Robert Cummings

Lizabeth Scott

Don DeFore

Charles Drake

Julie Bishop

Kim Hunter

Robert Sully

Hellen Forrest

Rhys Williams

Franklin Pangborn

Minor Watson

Howard Freeman

Andrew Tombes

Preto e Branco, 103 minutos, Paramount Pictures

3. FILME SOBRE AYN RAND 

Ayn Rand: A Sense of Life (Documentário, 1998)

Documentário de Longa Duração indicado para o Oscar de 1998 nessa categoria.

Produção, Direção e Roteiro: Michael Paxton

Narração: Sharon Glass

Atriz Principal: Sharon Glass

Em VHS e DVD, duração: 2h23m.

Sinopse (retirada de Yahoo Movies [http://movies.yahoo.com]):

The first authorized film to look at the life and work of the controversial Russian-born author, writer of such renowned novels as THE FOUNTAINHEAD and ATLAS SHRUGGED. Includes Rand’s early years in Russia, her escape from Communists to New York, and her years of writing on behalf of her political philosophy, Objectivism. Academy Award Nomination, Best Documentary Feature.

[Cf. o livro, mencionado acima, Michael Paxton, Ayn Rand: A Sense of Life – The Companion Book, publicado para acompanhar o filme ( Gibbs Smith, Layton, UT, 1998)] [Cf. o sitehttp://www.asenseoflife.com].

Estes filmes também podem ser adquiridos de Laissez Faire Books ou de Amazon Books. Basta clicar no banner.

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Este o texto da décima segunda página, as Trechos da Obra de Ayn Rand:

Trechos da Obra

Segue abaixo um trecho memorável de uma obra em que Ayn Rand mostra, de forma extremamente convincente, a inviabilidade de uma sociedade baseada no princípio marxista “De cada um, conforme sua capacidade, para cada um, conforme sua necessidade”.

O trecho é longo — é parte de Atlas Shrugged (1957; em Português: Quem é John Galt? [Editora Expressão e Cultura, 1987]), romance em que Ayn Rand conta, entre outras coisas, como uma fábrica de ponta e extremamente produtiva é destruída por idéias igualitárias. A transcrição é segundo o texto da tradução (pp. 510-517).

A maior parte do trecho é uma explicação, por parte de um ex-empregado, e dada a uma mulher que o entrevistava, de porque a fábrica faliu. Ironicamente, a fábrica se chamava Motores Século Vinte (Twentieth-Century Motors).

Trata-se de uma obra de ficção – ma non troppo. . . O livro foi recentemente votado pelos leitores, na Internet, a obra de ficção mais importante do século XX. Vide a página de referência. [Se preferir ler a passagem em Espanhol, clique aqui].

[p.510] Bem, foi uma coisa que aconteceu na fábrica onde eu trabalhei durante vinte anos. Foi quando o velho morreu e os herdeiros tomaram conta. Eles eram três, dois filhos e uma filha, e inventaram um novo plano para administrar a fábrica. Deixaram a gente votar, também, para aceitar ou não o plano, e todo mundo, quase todo mundo, votou a favor. A gente não sabia, pensava que fosse bom. Não, também não é bem isso, não. A gente pensavam que queriam que a gente achasse que era bom. O plano era o seguinte: cada um trabalhava conforme sua capacidade, e recebia conforme sua necessidade. . . .

Aprovamos o tal plano numa grande assembléia: nós éramos seis mil, todo mundo que trabalhava na fábrica. Os herdeiros do velho Starnes fizeram uns discursos compridos, e ninguém entendeu muito bem, mas ninguém fez nenhuma pergunta. Ninguém sabia como plano ia funcionar, mas cada um achava que o outro sabia. E quem tinha dúvida se sentia culpado e não dizia nada, porque do jeito como os herdeiros falavam, quem fosse contra era desumano e assassino de criancinha. Disseram que esse plano ia concretizar um nobre ideal. Como é que a gente podia saber? Não era isso que a gente ouvia a vida inteira dos pais, professores e pastores, em todos os jornais, filmes e discursos políticos? Não diziam sempre que isso é que era certo e justo? Bem, pode ser que a gente tenha alguma desculpa para o que fez naquela assembléia. O fato é que votamos a favor do plano, e o que aconteceu conosco depois foi merecido.

A senhora sabe, nós que trabalhamos lá na Século Vinte durante aqueles quatro anos, somos homens marcados. O que é que dizem que o inferno é? O mal, o mal puro, nu, absoluto, não é? Pois foi isso que a gente viu e ajudou a fazer, e acho que todos nós estamos malditos, e talvez nunca mais vamos ter perdão. . .

A senhora quer saber como funcionou o tal plano, e o que aconteceu com as pessoas? É como derramar água dentro de um tanque onde tem um cano no fundo puxando mais água do que entra, e cada balde que a senhora derrama lá dentro o cano alarga mais um bocado, e quanto mais a senhor trabalha, mais exigem da senhora, e no final a senhora está despejando balde quarenta horas por semana, depois quarenta e oito, depois cinqüenta e seis, para o jantar do vizinho, para a operação da mulher dele, para o sarampo do filho dele, para a cadeira de rodas da mãe dele, para a camisa do tio dele, para a escola do sobrinho dele, para o bebê do vizinho, para o bebê que ainda vai nascer, para todo mundo à sua volta, tudo é para eles, desde as fraldas até as dentaduras, e só o trabalho é seu, trabalhar da hora em que o sol nasce até escurecer, mês após mês, ano após ano, ganhando só suor, o prazer só deles, durante toda a sua vida, sem descansar, sem esperança, sem fim. . . .

De cada um, conforme sua capacidade, para cada um, conforme sua necessidade. . . .

Nós somos uma grande família, todo mundo, é o que nos diziam, estamos todos [p.511] no mesmo barco. Mas não é todo mundo que passa dez horas com um maçarico na mão, nem todo mundo que fica com dor de barriga ao mesmo tempo. Capacidade de quem? Necessidade de quem, quem tem prioridade? Quando é tudo uma coisa só, ninguém pode dizer quais são as suas necessidades, não é? Senão qualquer um pode dizer que necessita de um iate, e se só o que conta são os sentimentos dele, ele acaba até provando que tem razão. Por que não? Se eu só tenho o direito de ter carro depois que eu trabalhei tanto que fui parar no hospital, depois de garantir um carro para todo vagabundo e todo selvagem nu do mundo, por que ele não pode exigir de mim um iate também, se eu ainda tenho capacidade de trabalhar? Não pode? Então ele não pode exigir que eu tome meu café sem leite até ele conseguir pintar a sala de visitas dele? . . .

Pois é. . . . Mas aí decidiram que ninguém tinha direito de julgar suas próprias capacidades e necessidades. Tudo era resolvido na base da votação. Sim, senhora, tudo era votado em assembléia duas vezes por ano. Não tinha outro jeito, não é? E a senhora imagina o que acontecia nessas assembléias? Bastou a primeira para a gente descobrir que todo mundo tinha virado mendigo — mendigos, esfarrapados, humilhados, todos nós, porque nenhum homem podia dizer que fazia jus a seu salário, não tinha direitos nem fazia jus a nada, não era dono de seu trabalho, o trabalho pertencia à ‘família’, e ele não lhe devia nada em troca, a única coisa que cada um tinha era a sua ‘necessidade’, e aí tinha que pedir em público que atendessem às suas necessidades, como qualquer parasita, enumerando todos os seus problemas, até os remendos na calça e os resfriados da esposa, na esperança de que a ‘família’ lhe jogasse uma esmola. O jeito era chorar miséria, porque era a sua miséria, e não o seu trabalho, que agora era a moeda corrente de lá.

Assim, a coisa virou um concurso de misérias disputado por seis mil pedintes, cada um chorando mais miséria que o outro. Não tinha outro jeito, não é? A senhora imagina o que aconteceu, que tipo de homem ficava calado, com vergonha, e que tipo de homem levava a melhor?

Mas tem mais. Mais uma coisa que a gente descobriu na mesma assembléia. A produção da fábrica tinha caído quarenta por cento naquele primeiro semestre, e aí concluiu-se que alguém não tinha usado toda a sua ‘capacidade’. Quem? Como descobrir? A ‘família’ decidia isso no voto, também. Escolhiam no voto quais eram os melhores trabalhadores, e esses eram condenados a trabalhar mais, fazer hora extra todas as noites durante os próximos seis meses. E sem ganhar nada mais, porque a gente ganhava não por tempo nem por trabalho, e sim conforme a necessidade.

Será necessário explicar o que aconteceu depois disso? Explicar que tipo de criaturas nós fomos virando, nós que antes éramos seres humanos? Começamos a esconder toda a nossa capacidade, trabalhar mais devagar, ficar de olho para ter certeza de que a gente não trabalhava mais depressa nem melhor do que o colega ao nosso lado. Tinha que ser assim, pois a gente sabia que quem desse o melhor de si para a ‘família’ não ganhava elogio nem recompensa, mas castigo. Sabíamos que para cada imbecil que estragasse um motor e desse um prejuízo para a fábrica — ou por desleixo, porque ele não tinha nenhum motivo para caprichar, ou por pura incompetência — quem ia ter que pagar era a gente, trabalhando de noite e no domingo. Assim, a gente se esforçava o máximo para ser o pior possível.

Havia um garoto que começou todo empolgado com o nobre ideal, um garoto muito vivo, sem instrução, mas um crânio. No primeiro ano ele inventou um processo que economizava milhares de homens-hora. Deu de mão beijada a descoberta dele para a ‘família’, não pediu nada em troca, nem podia, mas não se incomodava com isso. Era tudo pelo ideal, dizia ele. Mas quando foi eleito um dos mais capazes e condenado a trabalhar de noite, ele fechou a boca e o cérebro. No ano seguinte, é claro, não teve nenhuma idéia brilhante.

A vida inteira nos ensinaram que os lucros e a competição tinham um efeito nefasto, que era terrível um competir com o outro para ver quem era melhor, não é? Nefasto? Pois deviam ver o que acontecia quando um competia com o outro para ver quem era o pior.

Não há maneira melhor de destruir um homem do que obrigá-lo a tentar NÃO fazer o melhor de que é capaz, a se esforçar por fazer o pior possível, dia após dia. Isso mata mais [p.512] depressa do que a bebida, a vadiagem, a vida de crime. Mas para nós a única saída era fingir incompetência. A única acusação que temíamos era a de que tínhamos capacidade. A capacidade era como uma hipoteca que não se termina de pagar.

E trabalhar para quê? A gente sabia que o mínimo para a sobrevivência era dado a todo mundo, quer trabalhasse quer não, a chamada ‘ajuda de custo para moradia e alimentação’, e mais do que isso não se tinha como ganhar, por mais que se esforçasse. Não se podia ter certeza de que seria possível comprar uma muda de roupas no ano seguinte — a senhora podia ou não ganhar uma ‘ajuda de custo para vestimentas’, dependendo de quantas pessoas quebrassem a perna, precisassem ser operadas, ou tivessem mais filhos. E se não havia dinheiro para todo mundo comprar roupas, então a senhora também ficava sem roupa nova.

Havia um homem que tinha passado a vida toda trabalhando até não poder mais, porque queria que seu filho fizesse faculdade. Pois bem, o garoto terminou o secundário no segundo ano de vigência do plano, mas a ‘família’ não quis dar ao homem uma ‘ajuda de custo’ para pagar a faculdade do filho. Disseram que o filho só ia poder entrar para a faculdade quando houvesse dinheiro para os filhos de todos entrarem para a faculdade — e, para isso, era preciso primeiro pagar a escola secundária dos filhos de todos, e não havia dinheiro nem para isso. O homem morreu no ano seguinte, numa briga de faca num bar, uma briga sem motivo; brigas desse tipo estavam se tornando cada vez mais comum entre nós.

Havia um sujeito mais velho, um viúvo sem família, que tinha um hobby: colecionar discos. Acho que era a única coisa de que ele gostava na vida. Antigamente, ele costumava ficar sem almoçar para ter dinheiro para comprar mais um disco clássico. Pois não lhe deram nenhuma ‘ajuda de custo’ para comprar discos — disseram que aquilo era ‘luxo pessoal’. Mas, naquela mesma assembléia, votaram a favor de dar para uma tal de Millie Bush, filha de alguém, uma garotinha de oito anos, feia e má, um aparelho de ouro para corrigir seus dentes — isto era uma ‘necessidade médica’, porque o psicólogo da empresa disse que a coitadinha ia ficar com complexo de inferioridade se seus dentes não fossem endireitados. O velho que gostava de música passou a beber. Chegou a um ponto em que nunca mais era visto sóbrio. Mas parece que uma coisa ele nunca esqueceu. Uma noite, ele vinha cambaleando pela rua quando viu a tal da Millie Bush: deu-lhe um soco que lhe quebrou todos os dentes. Todos.

A bebida, naturalmente, era a solução para a qual todos nós apelávamos, uns mais, outros menos. Não me pergunte onde é que achávamos dinheiro para isso. Quando todos os prazeres decentes são proibidos, sempre se dá um jeito de gozar os prazeres que não prestam. Ninguém arromba mercearias à noite nem rouba o colega para comprar discos clássicos nem caniços de pesca, mas se é para tomar um porre e esquecer, faz-se de tudo. Caniços de pesca? Armas para caçar? Máquinas fotográficas? Hobbies? Não havia ‘ajuda de custo de entretenimento’ para ninguém. O ‘entretenimento’ foi a primeira coisa que eles cortaram. Pois a gente não deve ter vergonha de reclamar quando alguém pede para abrirmos mão de uma coisa que nos dá prazer? Até mesmo a nossa ‘ajuda de custo de fumo’ foi racionada a ponto de só recebermos dois maços de cigarro por mês — e isso, diziam eles, porque o dinheiro estava indo para o fundo do leite dos bebês.

Os bebês eram o único produto que havia em quantidades cada vez maiores — porque as pessoas não tinham outra coisa para fazer, imagino, e porque não tinham que se preocupar com os gastos da criação dos bebês, já que eram uma responsabilidade da ‘família’. Aliás, a melhor maneira de conseguir um aumento e poder ficar mais folgado por uns tempos era ganhar uma ‘ajuda de custo para bebês’ — ou isso ou arranjar uma doença séria.

Não demorou muito para a gente entender como a coisa funcionava. Todo aquele que resolvia fazer tudo certinho tinha que se abster de tudo. Tinha que perder toda a vontade de gozar qualquer prazer, não gostar de fumar um cigarro nem mascar um chiclete, porque alguém podia ter uma necessidade maior do dinheiro gasto naquele cigarro ou chiclete. Sentia vergonha cada vez que engolia uma garfada de comida, pensando em quem tinha tido que trabalhar de noite para [p.513] pagar aquela garfada, sabendo que a comida que comia não era sua por direito, sentindo a vontade infame de ser trapaceado ao invés de trapacear, ser um pato e não um sanguessuga. Não podia ajudar os pais, para não colocar um fardo mais pesado sobre os ombros da ‘família’. Além disso, se ele tivesse um mínimo de senso de responsabilidade, não podia nem casar nem ter filhos, pois não podia planejar nada, prometer nada, contar com nada.

Mas os indolentes e irresponsáveis se deram bem. Arranjaram filhos, seduziram moças, trouxeram todos os parentes imprestáveis que tinham, todas as irmãs solteiras grávidas, para receber uma ‘ajuda de custo de doença’, inventaram todas as doenças possíveis, sem que os médicos pudessem provar a fraude, estragaram suas roupas, seus móveis, suas casas — pois não era a ‘família’ que estava pagando? Descobriram muito mais ‘necessidades’ do que os outros — desenvolveram um talento especial para isso, a única capacidade que demonstraram.

Deus me livre! A senhora entende? Compreendemos que nos tinham dado uma lei, uma lei MORAL, segundo eles, que punia aqueles que a observavam — pelo fato de a observarem. Quanto mais a senhora tentava seguir essa lei, mais a senhora sofria; quanto mais a senhora a violava, mais lucrava. A sua honestidade era como um instrumento nas mãos da desonestidade do próximo. Os honestos pagavam, e os desonestos lucravam. Os honestos perdiam, os desonestos, ganhavam. Com esse tipo de padrão do que é certo e errado, por quanto tempo os homens poderiam permanecer honestos? No começo éramos pessoas bem honestas, e só havia uns poucos aproveitadores. Éramos competentes, orgulhávamo-nos do nosso trabalho, e éramos empregados da melhor fábrica do país, para a qual o velho Starnes só contratava a nata dos trabalhadores. Um ano depois da implantação do plano não havia mais um homem honesto entre nós. Era ISSO o mal, o horror infernal que os pregadores usavam para assustar os fiéis, mas que a gente nunca imaginava ver em vida.

A questão não foi que o plano estimulasse uns poucos corruptos, e sim que ele corrompia pessoas honestas, e o efeito não podia ser outro — e era isso que chamavam de idéia moral!

Queriam que trabalhássemos em nome de quê? Do amor pelos nossos irmãos? Que irmãos? Os parasitas, os sanguessugas que víamos ao redor? E se eles eram desonestos ou se eram incompetentes, se não tinham vontade ou não tinham capacidade de trabalhar — que diferença fazia para nós? Se estávamos presos para o resto da vida àquele nível de incompetência, fosse verdadeiro ou fingido, por quanto tempo nos daríamos o trabalho de seguir em frente? Não tínhamos como saber qual era a verdadeira capacidade deles, não tínhamos como controlar suas necessidades — só sabíamos que éramos burros de carga lutando às cegas num lugar que era meio hospital, meio curral — um lugar onde só incentivavam a incompetência, as catástrofes, as doenças – burros de carga que só serviam às necessidades que os outros afirmavam ter.

Amor fraternal? Foi aí que aprendemos, pela primeira vez na vida, a odiar nossos irmãos. Começamos a odiá-los por cada refeição que faziam, cada pequeno prazer que gozavam, a camisa nova de um, o chapéu da esposa do outro, o passeio que um dava com a família, a reforma que o outro fazia na sua casa — tudo aquilo era tirado de nós, era pago pelas nossas privações, nossa renúncias, nossa fome.

Um começou a espionar o outro, cada um tentando flagrar o outro em alguma mentira sobre as suas necessidades, para cortar sua ‘ajuda de custo’ na próxima assembléia. começaram a surgir delatores, que descobriam que alguém tinha comprado clandestinamente um peru para a família num domingo qualquer, provavelmente com o dinheiro que ganhara no jogo. Começamos a nos meter um na vida do outro. Provocávamos brigas de família, para conseguir que os parentes de alguns saíssem da lista de beneficiados. Toda vez que víamos algum homem começando namorar uma moça, tornávamos a vida dele um inferno. Fizemos muitos noivados se romperem. Não queríamos que ninguém se casasse: não queríamos mais dependentes para alimentar.

Antigamente, comemorávamos quando alguém tinha filho, todo mundo contribuía para ajudar a pagar a conta do hospital, quando os pais estavam sem dinheiro no momento. Agora, quando nascia uma criança, ficávamos sem falar com os pais. Para nós, os bebês eram [p.514] agora o que os gafanhotos são para os fazendeiros.

Antigamente, ajudávamos quem tinha um doente na família. Agora . . . Vou contar só um caso para a senhora. Era a mãe de um homem que estava trabalhando conosco há quinze anos. Era uma senhora simpática, alegre e sábia, conhecia todos nós pelo primeiro nome, todos nós gostávamos dela, antes. Um dia ela escorregou na escada do porão, caiu e quebrou a bacia. Nós sabíamos o que isso representava para uma pessoa daquela idade. O médico disse que ela teria que ser hospitalizada, para fazer um tratamento caro e demorado. A velha morreu na véspera do dia em que ia ser removida para o hospital. Ninguém nunca explicou a causa da morte dela. Não, não sei se foi assassinada. Ninguém disse isso. Ninguém comentava nada sobre o assunto. A única coisa que eu sei — e disso nunca vou me esquecer — é que eu, também, quando dei por mim estava rezando para que ela morresse. Que Deus nos perdoe! Era essa a fraternidade, a segurança, a abundância que nos haviam prometido com a adoção do plano.

[p.515] E quando a gente via isso, entendia qual era a motivação verdadeira de todo mundo que já pregou o princípio “de cada um conforme sua capacidade, a cada um conforme sua necessidade”. Era esse o segredo da coisa. De início, eu não entendia como é que os homens instruídos, cultos e famosos do mundo poderiam fazer um erro como esse e pregar que esse tipo de abominação era direita — quando bastavam cinco minutos de reflexão para eles verem o que aconteceria quando alguém tentasse pôr em prática essa idéia. Agora eu sei que eles não defendiam isso por erro. Ninguém faz um erro desse tamanho inocentemente. Quando os homens defendem alguma loucura malévola, quando não têm como fazer essa idéia funcionar na prática e não têm um motivo que possa explicar essa sua escolha, então é porque não querem revelar o verdadeiro motivo.

E nós também não éramos tão inocentes assim, quando votamos a favor daquele plano na primeira assembléia. Não fizemos isso só porque acreditávamos naquelas besteiradas que eles vomitavam. Nós tínhamos outro motivo, mas as besteiradas nos ajudavam a escondê-lo dos outros e de nós mesmos, nos davam uma oportunidade de dar a impressão de que era virtude algo que tínhamos vergonha de assumir. Cada um que aprovou o plano achava que, num sistema assim, conseguiria faturar em cima dos lucros dos homens mais capazes. Cada um, por mais rico e inteligente que fosse, achava que havia alguém mais rico e mais inteligente, e que esse plano lhe daria acesso a uma fatia da riqueza e da inteligência daqueles que eram melhores que ele. Mas enquanto ele pensava que ia ganhar aquilo que ele não merecia e que cabia aos que lhe eram superiores, ele esquecia os homens que lhe eram inferiores e que iam querer roubá-lo tanto quanto ele queria roubar seus superiores. O trabalhador que gostava de pensar que suas necessidades lhe davam o direito de ter uma limusine igual à do patrão se esquecia de que todo vagabundo e mendigo do mundo viria gritando que as necessidades deles lhes davam o direito de ter uma geladeira igual à do trabalhador. Era ESSE o nosso motivo para aprovar o plano, na verdade, mas não gostávamos de pensar nisso: e então, quanto mais a idéia nos desagradava, mais alto gritávamos que éramos a favor do bem comum.

Bem, tivemos o que merecíamos. Quando vimos o que havíamos pedido, era tarde demais. Tínhamos caído numa armadilha, e não tínhamos para onde ir. Os melhores de nós saíram da fábrica na primeira semana de vigência do plano. Perdemos nossos melhores engenheiros, superintendentes, chefes, os trabalhadores mais [p.516] qualificados. Quem tem amor-próprio não se deixa transformar em vaca leiteira para ser ordenhada pelos outros. Alguns sujeitos capacitados tentaram seguir em frente, mas não conseguiram agüentar muito tempo. A gente estava sempre perdendo os melhores, que viviam fugindo da fábrica como o diabo da cruz, até que só restavam os homens necessitados, sem mais nenhum dos capacitados. E os poucos que ainda valiam alguma coisa eram aqueles que já estavam lá havia muito tempo.

Antigamente, ninguém pedia demissão da Século Vinte, e a gente não conseguia se convencer de que a Século Vinte não existia mais. Depois de algum tempo, não podíamos mais pedir demissão porque nenhum outro empregador nos aceitaria, aliás com razão. Ninguém queria ter qualquer tipo de relacionamento conosco, nenhuma pessoa nem firma respeitável. Todas as pequenas lojas com que negociávamos começaram a sair de Starnesville depressa, e no final só restavam bares, cassinos e salafrários que nos vendiam porcarias a preços exorbitantes. As esmolas que recebíamos eram cada vez menores, mas o custo de vida subia. A lista dos necessitados da fábrica não parava de aumentar, mas a lista de fregueses diminuía. Havia cada vez menos renda para dividir entre cada vez mais pessoas.

Antigamente, dizia-se que a marca da Século Vinte era tão confiável quanto a marca de quilates num lingote de ouro. Não sei o que pensavam os herdeiros do velho Starnes, se é que eles pensavam alguma coisa, mas imagino que, como todos os planejadores sociais e selvagens, eles achavam que essa marca era um selo mágico que tinha um poder sobrenatural que os manteria ricos, tal como havia enriquecido seu pai. Mas quando nossos fregueses começaram a perceber que nunca conseguíamos entregar uma encomenda dentro do prazo, nem produzir um motor que não tivesse algum defeito, o selo mágico passou a ter o valor oposto: as pessoas não queriam um motor nem dado, se ele ostentasse o selo da Século Vinte.

E no final nossos fregueses eram todos do tipo que nunca pagam o que devem, e nunca têm mesmo intenção de pagar. Mas Gerald Starnes, dopado por sua própria publicidade, ficava todo empertigado, com ar de superioridade moral, exigindo que os empresários comprassem nossos motores, não porque eles fossem bons, mas porque tínhamos muita NECESSIDADE de encomendas.

Àquela altura qualquer imbecil já podia ver o que gerações de professores não haviam conseguido enxergar. De que adiantaria nossa necessidade, para uma usina, quando os geradores paravam porque nossos motores não funcionavam direito? De que ela adiantaria para um paciente sendo operado, quando faltasse luz no hospital? De que ela adiantaria para os passageiros de um avião, quando os motores pifassem em pleno vôo? E se eles comprassem nossos produtos não por causa do seu valor, mas por causa de nossa necessidade, isso seria correto, bom, moralmente certo para o dono daquela usina, o cirurgião daquele hospital, o fabricante daquele avião?

Pois era esta a lei moral que os professores e líderes e pensadores queriam estabelecer por todo o mundo. Se era este o resultado quando ela era aplicada numa única cidadezinha onde todo mundo se conhecia, a senhora pode imaginar o que aconteceria em escala mundial? A senhora pode imaginar o que aconteceria se a senhora tivesse de viver e trabalhar afetada por todos os desastres e toda a malandragem do mundo? Trabalhar — e quando alguém cometesse um erro em algum lugar, a senhora é que teria de pagar. Trabalhar — sem jamais ter perspectivas de melhorar de vida, sendo que suas refeições, suas roupas, sua casa e seu prazer estariam à mercê de qualquer trapaça, de qualquer problema de fome ou de peste em qualquer parte do mundo. Trabalhar — sem nenhuma perspectiva de ganhar uma ração extra enquanto os cambojanos não tivessem sido alimentados e os patagônios não tivessem todos feito faculdade. Trabalhar — tendo cada criatura no mundo um cheque em branco na mão, gente que a senhora nunca vai conhecer, cujas necessidades a senhora jamais vai conhecer, cuja capacidade e preguiça e desleixo e desonestidade são coisas que a senhora jamais vai saber nem tem direito de questionar — enquanto as Ivys e os Geralds da vida resolvem quem vai consumir o esforço, os sonhos e os dias de sua vida. E é ESTA lei moral que se deve aceitar? ISTO é um ideal moral?

Olhe, nós tentamos — e aprendemos. Nossa agonia durou quatro anos, da nossa primeira assembléia à última, e acabou da única [p.517] maneira que podia acabar: com a falência. Na nossa última assembléia foi Ivy Starnes que tentou manter as aparências. Fez um discurso curto, vil e insolente, dizendo que o plano havia fracassado porque o resto do país não o havia aceitado, que uma única comunidade não poderia ter sucesso no meio de um mundo egoísta e ganancioso, e que o plano era um ideal nobre, mas que a natureza humana não era suficientemente boa para que ele desse certo.

Um rapaz — o mesmo que fora punido por dar uma boa idéia no primeiro ano — levantou-se, enquanto todos os outros permaneciam calados, e andou até Ivy Starnes no tablado. Não disse nada. Cuspiu na cara dela. Foi assim que acabaram o nobre plano e a Século Vinte.

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Este o texto da décima terceira página: uma Bibliografia sobre Ayn Rand:

Bibliografia

I. LIVROS DE AYN RAND

1. OBRAS DE FICÇÃO 

A. PRIMEIRAS TENTATIVAS

Russian Writings on Hollywood, editado por Michael S. Berliner (Escrito em 1925; Ayn Rand Institute Press, 1999)

The Early Ayn Rand: A Selection from Her Unpublished Fiction, editado por Leonard Peikoff (Escrito de 1926 a 1939; New American Library, New York, 1984; Signet, New York, 1986; Vol. II da Série The Ayn Rand Library)

Night of January 16 (Escrito em 1933; The World Publishing Company, New York, 1968; Signet, New York, 1971)

B. ROMANCES 

We The Living (Escrito em 1936; Macmillan, 1936; Random House, 1959; Signet, New York, 1966)

Anthem (Escrito em 1937; Cassell, 1938; Pamphleteers, 1946; Signet, New York, 1961)

The Fountainhead (Concluído em 1942; The Bobbs-Merrill Co., Chicago, IL, 1943; Signet, New York, 1952. Tradução para o português sob o título A Nascente, publicado por  )

Atlas Shrugged (Concluído em 1958; Random House, New York, 1957; Signet, New York, 1959. Tradução para o português sob o título Quem é John Galt? por Paulo Henriques Britto, publicado pelo Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1987)

2. ENSAIOS FILOSÓFICOS E CULTURAIS 

For the New Intellectual (Escrito em 1961; Random House, New York, 1961; Signet, New York, 1963)

The Virtue of Selfishness: A New Concept of Egoism (Escrito em 1963; Signet, New York, 1963. Tradução para o português sob o título A Virtude do Egoísmo por OnLine Assessoria em Idiomas, revisão de Winston Ling e Cândido Mendes Prunes, publicado pela Editora Ortiz e pelo Instituto de Estudos Empresariais, Porto Alegre, 1991)

Capitalism: The Unknown Ideal (Escrito em 1966; New American Library, 1966; Signet, New York, 1967)

Introduction to Objectivist Epistemology (Escrito em 1966-1967; 1ª edição, The Objectivist, New York, 1966-1967; New American Library, New York, 1979; 2ª edição, expandida, editada por Harry Binswanger e Leonard Peikoff, New American Library, New York, 1990)

The Romantic Manifesto: A Philosophy of Literature (World, 1969; Edição Revista: New American Library, New York, 1971)

The New Left: The Anti-Industrial Revolution (New American Library, New York, 1971; Edição Revista, 1975; Nova Edição, ampliada, sob o título Return of the Primitive: The Anti-Industrial Revolution, editada por Peter Schwartz, A Meridian Book, New York, 1999)

Philosophy: Who Needs It? Introdução de Leonard Peikoff (Bobbs-Merrill, 1982; Signet, New York, 1984; Vol. I da Série The Ayn Rand Library)

The Voice of Reason: Essays in Objectivist Thought, editado por Leonard Peikoff (New American Library, New York, 1988; Meridian, New York, 1990. Possivelmente este seja o Vol. III da Série The Ayn Rand Library, ao qual há pouca referência)

3. VOLUMES DE NEWSLETTERS

The Objectivist Newsletter, Volumes 1-4, 1962-1965 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1967, 1982)

The Objectivist, Volumes 5-10, 1966-1971 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1982)

The Ayn Rand Letter, Volumes I-IV, 1971-1976 (Palo Alto Book Service, Palo Alto, CA, 1979, 1982, 1984)

4. COLEÇÕES DE CARTAS, DIÁRIOS, ARTIGOS, MARGINALIA, ETC.

Letters of Ayn Rand, editado por Michael S. Berliner com Introdução de Leonard Peikoff (Escritas de 1926 a 1981; Dutton Book, New York, 1995; Plume, New York, 1997)

Journals of Ayn Rand, editado por David Harriman com Prefácio de Leonard Peikoff (Escritos de 1927 a 1977; Dutton Book, 1997; Plume, New York, 1999)

The Ayn Rand Column: A Collection of Her Weekly Newspaper Articles Written for the Los Angeles Times, com Introdução de Peter Schwarz (Escritos de 1944 a 1979; Second Renaissance Books, Oceanside, CA, 1991; Edição Revista e Ampliada, 1998)

Ayn Rand’s Marginalia: Her Critical Comments on the Writings of over 20 Authors, editado por Robert Mayhew (Escritas de 1945 a 1981; Second Renaissance Books, New Milford, CT, 1995)

Why Businessmen Need Philosophy, editado por Richard E. Ralston (Escritos em 1962-63; Ayn Rand Institute Press, 1999)

5. TRANSCRIÇÕES DE CURSOS 

The Art of Fiction: A Guide for Writers & Readers,editado por Tore Boeckmann com Introdução de Leonard Peikoff (Elaborado em 1958; Plume, New York, 2000)

Writing Nonfiction: Its Theory and Practice, editado por Robert Mayhew (Elaborado em 1969; Plume, New york, 2001)

6. EXCERTOS 

The Ayn Rand Lexikon: Objectivism from A to Z, editado por Harry Binswanger, com Introdução de Leonard Peikoff (New American Library, New York, 1986; Meridian, 1988; Vol. IV da Série The Ayn Rand Library)

The Ayn Rand Reader, editado por Gary Hull e Leonard Peikoff, com Introdução de Leonard Peikoff (Plume, New York, 1999)

[Ainda continuam a sair livros de Ayn Rand editados postumamente por The Ayn Rand Institute, apesar de já se passarem 19 anos de sua morte. Leonard Peikoff foi incumbido por Ayn Rand de cuidar de seus manuscritos não publicados e de toda sua herança intelectual]

II. ENTREVISTAS DE AYN RAND EM VÍDEO

Ayn Rand Interviewed by Tom Snyder. Entrevistador: Tom Snyder (28 minutos)

Ayn Rand Speaks for Herself. Entrevistador: James Day (30 minutos)

Donahue Interviews Ayn Rand and Milton Friedman. Entrevistador: Phil Donahue (98 minutos)

Mike Wallace Interviews Ayn Rand. Entrevistador: Mike Wallace (30 minutos)

III. FILMES BASEADOS EM LIVROS DE AYN RAND

We The Living, filmado clandestinamente na Itália durante a Segunda Guerra, direção de Goffredo Alessandrini, estrelando Rossano Brazzi, Alida Valli e Fosco Giachetti (duas fitas VHS).

The Fountainhead, produção de Henry Blanke, direção de King Vidor, roteiro de Ayn Rand, música de Max Steiner, estrelado por Gary Cooper e Patricia Neal, com a particiácão da Raymond Massey, Kent Smith, Robert Douglas, Henry Hull (em branco e preto, 1h49m de duração, Warner Brothers, 1949)

IV. FILME COM ROTEIRO DE AYN RAND

Love Letters, direção de William Dieterle, estrelando Joseph Cotton e Jennifer Jones (1945)

You Came Along,  direção de John Farrow, estrelando Robert Cummins, Lizabeth Scott, Don DeFore (1945)

The Fountainhead, direção de King Vidor, estrelando Gary Cooper e Patricia Neal (1949)

V. LIVROS SOBRE AYN RAND OU QUE APRESENTAM SUAS IDÉIAS 

Nathaniel Branden e Barbara Branden, Who Is Ayn Rand? (Random House, New York, 1962)

Jerome Tuccille, It Usually Begins with Ayn Rand (Stein & Day, 1971, Cobden Press, San Francisco, CA, 1984, Fox & Wilkes, San Francisco, CA, 1996 [Edição de 25º Aniversário])

Harry Binswanger, The Biological Basis of Teleological Concepts (The Ayn Rand Institute Press, Los Angeles, 1976, 1990)

William F. O’Neill, An Analysis of Ayn Rand’s Philosophy (Littlefield Adams, Totowa, NJ, 1977)

Mimi Reisel Gladstein, The Ayn Rand Companion (Greenwood Press, Westport e Londres, 1984)

David Kelley, The Evidence of the Senses: A Realist Theory of Perception (Louisianna State University, Baton Rouge e Londres, 1986)

David Kelley, “A Theory of Abstraction”, in Cognition and Brain Theory, 1984, 7 (3 & 4), pp.329-357 (publicado como separata por The Objectivist Center, Poughkeepsie, NY)

Douglas J. Den Uyl e Douglas B. Rasmussen, The Philosophic Thought of Ayn Rand (University of Illinois Press, Urbana e Chicago, 1986)

Barbara Branden, The Passion of Ayn Rand (Doubleday, New York, 1987)

James T. Baker, Ayn Rand (Twayne Publishers, Boston, 1987)

Nathaniel Branden, Judgment Day: My Years with Ayn Rand (Houghton Mifflin, Boston, 1989) (Reescrito, este livro apareceu com o título My Years with Ayn Rand em 1999 – vide abaixo)

David Kelley, The Contested Legacy of Ayn Rand: Truth and Toleration in Objectivism (The Objectivist Center, Poughkeepsie, NY, e Transaction Publishers, New Brunswick e Londres, 2000, segunda edição de Truth and Toleration, originalmente publicado privadamente pelo autor em 1990)

George H, Smith, Atheism, Ayn Rand and Other Heresies (Prometheus Books, Buffalo, NY, 1991)

Ronald E. Merrill, The Ideas of Ayn Rand (Open Court, La Salle, IL, 1991)

Leonard Peikoff, Objectivism: The Philosophy of Ayn Rand (A Dutton Book, Penguin Books, New York, 1991; traduzido para o português sob o título Objetivismo: A Filosofia de Ayn Rand por Beatriz Viégas-Faria, com revisão de Alberto Oliva, publicado por Ateneu Objetivista, Porto Alegre, 2000)

Chris Matthew Sciabarra, Ayn Rand: The Russian Radical (The Pennsylvania State University Press, University Park, PA, 1995)

David Kelley, Unrugged Individualism: The Selfish Basis of Benevolence (Institute for Objective Studies, Poughkeepsie, NY, 1996)

Peter F. Erickson. The Stance of Atlas: An Examination of the Philosophy of Ayn Rand (Herakles Press, Portland, OR, 1997)

Kenneth R. Livingston, Rationality and the Psychology of Abstraction (The Objectivist Center, Poughkeepsie, NY, 1998)

Michael Paxton, Ayn Rand: A Sense of Life – The Companion Book, livro publicado para acompanhar o Documentário de Longa Duração com o título Ayn Rand: A Sense of Life (Gibbs Smith, Layton, UT, 1998)

Nathaniel Branden, My Years with Ayn Rand (Jossey-Bass Publishers, San Francisco, 1999). [Este livro é uma reedição, completamente revista, alterada e atualizada, do livro Judgment Day: My Years with Ayn Rand de 1989 – vide acima]

Jeff Walker, The Ayn Rand Cult (Open Court, Chicago, IL, 1999)

Mimi Reisel Gladstein e Chris Matthew Sciabarra, eds., Feminist Interpretations of Ayn Rand: Re-reading the Canon (The Pennsylvania State University Press, University Park, PA, 1999)

Allan Gotthelf, Ayn Rand (Wadsworth Thomson Learning, Belmont, CA, 2000, na Série Wadsworth Philosophers)

Douglas Den Uyl, The Fountainhead: An American Novel (Twayne Publishers, New York, 2000, na Série Twayne’s MasterWorks Studies)

Louis Torres e Michelle Marder Kamhi, What Art Is: The Esthetic Theory of Ayn Rand (Open Court, Chicago e La Salle, IL, 2000)

Mimi Reisel Gladstein, Atlas Shrugged: Manifesto of the Mind (Twayne Publishers, New York, 2000, na Série Twayne’s MasterWorks Studies)

Roderick T. Long, Reason and Value: Aristotle versus Rand (2000)

Tara Smith, Viable Values: A Study of Life as the Root and Reward of Morality (Rowman & Littlefield Publishers, New York e Oxford, 2000)

William R. Thomas e David Kelley, The Logical Structure of Objectivism (The Objectivist Center, Poughkeepsie, NY, 2001)

Alexandra York, From the Fountainhead to the Future: And Other Essays on Art and Excellence ()

David Kelley e Stephen Cox, The Fountainhead – 50th Anniversary Celebration ( )

Mimi Reisel Gladstein, The New Ayn Rand Companion ( )

Tibor R. Machan, Ayn Rand ( )

VI. FILME SOBRE AYN RAND 

Ayn Rand: A Sense of Life, Documentário de Longa Duração indicado para o Oscar de 1998, produção de Image Entertainment, direção de Michael Paxton, estrelando Sharon Glass, em VHS e DVD (duração: 2h23m). [Cf. o livro, mencionado acima, Michael Paxton, Ayn Rand: A Sense of Life – The Companion Book, publicado para acompanhar o filme (Gibbs Smith, Layton, UT, 1998)] [Vide também o site http://www.asenseoflife.com]

Todos estes livros, vídeos e filmes podem ser adquiridos no site de The Objectivist Center (anteriormente Institute of Objectivist Studies), http://www.objectivistcenter.org ou http://www.ios.org).

Ou, caso prefira, você pode adquiri-los de Laissez Faire Books. Basta clicar no banner.

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Este o texto da décima quarta página: uma Centros de Estudo sobre a obra de Ayn Rand:

Centros de Estudo

Há, basicamente, três Centros de Estudo das idéias de Ayn Rand hoje nos Estados Unidos:

The Ayn Rand Institute (http://www.aynrand.com  e http://www.aynrand.org), coordenado por Leonard Peikoff, testamenteiro oficial de Ayn Rand. Esse centro representa uma visão “ortodoxa” das idéias do Objetivismo.

The Objectivist Center (http://www.objectivistcenter.org/), anteriormente conhecido como Institute for Objectivist Studies, dirigido por David Kelley. Este centro representa uma visão mais aberta e sensata das idéias do Objetivismo]

The Ayn Rand Society (http://www.aynrandsociety.org), grupo de interesse oficial sobre Ayn Rand na American Philosophical Association (APA)

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Este o texto da décima quinta página: Objetivistas Brasileiros:

Objetivistas Brasileiros

Há poucos objetivistas brasileiros conhecidos.

Se você é objetivista ou simpatizante, e gostaria de ver seu nome e endereço listado aqui, por favor escreva para Eduardo Chaves (endereço abaixo).

Eduardo Chaves
Professor de Filosofia na Faculdade de Educação da UNICAMP

Telefones
Fixo: (19) 3254-2100
Celular: (19) 9121-1234
Fax: (19) 3294-7101

E-Mails 
eduardo@chaves.com.br
chaves@aynrand.com.br

Portal de Sites
chaves.com.br

Correspondência Convencional
Caixa Postal 5631
13095-990 Campinas, SP

André Paulino de Lima
Consultor em Tecnologia da Informação

Telefones
Fixo: (11) 5181-3814
Celular: (61) 923-4564

E-Mail
andre_lima@hotmail.com

[E-mail enviado em 26/2/2003]

Geraldo Boz Junior
Engenheiro

E-mail
gbozjr@yahoo.com.br

Site
http://geocities.yahoo.com.br/objetivismobr/

[E-mail enviado em 6/5/2004]

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Este o texto da décima sexta página: Links Importantes:

Links de Interesse

I. Links Diretamente Relacionados com Ayn Rand e Objetivismo: 

The Objectivist Center (http://www.objectivistcenter.org/) [anteriormente conhecido como Institute for Objectivist Studies, dirigido por David Kelley, apresenta a visão mais sensata das idéias do Objetivismo]

The Ayn Rand Institute (http://www.aynrand.com  e http://www.aynrand.org) [elaborado sob a coordenação de Leonard Peikoff, testamenteiro oficial de Ayn Rand, o site apresenta uma visão “ortodoxa” das idéias do Objetivismo]

The Ayn Rand Society (http://www.aynrandsociety.org) [grupo de interesse oficial sobre Ayn Rand da American Philosophical Association (APA)]

The Ayn Rand Society at the College of New Jersey (http://www.trenton.edu/~aynrand/) [bom site sobre Ayn Rand que ramifica em várias outras fontes de informação relevantes ao assunto]

The Journal of Ayn Rand Studies (http://www.aynrandstudies.com) [periódico dedicado ao estudo das idéias de Ayn Rand]

Objective Education (http://www.objectiveeducation.com/) [site voltado para a discussão da educação objetivista: a finalidade da educação é capacitar a criança a se tornar um adulto independente]

New Romanticism.com (http://www.newromanticist.com/) [site dedicado à discussão da arte objetivista: a arte como ela deve ser]

ObjectivismTODAY.com (http://www.objectivismtoday.com/) [site voltado para a discussão de assuntos gerais a partir de uma perspectiva objetivista]

The Daily Objectivist (http://www.dailyobjectivist.com) [revista eletrônica voltada para a aplicação das idéias de Ayn Rand a problemas da vida diária]

Ayn Rand: A Sense of Life (http://www.asenseoflife.com) [site de um documentário sobre Ayn Rand indicado em 1997 para o Oscar na categoria de Documentário de Longa Duração]

Sense of Life Objectivists Headquarters – SOLO HQ (http://solohq.com/) [portal objetivista]

Journals of Ayn Rand (http://www.capitalism.org/journals/) [site do livro]

WeTheLiving.com (http://www.WeTheLiving.com) [site com endereços de várias listas de discussão sobre Ayn Rand e Objetivismo]

Objectivism and Ayn Rand (http://www.vix.com/objectivism) [comunidade Virtual de Paul Szpunar et alii sobre objetivismo]

Full Context (http://www.fullcontext.org) [newsletter mensal com entrevistas de objetivistas]

The Intellectual Activist: An Objectivist Review (http://www.intellectualactivist.com/) [Robert W. Stubblefield e Robert W. Tracinski, Editores]

The WWW Guide to Philosophy: The Integrating Science 
(http://www.thephilosophyguide.com/) [Este site apresenta a filosofia a partir de uma perspectiva objetivista]

The Turner Classic Movies Site on “The Fountainhead” -TCM By the Book / Educators’ Forum (http://www.turnerclassicmovies.com/by_the_book/fountain.htm) [material interessante sobre como usar The Fountainhead, o livro e o filme, em sala de aula]

The Andrew Lewis Show (http://www.alshow.com/) [As idéias de Ayn Rand com Andre Lewis no rádio]

The Objectivist Forum (http://www.capitalism.org/tof/) [editado por Harry Binswanger e Leonard Peikoff]

Leonard Peikoff: Philosopher of Objectivism (http://www.peikoff.com)

Leonard Peikoff’s Objectivism: The Philosophy of Ayn Rand (http://www.peikoff.com/opar/index.htm)

Principal Source (http://www.objectivistcenter.org/psource/) [serviço de venda de livros e outros materiais relacionados a Ayn Rand, ligado a The Objectivist Center]

Second Renaissance (http://www.rationalmind.com) [serviço de venda de livros e outros materiais relacionados a Ayn Rand, ligado a The Ayn Rand Institute]

The Ayn Rand Bookstore (http://aynrandbookstore.com/)  [Serviço ligado ao Capitalism Magazine.com. A seleção mais completa de escritos e palestras de Ayn Rand]

The Ayn Rand & Objectivism Bookstore (http://www.ronholland.com/bookstores/lib-bkstore/aynrand.htm) [serviço ligato a Ron Holland’s Libertarian Bookstore].

II.  Links Relacionados com Entidades e Pessoas que Defendem o Liberalismo:

1. No Brasil:

Instituto Liberal do Rio de Janeiro (http://www.institutoliberal.org.br/)

Instituto Liberal do Rio Grande do Sul (http://www.il-rs.com.br)

Instituto de Estudos Empresariais do Rio Grande do Sul (http://www.iee.com.br/)

2. Fora do Brasil:

Ludwig von Mises Institute (http://www.mises.org). Esse site dá acesso aos seguintes livros on-line de von Mises:

Human Action
Liberalism
Socialism
Economic Freedom and Interventionism
Theory and History
Epistemological Problems of Economics
Nation, State and Economy
The Ultimate Foundation of Economic Science
Money, Method and the Market Process
The Theory of Money and Credit

The Hayek Society (http://www.lse.ac.uk/clubs/hayek/)

Capitalism.org: The Unknown Ideal (http://www.capitalism.org)

Capitalism.com: Dedicated to the Principled Pursuit of Wealth (http://www.capitalism.com)

Capitalism Magazine.com: In Defense of Individual Rights

(http://www.capitalismmagazine.com/)

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Este o texto da décima sétima (e última) página: Contatos

Contatos

Este site é de inteira responsabilidade de Eduardo Chaves, filósofo (Filosofia Política, Filosofia da Educação, Teoria do Conhecimento, Metafísica) na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP.

Para contato com Eduardo Chaves, use:

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Transcrito em Salto, 7-8 de Junho de 2016

Site Antigo – Contatos (17)

Este o texto da décima sétima (e última) página: Contatos Contatos Este site é de inteira responsabilidade de Eduardo Chaves, filósofo (Filosofia Política, Filosofia da Educação, Teoria do Conhecimento, Metafísica) na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP. Para contato com Eduardo Chaves, use: Telefone Fixo: (19) 3254-2100 Telefone Celular: (19) 9121-1234 Fax: (19) 3294-7101 […]

Site Antigo – Links de Interesse (16)

Este o texto da décima sexta página: Links Importantes: Links de Interesse I. Links Diretamente Relacionados com Ayn Rand e Objetivismo:  The Objectivist Center (http://www.objectivistcenter.org/) [anteriormente conhecido como Institute for Objectivist Studies, dirigido por David Kelley, apresenta a visão mais sensata das idéias do Objetivismo] The Ayn Rand Institute (http://www.aynrand.com  e http://www.aynrand.org) [elaborado sob a coordenação de Leonard […]

Site Antigo – Objetivistas Brasileiros (15)

Este o texto da décima quinta página: Objetivistas Brasileiros: Objetivistas Brasileiros Há poucos objetivistas brasileiros conhecidos. Se você é objetivista ou simpatizante, e gostaria de ver seu nome e endereço listado aqui, por favor escreva para Eduardo Chaves (endereço abaixo). Eduardo Chaves Professor de Filosofia na Faculdade de Educação da UNICAMP Telefones Fixo: (19) 3254-2100 […]

Site Antigo – Bibliografia (13)

Este o texto da décima terceira página: uma Bibliografia sobre Ayn Rand: Bibliografia I. LIVROS DE AYN RAND 1. OBRAS DE FICÇÃO  A. PRIMEIRAS TENTATIVAS Russian Writings on Hollywood, editado por Michael S. Berliner (Escrito em 1925; Ayn Rand Institute Press, 1999) The Early Ayn Rand: A Selection from Her Unpublished Fiction, editado por Leonard […]

Site Antigo – Trechos (12)

Este o texto da décima segunda página, as Trechos da Obra de Ayn Rand: Trechos da Obra Segue abaixo um trecho memorável de uma obra em que Ayn Rand mostra, de forma extremamente convincente, a inviabilidade de uma sociedade baseada no princípio marxista “De cada um, conforme sua capacidade, para cada um, conforme sua necessidade”. […]

Site Antigo – Filmografia (11)

Este o texto da décima primeira página, a Filmografia de Ayn Rand: Filmografia 1. FILMES BASEADOS EM LIVROS DE AYN RAND We the Living (Drama, 1942-43) Filmado clandestinamente na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Título Original: Noi Vivi Direção: Goffredo Alessandrini Atores Principais: Rossano Brazzi Alida Valli Fosco Giachetti Disponível em VHS (duas fitas) Sinopse […]